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Sugar blues

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Estava eu em meu contemplativo sábado sem criança em casa, quando fui subitamente transportada por um vagalhão de decibéis diretamente para dentro de uma festinha infantil na vizinhança. É bem verdade que mal se ouviam os moleques, subjugados em sua natural algazarra pelos superpoderes de um amplificador turbinado. O (des)animador comandava a tropa com punhos de aço, propagando a todo o bairro os nominhos dos insubmissos em reprimendas, enquanto premiava os obedientes com balinhas. Como golfinhos de aquário quando batem palmas na hora certa. E tome música aos berros pra que não possam escutar nem seus pequenos pensamentos. Com tanto refrigerante nas veias, as crianças ficam mesmo excitadas e executam com impressionante agilidade as estranhas coreografias ao som de “vai, lacraia”(!), sem falar nas sado-olimpíadas a que são submetidas para ganhar mais doses de pirulitos e porcarias plásticas. (Sempre penso que daqui a milhões de anos, quando algum cyber-arqueólogo desencavar nossa estranha civilização, nossa sociedade será analisada através destes indegradáveis brinquedinhos que infestam os quartos infantis de todo o mundo. Como todo achado arqueológico inexplicável é sempre classificado como “um objeto ritualístico”, que espécie de impressão havemos de causar, com nosso panteão pokemônico?) Mas voltando às criancinhas glicosadas. Ainda que involutariamente, acompanho enquanto cumprem seu deprimente roteiro e, em momento estratégico – pouco antes do fim – são levadas à overdose glicêmica com o bolo e os docinhos. Nocaute. É o ciclo de todas as drogas: prazer crescente, pico do efeito mas, se exagerar, vem o tombo. Aí é o inferno, e temos a famosa depressão-pós (com trocadilho). Quem já foi, sabe como terminam as festas infantis. As crianças ficam chatas, sentem sono, se engalfinham, um que ainda não caiu duro corre demais e se machuca, bolas estouram assustando os menorzinhos, que choram muito. Hora de acabar. Os drogadictos-mirins são carregados nos ombros por pais tolerantes. Coniventes, porque também encheram a cara de brigadeiro.
Graças a Deus já acabou a festinha, mas ainda estou meio surda. Vou lá na cozinha comer um tasco de pudim, que de amarga é que eu não morro.

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