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Monthly Archive for April, 2013

a roda

  não há via certa toda reta torce o rabo   nada permanece tudo desce e sobe e eu não paro   cá onde me acabo outra orbe me completa   como o par de aros dessa bicicleta      

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uma borboleta para chuang tzu

  vista de perto não estou bem certa se existo   vista desperta não sei ao certo quem sonha   visto uma fronha no meu recheio disperso   um olho risonho me avista do meio do verso      

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o relicário

  faço listas de afazeres deixo pistas enganosas o ensejo de uma prosa maus escritos de meu punho desdizeres desconexos interditos   mais protejo meus rascunhos que meu sexo            

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o plâncton

  nada procuro nágua flutuo ilha   alga que brilha na superfície do escuro fluo   supérflua maravilha flor de flúor              

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a dama

  duas damas na janela uma é enorme outra é meia ostra e metade sereia (ouço a voz dela)   uma é mar outra é areia uma só dorme outra vela uma se inflama outra gela o sangue na veia   pois eu sou essa e aquela a moça bela e a feia as faces […]

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o telhado

  o céu é bonito mas não acaba nas linhas da aba do meu chapéu   o infinito desaba nas telhas sobre as minhas sobrancelhas      

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o náufrago

  mensagem numa garrafa: quem me dera um saca-rolha que liberte a minha folha deste vidro que me abafa   quem me dera a maresia já houvera corroído a carta do mar perdido onde inda exista a poesia   cada vista é uma janela e o filme do mar revela que o sol ilha mais […]

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o santo

  pelos dedos teus deus se fez carícia   e se o amor não existe que seja um delírio triste   o teu medo em riste em plena delícia e martírio      

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a fome

  sofro de ausência essa ardência no âmago esse estômago oco   no meio de um soco      

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a traineira

  velha barcaça   deixe estar todo peixe um dia passa        

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a flecha

  meu poema não tem santo nem pajé que quebre o encanto do meu canto de iracema   não tem cacique que pare minha pena > uma seta de curare em sua reta      

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ponte da saudade

  saudade é uma ponte entre a ilha e o horizonte   longe de mim   na praia a canoa sem quilha com o nome na proa   marfim          

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o epitáfio

  pensando morreu um burro cantando morreu um bardo ¨já vou tarde desse mundo”   seguro morreu de velho zurrando morreu um soldado e no silêncio, um surdo   janis morreu de overdose da língua morreu o freud e o leminski de cirrose   até buda teve um bode morrer não é nenhum absurdo cristo […]

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o portulano

  em bom espanhol “la mar” é uma mulher e eu acho que eles têm lá sua razão   nenhum macho vai tão alto e baixo numa só onda   não há um homem que esconda tanto pesar em seu fundo   ou que abrigue um mundo tão rico e diverso e abissal por entre as dobras dos […]

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a ametista

  entre o verso e a frente de uma ideia assaz violenta   há de haver um recheio uma massa cinzenta   um caminho do meio entre o norte e o sul da coreia   entre o azul e o vermelho um roxo batata quase lilás violeta   um golpe de paz que arrebata o […]

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o lar

  diz a lenda que ao sul da ilha tem uma casa da cor do céu azul zinho   com nuvens esparsas   é lá que as garças cinzentas fazem ninho quando venta   e inventam asas      

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a oliveira

  do meio do monte vejo o vasto horizonte de que me afasto   subo à fonte o cálice cheio de mágoa e deleite   não há água que azeite tanta lástima   então eu rio   ;   à noite o ar frio decanta a mistura depura   uma lágrima furtiva se esquiva dos seus olhos […]

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a miragem

  a lua cheia tinge de bege a baía de guanabara   um mar de areia um saara   neblina esfinge o morro da urca como uma burca      

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o esplendor

  depois do raio o estouro depois da chuva a bonança depois do choro a alegria ; quando estia o sol transforma em ouro as águas de chumbo da baía    

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o celacanto

  zarpo do cais na última nau   nada de mau me abala mais o íntimo   me embala um ritmo que a noite entorna marítima   no céu incendeia um balão em forma de baleia      

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