lá onde o tempo começa
nenhuma lembrança
do mal
nem promessa
de um bem
é bom
;
só o som
do sol
me atravessa
como um trem
.
Feb 19th, 2021 by Christiana Nóvoa
lá onde o tempo começa
nenhuma lembrança
do mal
nem promessa
de um bem
é bom
;
só o som
do sol
me atravessa
como um trem
.
Jan 19th, 2021 by Christiana Nóvoa
envelheço
:
com a idade
tudo muda de
figura
,
a linha
da vida
da mão que
me inscreve
,
que me costura
em mim
;
em minha
lembrança
recém-nascida
sou criança
,
me esqueço
que a juventude
é breve
a velhice dura
–
até o fim
.
Jan 14th, 2021 by Christiana Nóvoa
bom dia meu mundo
hoje é o trocentésimo
enésimo segundo
dia da marmota
,
permaneço ilesa
sem passar da porta
,
mais um dia presa
,
cada vez mais morta
.
Jan 12th, 2021 by Christiana Nóvoa
o capital estrangeiro
ama o povo
brasileiro
,
nosso solo nosso clima
samba suor
e cerveja
,
e pra mostrar sua estima
nos corteja
como um lorde
:
não ford
nem sai de cima
.
Jan 6th, 2021 by Christiana Nóvoa
eis
que é reis
o que quereis
?
receio que por aqui
quiçá não mais
reinareis
,
rei
que erra
reitera
rei que perde
a majestade
rei que ruge
rei covarde
rei de roma
rei que arma
rei de espadas
de facadas
rei que uiva
rei que ladra
cedo ou tarde
cai no sono
perde um lance
perde o encanto
perde a guerra
perde o trono
dorme santo
acorda
ex
.
.
Dec 21st, 2020 by Christiana Nóvoa
ai quem me dera
encarnar na quimera
de aquário
,
monstro auto-imaginário
besta-fera do ar
tifício
,
mulher de areia
respira água e toma fogo
na veia
,
mata o rei e vira o jogo
,
nasce feia
como é feio todo início
e morre linda
,
como a tarde
quando finda
,
como o pôr de marte
no solstício
.
Sep 9th, 2020 by Christiana Nóvoa
dias duros de plutônio
minério bruto
estrela fria
,
pandemia do demônio
pandemônio
do juízo
paraíso da pluto
cracia
,
purgatório da história
crematório da ciência
pandemência coletiva
,
terra plana da falácia
à margem flácida
do asfalto
,
faca cega da calúnia
abrindo o ato
do palhaço
no palácio
do planalto
.
e o amor
pequeno e magro
,
o veneno furta-cor comeu meu agro
mas a petúnia
Jul 4th, 2020 by Christiana Nóvoa
os indecentes
do leblon
que quadro lindo
belos rostos
sorridentes
cuspindo
seus perdigotos
sobre o garçom
.
caras barbudas
desnudas
na pista
caras-pálidas
peludas
peladas
pelas calçadas
beldades
des-mascaradas
faces nuas
em sua maldade
egoísta
.
gente esquisita
povo do mal
moderno
que fervilha
pelas ruas
mais bonitas
da cidade
maravilha
sucursal
do inferno
.
.
.
Jan 10th, 2020 by Christiana Nóvoa
a arca não é
de noé
,
é de cada bicho
um pouco
;
o mar é
de cada peixe
,
a nau é
de cada louco
;
o mundo não é
dos eua
,
a lua não é
da nasa
,
a nave é
de cada e.t.
que telefona pra casa
;
o brasil não
é do bozo
,
as mina não são
dos cara
;
a barca, irmão
é do povo
da baía de guanabara
.
Sep 1st, 2019 by Christiana Nóvoa
,
que nessa vida
tudo passa
menos isso
,
essa batida
desde o início
esse gongo
:
o passado
é um vulto
não tem volta
,
o futuro
é uma promessa
não se alcança
;
só mesmo o mar
do longo agora
nunca cessa
sua dança
,
Jul 31st, 2019 by Christiana Nóvoa
penso que o invisível
é denso e flexível
como uma rolha
.
que o vazio é imenso
como é vasto o verso
de uma folha
.
que o universo é vivo
como é viva a bolha
quando explode
.
li que a terra é oca
como o céu da boca
é lindo quando morde
.
penso numa audácia
que no fim do túnel
eu nasço galáxia
.
sei que o sonho é um treino
onde afogo o medo
num mar de mentira
.
sei que o ser é vário
como é vago um reino
imaginário
.
que o arbítrio é livre
como o fim de um livro
nunca escrito
.
o infinito expira
à tarde ou mais cedo
não importa o rito
.
penso numa aposta
que ao fim deste enredo
terminarei morta
.
Jul 17th, 2019 by Christiana Nóvoa
,
desconfio de quem sabe
traz certezas
diz verdades
,
desconfio dos covardes
dos convictos
dos sofistas
,
desconfio de quem cita
nomes números
estatísticas
,
diz que leu mas não escuta
não se enxerga
não medita
,
desconfio dos honestos
dos carolas
beneméritos
,
desconfio do presente
do futuro
do pretérito
,
desconfio da memória
da história
mal contada
,
desconfio da facada
apolo 11
paul mccartney
,
só confio em minha mãe
em meu filho
e bob marley
.
May 21st, 2019 by Christiana Nóvoa
,
sucumbo aos demônios
ao fosso sem fundo
dos neurônios
,
sucumbo ao jornal
o mundo tão mal
tão bonito
,
sucumbo ao bendito
cansaço
da idade
,
sucumbo à inutil-
idade
do poema
,
sucumbo ao sistema
nervoso
simpático
,
sucumbo ao estado
civil
antidemocrático
,
sucumbo ao buraco
negro
da galáxia
,
sucumbo à vitória
do malogro
da falácia
,
sucumbo à despesa
ao assombro
dos boletos
,
sucumbo ao peso
dos ombros
sobre o esqueleto
,
sucumbo à onda
que cobre minha casa
meu nome
,
sucumbo à sombra
à cinza que sobra
de uma hecatombe
.
Apr 15th, 2019 by Christiana Nóvoa
saturno anda brabo
com sangue nos olhos
com fogo no rabo
rubro do dragão
com a faca no dente
plutônio na mente
espada na cinta
gilete na mão
(bãobalalão
senhor capitão)
com marte na ideia
com a morte na sombra
com um corte na fronte
com a sorte na mão
nem júpiter salva
nossa-dama dalva
da hermética chama
dessa escuridão
(bãobalalão
senhor capitão)
Jan 25th, 2019 by Christiana Nóvoa
o país na lama
o diabo gosta
o mercado ama
a bolsa aposta
;
bolsa de bosta
.
Dec 23rd, 2018 by Christiana Nóvoa
a
grade
cimento
ao sol
stício
por.to
do início
.
Dec 20th, 2018 by Christiana Nóvoa
,
me mima
me vê menina
me espêlha me encara
me escaravélha
;
minha mãe me ensina
a ficar velha
.
Nov 7th, 2018 by Christiana Nóvoa
“memento mori”
lembre que morre
(todo momento)
.
diga: eu vou. mo.rrer.
.
hoje é mais um pobre
ontem foi seu pai
amanhã você
.
antes de julgar
quem quer dar o cu
ou fazer aborto
,
se pergunte o que
você vai fazer
sem seu corpo morto
?
sem seu falo um trapo
sua língua de sapo
sua arcada dentária
.
sem seus empregados
seus bancos de dados
sem conta bancária
.
só depois me diga
:
que sabe da vida
quem nunca morreu
?
(ao fim tudo passa
e antes que o sol nasça
também morro eu)
Sep 15th, 2018 by Christiana Nóvoa
vai, malandra
;
na cama, leoa
na sala, mandra
.
Sep 4th, 2018 by Christiana Nóvoa
Aug 15th, 2018 by Christiana Nóvoa
dormir é um ato político
um auto-exílio hipnótico
manifesto antropo-lírico
contra a prisão dos relógios
ilusão, surto narcótico
delírio hipnagógico
meu anti-artefato bélico
rito mágico secreto
retro-projetor onírico
inutensílio profético
retratando a inexistência
dos tais sujeitos e objetos
filmando a desimportância
do meu teatro de afetos
meus amores, medos, ódios
tudo o que parece vívido
talvez não seja mais sólido
que o metafísico espectro
de dez mil caleidoscópios
.
May 25th, 2018 by Christiana Nóvoa
tudo greve
nada grave
não tem barca
vou a remo
não tem diesel
temos bike
não tem deus
rezo pro demo
perco um amor
ganho um like
.
Apr 28th, 2018 by Christiana Nóvoa
a rua DORME
cozinha em ORDEM
sozinha eu MEDRO
a lua MORDE
,
Apr 5th, 2018 by Christiana Nóvoa
lamento que gozes
do afã doentio
dos algozes
do gozo violento
do gentio
num linchamento
da fé malfazeja
da mão
que apedreja
da injustiça cega
da multidão
que ainda prega
um homem na cruz
que só atiça
a fome
de carniça
dos urubus
e dos patos
…
não use o nome
de jesus
pra ser pilatos
.
Dec 14th, 2017 by Christiana Nóvoa
+ –
â nodo
cá todo
eu tudo
ele trodo
cor rente
conti nua
alter nada
ta tua
na gente
ser pente
céu rasga
or gasma
fico vesga
fico plasma
ab surdo
sinto muito
eu surto
te curto
circuito
– +
Dec 14th, 2017 by Christiana Nóvoa
Sep 24th, 2017 by Christiana Nóvoa
minha história
se demora
no relógio do longo
agora
;
mecanismo sem refúgio
onde cismo
como um gongo
o tempo inteiro
;
sem ponteiro
sem hora
sem saída
;
não há vida
lá fora
.
Jul 6th, 2017 by Christiana Nóvoa
a ilha me molha
alhures alguém me olha
além do arco-íris
Jun 20th, 2017 by Christiana Nóvoa
solstício de inverno
:
ser sol no frio é difícil
,
nascer é eterno
.
Mar 7th, 2017 by Christiana Nóvoa
tenho estado
tão só
lida
.
Mar 7th, 2017 by Christiana Nóvoa
decerto
sede
excede
nome
fome
papo
reto
objeto
homem
some
longe
esperto
come
quieto
.
.
Feb 21st, 2017 by Christiana Nóvoa
lição do demo:
demo
lição
Feb 21st, 2017 by Christiana Nóvoa
meu pecado
é a preguiça
de ir à missa
nesse templo
de acordar
dia atroz dia
nesse tempo
sem poesia
a história
nesse passado
obscuro
nesse agora
sem futuro
a que voltar
,
até quando
essa miséria
até quando
?
nós boiando
num ponto ao sul
desse bólido
nesse estado azul
e sólido
da matéria
Dec 13th, 2016 by Christiana Nóvoa
,
sinto em mim as dores
das poetas mortas
seus amores tristes
seus caminhos vãos
,
vejo em outras mãos
agora tão minhas
suas vidas linhas
mal-traçadas tortas
,
e as formas tão certas
da sua poesia
companhia assídua
das noites desertas
,
página vazia
artérias abertas
em árdua sangria
,
a guerra perdida
e o gozo perverso
de um verso suicida
–
Oct 11th, 2016 by Christiana Nóvoa
se disséssemos quanto
pelo não dito
se fizéssemos muito
pelo não feito
se soubéssemos tudo
,
qual seria o futuro
do nosso pretérito
imperfeito
?
Oct 10th, 2016 by Christiana Nóvoa
numa velha foto minha
me vi de dentro
pra fora
com os olhos que eu tinha
,
vocês de agora
me contem
:
quanto tempo
ainda demora
pra ontem
?
Sep 20th, 2016 by Christiana Nóvoa
não sou eu que falo
a língua
é a língua
que me lambe
lambe as letras
do meu nome
lambe o leite
em minhas tetas
lambe o sangue
da ferida
lambe a vida
que é tão pouca
que não cabe em minha boca
lambe a carne
lambe a fome
lambe o falo
que me come
lambe o mundo
antes que acabe
só a língua
aqui me sabe
quando eu calo
.
Sep 18th, 2016 by Christiana Nóvoa
,
o omisso
nunca confessa
se prefere isso
ou essa
,
não diz não nem sim
faz graça
disfarça que tá
com pressa
,
te serve um chá
de sumiço
casa e muda
de endereço
só pra não pagar
o preço
,
o omisso sempre sai
cedo
,
o omisso já vai
tarde
,
no fundo o omisso
é covarde
se enverga
morre de medo
por isso não corre
o risco
,
se enxerga
alguma injustiça
o omisso
nem se coça
pra não se indispor
com os ricos
,
se ganha o amor
de uma moça
não assume
compromisso
não morde
nem solta o osso
,
que preguiça
desse moço
,
o omisso
é meio insosso
.
Sep 8th, 2016 by Christiana Nóvoa
,
no precipício era o verso
o universo estava vazio
de deus
ninguém se ouvia
morreu.
e o verbo que não poesia
fazia frio
mas era eu
.
Sep 2nd, 2016 by Christiana Nóvoa
é golpe sim porque é baixo
golpe macho golpe sujo
indireto de direita
é golpe que desrespeita
os votos da maior parte
em favor do dito cujo
é golpe porque é covarde
é gás no olho que arde
é cassetete na nuca
é golpe porque machuca
Aug 27th, 2016 by Christiana Nóvoa
falar diz farsa …
como(ver dá de) graça,
o ho(mem tira
.
Aug 22nd, 2016 by Christiana Nóvoa
pra matar um grande amor
é preciso ser pequeno
e estreito
como um punhal
,
feito de aço e veneno
feito de pele e de ossos
de gozo e vício
,
pra golpear sem remorso
o mesmo peito
onde existe
,
como um deus cruel que assiste
ao seu próprio ritual
de sacrifício
Aug 17th, 2016 by Christiana Nóvoa
morrer é um estado
mudo
um descansaço
de tudo
,
o peso suspenso
num mundo imenso
e vazio
,
o tempo ancorado
no fundo macio
do espaço
.
Jul 5th, 2016 by Christiana Nóvoa
o relógio
enrosca o tempo
com desvelo
como fosse um novelo
de algodão doce
estica um fio
de cada pêlo
difuso
como o fuso
de uma roca
,
não nasci pra ser fiapo
nesse pano
um dia escapo
deste plano
num buraco
de minhoca
Jun 21st, 2016 by Christiana Nóvoa
o sonho é um filme disperso
sem continuísta
ao sair desta sala
não diga jamais
hasta la vista
quem vos fala
nunca mais será vista
no universo
talvez este verso
também não exista
May 21st, 2016 by Christiana Nóvoa
vazio
é meu nome
minha fome é um rio
que nasce em você
e corre pra trás
;
lembrar é morrer
nesse leito frio
por uma vez mais
May 3rd, 2016 by Christiana Nóvoa
no seu plano um certo atraso
no meu trajeto um engano
descaminhos
(e a sombra do sol se dobra
sobre o oceano
que arde)
antes tarde que sozinhos.
o poente estende o prazo
poesia é o tempo que sobra
,
a gente se encontra por obra
do ocaso
Apr 25th, 2016 by Christiana Nóvoa
a garça aprecia
a luz desse dia que passa
sem pressa ou lamento
seu pensamento atravessa
de vento a espessa fumaça
da refinaria
Apr 20th, 2016 by Christiana Nóvoa
no mundo
e nas minhas pregas
,
acima e embaixo
:
regras
Mar 31st, 2016 by Christiana Nóvoa
meço com o canto do olho
a cor do vazio
no espelho
,
recolho um reflexo frio
:
desvio
para o vermelho