Sep 18th, 2016 by Christiana Nóvoa
,
o omisso
nunca confessa
se prefere isso
ou essa
,
não diz não nem sim
faz graça
disfarça que tá
com pressa
,
te serve um chá
de sumiço
casa e muda
de endereço
só pra não pagar
o preço
,
o omisso sempre sai
cedo
,
o omisso já vai
tarde
,
no fundo o omisso
é covarde
se enverga
morre de medo
por isso não corre
o risco
,
se enxerga
alguma injustiça
o omisso
nem se coça
pra não se indispor
com os ricos
,
se ganha o amor
de uma moça
não assume
compromisso
não morde
nem solta o osso
,
que preguiça
desse moço
,
o omisso
é meio insosso
.
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Sep 8th, 2016 by Christiana Nóvoa
,
no precipício era o verso
o universo estava vazio
de deus
ninguém se ouvia
morreu.
e o verbo que não poesia
fazia frio
mas era eu
.
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Sep 2nd, 2016 by Christiana Nóvoa
é golpe sim porque é baixo
golpe macho golpe sujo
indireto de direita
é golpe que desrespeita
os votos da maior parte
em favor do dito cujo
é golpe porque é covarde
é gás no olho que arde
é cassetete na nuca
é golpe porque machuca
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Aug 22nd, 2016 by Christiana Nóvoa
pra matar um grande amor
é preciso ser pequeno
e estreito
como um punhal
,
feito de aço e veneno
feito de pele e de ossos
de gozo e vício
,
pra golpear sem remorso
o mesmo peito
onde existe
,
como um deus cruel que assiste
ao seu próprio ritual
de sacrifício
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Aug 17th, 2016 by Christiana Nóvoa
morrer é um estado
mudo
um descansaço
de tudo
,
o peso suspenso
num mundo imenso
e vazio
,
o tempo ancorado
no fundo macio
do espaço
.
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Jul 5th, 2016 by Christiana Nóvoa
o relógio
enrosca o tempo
com desvelo
como fosse um novelo
de algodão doce
estica um fio
de cada pêlo
difuso
como o fuso
de uma roca
,
não nasci pra ser fiapo
nesse pano
um dia escapo
deste plano
num buraco
de minhoca
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Jun 21st, 2016 by Christiana Nóvoa
o sonho é um filme disperso
sem continuísta
ao sair desta sala
não diga jamais
hasta la vista
quem vos fala
nunca mais será vista
no universo
talvez este verso
também não exista
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May 21st, 2016 by Christiana Nóvoa
vazio
é meu nome
minha fome é um rio
que nasce em você
e corre pra trás
;
lembrar é morrer
nesse leito frio
por uma vez mais
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May 3rd, 2016 by Christiana Nóvoa
no seu plano um certo atraso
no meu trajeto um engano
descaminhos
(e a sombra do sol se dobra
sobre o oceano
que arde)
antes tarde que sozinhos.
o poente estende o prazo
poesia é o tempo que sobra
,
a gente se encontra por obra
do ocaso
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Apr 25th, 2016 by Christiana Nóvoa
a garça aprecia
a luz desse dia que passa
sem pressa ou lamento
seu pensamento atravessa
de vento a espessa fumaça
da refinaria
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Apr 20th, 2016 by Christiana Nóvoa
no mundo
e nas minhas pregas
,
acima e embaixo
:
regras
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Mar 31st, 2016 by Christiana Nóvoa
meço com o canto do olho
a cor do vazio
no espelho
,
recolho um reflexo frio
:
desvio
para o vermelho
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Feb 28th, 2016 by Christiana Nóvoa
‘
convite aberto
e intransferível
ao homem certo
solto no mundo
longe tão perto
que me confundo
tão invisível
que quase toco
ouço tão nítido
que até vejo
fora de foco
golpe de vento
cheiro tão vívido
de novos tempos
que ainda me lembro
daquele beijo
que nunca demos
‘
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Feb 25th, 2016 by Christiana Nóvoa
entre a festa
e a miséria
de um dia
medonho
a carne partida
é a fresta
,
a vida
é um rio
que vaza
e infesta
a casa
de um sonho
vazio
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Feb 25th, 2016 by Christiana Nóvoa
a mariposa
morta pousa petalosa
como uma rosa
‘
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Feb 2nd, 2016 by Christiana Nóvoa
se choro tanto
é porque fervo
até doer
o nervo
que sente prazer
sente mágoa
o pranto e o gozo
são água
do mesmo poço
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Jan 30th, 2016 by Christiana Nóvoa
abracadabra
abro a cabeça
com pé de cabra
;
a cabra tropeça
a fé se dobra
ao sórdido agouro
do diabo
;
ouro de tolo
cangalha em couro
de touro brabo
;
oroboro
a cobra
me abraça o rabo
e se enraba
;
a obra
que em outro
começa
em branco
acaba
.
.
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Sep 3rd, 2015 by Christiana Nóvoa
o mar é um espelho
duro
que nos corta
como um muro
o futuro é uma criança
morta
que a esperança aborta
à nossa porta
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Sep 2nd, 2015 by Christiana Nóvoa
lágrima santa
lava como água-benta
o pé da planta
,
a chuva lenta se adia
até chorar de alegria
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Jul 25th, 2015 by Christiana Nóvoa
deuses sem dedos
jogam dados
viciados
;
o medo é um buraco
cercado de vácuo
pelos seis lados
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Jun 23rd, 2015 by Christiana Nóvoa
você pode fumar
o seu ópio
você pode beber
o seu gim
você pode enganar
a si próprio
mas não a mim
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May 17th, 2015 by Christiana Nóvoa
você mora
no muro
entre
o fora
e o furo
do ventre
entre o escuro
e a escora
entre o agouro
e o agora
e sempre
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Apr 28th, 2015 by Christiana Nóvoa
claro como o mar
onde meu olho nada
:
nada a declarar
.
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Mar 17th, 2015 by Christiana Nóvoa
há um tempo de espera
entre o impacto
e a queda
sopra um vento áspero
entre o pássaro
e a pedra
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Feb 21st, 2015 by Christiana Nóvoa
ferve brava
sob a verve
como neve
sobre a lava
,
dorme louca
pouco escreve
muito escava
,
escrava
da forma breve
da palavra
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Feb 17th, 2015 by Christiana Nóvoa

isto não é um cachimbo
também não é um poema
são só códigos no limbo
entre o meu e o seu sistema
Imagem: A Traição das Imagens, René Magritte (1929)
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Feb 6th, 2015 by Christiana Nóvoa
um silêncio absurdo
me despertou hoje
:
deus está surdo
e não me houve
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Dec 20th, 2014 by Christiana Nóvoa
flores mortas são
primaveras que se vão
frutas que verão
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Dec 3rd, 2014 by Christiana Nóvoa
pescador chega à minha praia
numa noite de lua cheia
chega manso vem de tocaia
deita do meu lado na areia
ele diz que adora o meu canto
ele diz que eu sou sua sereia
ele diz que me ama enquanto
me esfaqueia
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Nov 15th, 2014 by Christiana Nóvoa
a luz amanhece pouca
branca
e longínqua
um fio de sol lambe o mofo
estanca em cheio
no meio da nódoa do estofo
feito estaca
a dor finca a faca
a dormência míngua a mágoa
a ausência é uma casca oca
que um dia trinca
a chuva apazígua a língua
da falta dágua
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Nov 10th, 2014 by Christiana Nóvoa
fiquei sem voz
procuro sábios
que saibam ler
meus grandes lábios
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Nov 1st, 2014 by Christiana Nóvoa
eu morderia
qual fruta a luz
na tua treva
e neste dia
preciso
adão e eva
fariam jus
ao paraíso
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Oct 24th, 2014 by Christiana Nóvoa
venta aqui fora
faz frio
,
o sol em brasa
se esconde
e de longe
me fita
triste e vazio
,
como uma casa
bonita
onde o amor mora
e ninguém visita
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Oct 21st, 2014 by Christiana Nóvoa
até mesmo
o universo
imenso
perde a graça
o céu
perde a cor
e chora
se você amassa
o meu verso
de amor
e joga fora
como um lenço
de papel
a esmo
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Oct 19th, 2014 by Christiana Nóvoa
a fé é o farol
de um foguete de sorvete
a caminho do sol
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Sep 27th, 2014 by Christiana Nóvoa
em vão me espanto
o tempo corre
mais que o medo
todo mundo morre
uns cedo
uns nem tanto
é a lei
e eu aqui
no meu canto
só sei
que não morri
por enquanto
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Sep 25th, 2014 by Christiana Nóvoa
então observe:
se for poesia
não serve
,
a verve não
tem serventia
à mulher honesta
nem ao patrão
,
se for poeta não presta
servidão
.
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Sep 17th, 2014 by Christiana Nóvoa
invento é um ar
que sopra
pra dentro
,
pensar
é um ato
só
,
inspiro o pó
que sobra
da grande obra
,
espirro engasgo
me mato
expiro
,
adentro e rasgo
o peito
como um tiro
.
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Sep 3rd, 2014 by Christiana Nóvoa
o corpo me atraca
como craca
ao porto
,
recorta o espaço
a faca
e escapa ileso
,
suporta esse braço
fraco
como um galho seco
em brasa
como um cão sem casa
,
vão
como o sol num beco
como um peso
morto
como um amor pouco
,
oco
como o osso da asa
de um pássaro preso
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Aug 30th, 2014 by Christiana Nóvoa
nada que eu queira
mais que a sombra dourada
da amendoeira
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Aug 25th, 2014 by Christiana Nóvoa
a noite é uma dama
não joga
mas não foge à luta
quando o sol se inflama
essa puta ajeita
no mar a cama
perfeita
onde o rei se deita
e se afoga
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Aug 19th, 2014 by Christiana Nóvoa
paira esse silêncio frio
um vazio repleto
de hiatos
prefiro o cio indiscreto
dos gatos
no meu teto
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Aug 12th, 2014 by Christiana Nóvoa
no jardim das ideias vagas
onde vagalumes
beijam petúnias
descarto as pragas
sempre as mesmas
queixumes
lamúrias
e outras lesmas
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Jul 17th, 2014 by Christiana Nóvoa
só não escolhas
para o amor
o gesto insípido
nem deixes
meus olhos sem cor
como bolhas
no céu líquido
dos peixes
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Jul 1st, 2014 by Christiana Nóvoa
a água cinzenta
oleosa
espelha
o céu em brasa
em cinquenta
tons de rosa
vermelha
,
na maré rasa
um murmúrio
vago
como um lago
de mercúrio
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Jun 30th, 2014 by Christiana Nóvoa
ave sã não tomba
,
balança a sombra anciã
do flamboyant
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Jun 19th, 2014 by Christiana Nóvoa
o sopro eterno
desconhece
o corpo morto
,
perdoo o outro
pelo inferno
que me aquece
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Jun 16th, 2014 by Christiana Nóvoa
descascou
minha fruta
pescou
minha truta
riscou
minha gruta
lascaux
minha pedra
bruta
de quebra
lustrou
deu brilho
,
ladrilho
filho
da luta
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Jun 15th, 2014 by Christiana Nóvoa
ousar querer
como um deus
saber calar
como um buda
o tolo finge
que estuda
a esfinge muda
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Jun 1st, 2014 by Christiana Nóvoa
como um anjo cego
pela claridade
de outras alturas
mais amenas
eu me apego
à gravidade
a duras penas
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