nada procuro
nágua flutuo
ilha
alga que brilha
na superfície do escuro
fluo
supérflua maravilha
flor de flúor
Apr 26th, 2013 by Christiana Nóvoa
nada procuro
nágua flutuo
ilha
alga que brilha
na superfície do escuro
fluo
supérflua maravilha
flor de flúor
Apr 24th, 2013 by Christiana Nóvoa
duas damas na janela
uma é enorme outra é meia
ostra e metade sereia
(ouço a voz dela)
uma é mar outra é areia
uma só dorme outra vela
uma se inflama outra gela
o sangue na veia
pois eu sou essa e aquela
a moça bela e a feia
as faces sombra e amarela
da lua cheia
Apr 23rd, 2013 by Christiana Nóvoa
o céu é bonito
mas não acaba
nas linhas da aba
do meu chapéu
o infinito desaba
nas telhas sobre as minhas
sobrancelhas
Apr 21st, 2013 by Christiana Nóvoa
mensagem numa garrafa:
quem me dera um saca-rolha
que liberte a minha folha
deste vidro que me abafa
quem me dera a maresia
já houvera corroído
a carta do mar perdido
onde inda exista a poesia
cada vista é uma janela
e o filme do mar revela
que o sol ilha mais que o ouro
a trilha é o próprio tesouro
a lua é um barco de prata
à procura de um pirata
Apr 19th, 2013 by Christiana Nóvoa
pelos dedos teus
deus se fez carícia
e se o amor não existe
que seja um delírio
triste
o teu medo em riste
em plena delícia
e martírio
Apr 17th, 2013 by Christiana Nóvoa
sofro de ausência
essa ardência no âmago
esse estômago oco
no meio de um soco
Apr 15th, 2013 by Christiana Nóvoa
velha barcaça
deixe estar todo peixe
um dia passa
Apr 14th, 2013 by Christiana Nóvoa
meu poema não tem santo
nem pajé que quebre o encanto
do meu canto de iracema
não tem cacique que pare
minha pena > uma seta
de curare em sua reta
Apr 13th, 2013 by Christiana Nóvoa
saudade é uma ponte
entre a ilha
e o horizonte
longe de mim
na praia a canoa
sem quilha
com o nome na proa
marfim
Apr 11th, 2013 by Christiana Nóvoa
pensando morreu um burro
cantando morreu um bardo
¨já vou tarde desse mundo”
seguro morreu de velho
zurrando morreu um soldado
e no silêncio, um surdo
janis morreu de overdose
da língua morreu o freud
e o leminski de cirrose
até buda teve um bode
morrer não é nenhum absurdo
cristo morreu no evangelho
livre
só quem não nasceu
morre você morro eu
morramos de joie de vivre
Apr 10th, 2013 by Christiana Nóvoa
em bom espanhol “la mar”
é uma mulher e eu acho
que eles têm lá sua razão
nenhum macho vai tão alto
e baixo
numa só onda
não há um homem que esconda
tanto pesar em seu fundo
ou que abrigue um mundo tão
rico e diverso e abissal
por entre as dobras dos lábios
que nem dez mil astrolábios
recobertos de sal
não mapearão
Apr 9th, 2013 by Christiana Nóvoa
entre o verso e a frente
de uma ideia assaz
violenta
há de haver um recheio
uma massa cinzenta
um caminho do meio
entre o norte e o sul
da coreia
entre o azul e o vermelho
um roxo batata
quase lilás
violeta
um golpe de paz
que arrebata
o diferente
lá no avesso do espelho
tão fino
o perfil cristalino
do planeta
Apr 6th, 2013 by Christiana Nóvoa
diz a lenda que ao sul
da ilha tem uma casa
da cor do céu azul
zinho
com nuvens esparsas
é lá que as garças
cinzentas
fazem ninho
quando venta
e inventam asas
Apr 5th, 2013 by Christiana Nóvoa
do meio do monte vejo o vasto
horizonte
de que me afasto
subo à fonte o cálice
cheio de mágoa
e deleite
não há água que azeite
tanta lástima
então eu rio
;
à noite o ar frio
decanta a mistura
depura
uma lágrima furtiva
se esquiva
dos seus olhos de oliva
Apr 3rd, 2013 by Christiana Nóvoa
a lua cheia
tinge de bege a baía
de guanabara
um mar de areia
um saara
neblina esfinge
o morro da urca
como uma burca
Apr 2nd, 2013 by Christiana Nóvoa
depois do raio o estouro
depois da chuva a bonança
depois do choro a alegria
;
quando estia o sol transforma em ouro
as águas de chumbo da baía
Apr 1st, 2013 by Christiana Nóvoa
zarpo do cais
na última
nau
nada de mau
me abala mais
o íntimo
me embala um ritmo
que a noite entorna
marítima
no céu incendeia
um balão em forma
de baleia
Mar 30th, 2013 by Christiana Nóvoa
se é para o bem de todos
e felicidade geral dos micos
diga ao povo que ficus
Mar 29th, 2013 by Christiana Nóvoa
sonho letras acesas
e enfeito a casa
enfronho em sedas
palavras em brasa
o enfadonho abecedário
feito labaredas
presas
num aquário
Mar 29th, 2013 by Christiana Nóvoa
atitude é um passo
em falso pra fora
do cadafalso
é uma dança um salto
alto de um pé
descalço
é um risco um traço
que toma de assalto
o agora
é uma lança um laço
que ata que solta
um lenço
é um lance de dardo
é um barco de volta
ao vento
é o abraço em volta
do corpo amado
e dentro
Mar 27th, 2013 by Christiana Nóvoa
chuva na ilha
minh’alma lavada
escorre poesia
como vasilha emborcada
sob a água da pia
Mar 27th, 2013 by Christiana Nóvoa
navios ao mar
sigamos em frente
a terra é redonda
de tanto afastar
quem sabe se a gente
ainda se encontra
o tempo é o lugar
onde o corpo sente
e o resto é onda
Mar 25th, 2013 by Christiana Nóvoa
que pasárgada que nada
vou-me embora para lá
vou ser amiga do rei
na ilha de paquetá
serei a mulher que eu quero
– luz del fuego, a moreninha –
vou-me embora ser rainha
eu sigo o farol que brilha
teu caminho escolherá
a minha cama onde fores
o mar é a única trilha
para a ilha dos amores
Mar 21st, 2013 by Christiana Nóvoa
vendo-a tristonha à varanda
disse próspero à sua filha:
a vida é um sopro que sonha
não perdes por esperar
mira miranda
tu és o mar
cercado de ilha
Mar 19th, 2013 by Christiana Nóvoa
anjo de luz que passa
ave marinha
cheia de garça
Mar 18th, 2013 by Christiana Nóvoa
já míngua a lua
em mim agúa
uma vez mais
me rasgo abro
caminho corro
escorro nua
o jorro o sangue
das ancestrais
pelos joelhos
como uma língua
a atravessar
eus e o diabo
do caos ao mangue
pelos vermelhos
em que esse mar
morto me instrua
Mar 16th, 2013 by Christiana Nóvoa
faço prece ao meu umbigo
– já pensou se eu não estivesse
falando comigo agora?
o fato é que ninguém chora
ou tem saudade de si
se a falta arde lá fora
o buraco mora aqui
Mar 16th, 2013 by Christiana Nóvoa
na nau dos loucos
dizem que uns poucos
cantam à proa
versos à toa
os outros comem
(menos um homem
que diz “não sigam”)
uns tantos brigam
um grupo parte
hoje pra marte
outro mergulha
tem uma agulha
de ouro no fundo
(mas todo mundo
viu que não tinha)
tem uma rainha
que nasceu muda
e pariu um buda
de barba ruiva
tem um que uiva
o resto geme
e ninguém ao leme
Mar 15th, 2013 by Christiana Nóvoa
alimento com óleos
bentos meu farol no invisível
arrecife
esquife esculpido em murmúrio
e letra
pra que o casco dos olhos desatentos
não espatife à luz do sol
a mucosa sensível
do planeta
mercúrio
Mar 14th, 2013 by Christiana Nóvoa
um verso iníquo me escarpa
o mar como farpa
me cega
navega imerso em líquor
meu olhar oblíquo
Mar 10th, 2013 by Christiana Nóvoa
fim do verão, o sol
que cai dá um sono, vai
pro outono ou não vai ?
Mar 9th, 2013 by Christiana Nóvoa
Mar 9th, 2013 by Christiana Nóvoa
ora vê se não me amola
com esse papo profundo
de que no fundo do poço
tem mola
pra subir há que ter força
maior do que um edifício
qualquer sapo sabe disso
o fundo do fosso é imundo
e tem poça
Mar 5th, 2013 by Christiana Nóvoa
a arte é vária e profusa
nas 7 faces da musa
não há na verdade um cisma
entre os verdes e os azuis
dos 7 mil tons que um prisma
reluz
Mar 4th, 2013 by Christiana Nóvoa
; no princípio era o bang
pondo o caos sobre tudo
(abrir um livro pode ter criado
o mundo)
e mais não disse
. a pouca elipse
(um livro fechado é um criado
-mudo)
Mar 3rd, 2013 by Christiana Nóvoa
sou profeta nessas sílabas
que saem das minhas ridículas
folhas, cadernos, epístolas
como sentenças, oráculos
místicos símbolos rúnicos
sibilando como víboras
entre a língua e as mandíbulas
palavras são formas físicas
palpitando sob as túnicas
piscando por trás dos óculos
fórmulas mágicas únicas
poemas têm forças trágicas
ecoando como címbalos
pela memória dos séculos
Mar 1st, 2013 by Christiana Nóvoa
de um lado
você tropeça
comigo sai
tudo errado
passo a passo
a gente cai
peça a peça
,
paciência
é o tao
pau a pau
pedra a pedra
do caminho
,
perda a perda
essa merda
é a sequência
perfeita
se na queda
a gente deita
juntinho
Feb 27th, 2013 by Christiana Nóvoa
maria eimmart viu a lua
nos tempos de galileu
e desenhou num papel
,
a maria já morreu
mas o luar continua
a mostrar a mesma face
,
se hoje à noite a lua nasce
inda mais nova e mais cheia
de sol na albina íris
,
também maria passeia
o seu olhar que prateia
a via láctea como um pires
Feb 23rd, 2013 by Christiana Nóvoa
como árvore que dança
ao vento que lhe arranca
as flores e deita fora
na rua
colho com afinco
cada miséria
com a precisão de uma criança
séria
deito nua
nessa folha branca
do agora
a hora em que brinco
de achar que é cedo
de estar no começo
da música errada
de ter novo enredo
essa vida passada
que desconheço
Feb 21st, 2013 by Christiana Nóvoa
sinto e calo
.
cada um sabe onde lhe aperta
o falo
Feb 19th, 2013 by Christiana Nóvoa
abro-me à visita da sua vista
como revista que se abre ávida
em cada página em que se imagina
uma vagina
Feb 18th, 2013 by Christiana Nóvoa
enquanto houver telhas
me assombro
também me cansa a poesia inútil
das tardes vermelhas
deixemos o mundo
às abelhas
Feb 15th, 2013 by Christiana Nóvoa
pobres lagartas rubras brasas presas
sob os cinzas dos casulos em que azulam
suas asas pretas
Feb 13th, 2013 by Christiana Nóvoa
alto lá seu moço
seu silêncio é um grito
agudo
cale mais baixo
mais grosso
mais fundo
seja macho
diga algo bonito
agora
ou eu levito
e voo embora
Feb 11th, 2013 by Christiana Nóvoa
o pranto é o orvalho que aflora
de dentro pra fora
da planta
é o diamante
do último instante
antes da aurora
é a seiva viva do talho
é a saliva é o orgasmo
é a fonte santa
,
o líquido espanto
o espasmo
de quem chora
respinga estrelas no manto
de nossa senhora
Feb 10th, 2013 by Christiana Nóvoa
nasce da loucura
de nuvens de amônia
a face medonha
atroz e perfeita
de quem me procura
do lado da fronha
na câmara escura
onde a luz me sonha
quando o sol se deita
Feb 9th, 2013 by Christiana Nóvoa
seu olho me monta
me enfeita com o brilho
de um brinco de gota
,
um pingo na ponta
do meu cílio
Feb 8th, 2013 by Christiana Nóvoa
minha mais cara persona
: eu sou o avesso
em carne viva
sob a capa
altiva ofereço a outra face
ao mesmo tapa
; um fraco me escapa
apareço onde o disfarce
desmorona
Feb 7th, 2013 by Christiana Nóvoa
cada passo um peso que passa
,
cada ruga na cara uma linha
de fuga da minha
carapaça
Feb 3rd, 2013 by Christiana Nóvoa
a noite vaga sem hora
senhora de si
vagabunda
o dia tem aonde ir
o mundo concorda
a cor da noite é mais funda
fenda tamanha
a sombra do sol me acorda
saudades galácticas
estrelas me são simpáticas
gente é estranha
Feb 2nd, 2013 by Christiana Nóvoa
dia de iemanjá
me água uma sede
boa
,
ar de concha à toa
na rede de proa
da escuna
,
líquido elemento
onda de amar entro
numa
,
já me quebra um mar
por dentro
,
o resto é espuma
Jan 29th, 2013 by Christiana Nóvoa
Jan 28th, 2013 by Christiana Nóvoa
sinto
não posso salvar seu horizonte
dos becos de asfalto onde
seus olhos secos se escondem
do alto mar do meu
labirinto
.
Jan 25th, 2013 by Christiana Nóvoa
apesar da poesia
meu peso é preso a leis
mesquinhas
:
contas todo mês
fome todo dia
e a morte no fim
.
pessoas são sozinhas
.
da solidez que solapa
a si própria nem o papa escapa
.
de mim
Jan 21st, 2013 by Christiana Nóvoa
ópera longa faço
quatro (ou mais) atos
sinfonia dos compassos
dispersos de uma melodia
que alguém ao longe assovia
à espera dos meus versos
compactos
.
Jan 19th, 2013 by Christiana Nóvoa
não tenho planos
não quero nada
ando ocupada
sonhando oceanos
e se o meu tempo
faltar um pingo
ainda agendo
morrer domingo
Jan 15th, 2013 by Christiana Nóvoa
a
vela
uma tela
que inspira o
vento pra dentro
dela, a brisa uma prece
que desliza e some no infinito,
|
o horizonte móvel, um arco
~ quando vou ao mar
o mundo parece
até um lugar
bonito
…
como nome de barco
Jan 10th, 2013 by Christiana Nóvoa
não importa o sentido
todo caminho
leva à morte
a vida é só
o transporte
trocando em miúdos
troco o dó
pelo sol
sustenido
troco a dor
de andar só
por dinheiro
(um trocadinho)
troco tudo
pelo idílio
de um grande amor
passageiro
(com trocadilho)
Jan 7th, 2013 by Christiana Nóvoa
recolho o pranto
às ameixas
deixe-as ou ame-as
com fúria
calam-me infâmias
calúnias
planto petúnias
fúcsia
colho begônia
nos jardins da insônia
Jan 3rd, 2013 by Christiana Nóvoa
o desejo
é um desterro
no paraíso
,
ter o outro
é um erro
tátil
do juízo
,
não é fácil
ser volátil
como um beijo
neste couro
réptil
em que rastejo
Jan 2nd, 2013 by Christiana Nóvoa
quem ainda vinha
vinde
quem definha
finde
quem duvida
cinde
a vida é um brinde
ao breve
,
quanto mais a uva passa
tanto mais leve
a taça
que me bebe
Dec 30th, 2012 by Christiana Nóvoa
sob a fina espessura
humana
tem um furo
de infinita fundura
não passa a luz nem o escuro
não passa
não tem submarino
que possa
com o fino da fossa
das marianas
o nó da garganta
a fenda do poço
o findo caminho
,
o oco da santa
a toca da louca
o reino da graça
,
meu barquinho
é de papel
no fundo do céu
da boca
atravesso o mundo
.
Dec 27th, 2012 by Christiana Nóvoa
degrau em grau
o discípulo
dança
move-se em círculos
no mesmo lugar
contudo avança
Dec 25th, 2012 by Christiana Nóvoa
branco é o buraco
negro que engole o meu
olhar sanpaku
Dec 24th, 2012 by Christiana Nóvoa
mergulho no azul
,
lavo o sol que me ilumina
;
dia de piscina
Dec 24th, 2012 by Christiana Nóvoa
vi pirilampos
no ipê do meu quintal
:
árvore de natal
Dec 22nd, 2012 by Christiana Nóvoa
sonho uma estrela
pura aura bólida
pulsando o espaço
luz que sol vê-la
me deixa lua
sem terra à vista
objeto em órbita
sou eu na sua
assim de soslaio
trajeto é um traço
o raio que dista
do seu abraço
Dec 21st, 2012 by Christiana Nóvoa
vaga no mar
divago
devagar apago
o pesar
da minha fita
meditar
me edita
Dec 19th, 2012 by Christiana Nóvoa
o ar da sua graça
dá e passa
escurece você some
fumaça
no breu
sua ausência não consome
o aroma de romã
da minha casa
sua cinza é vã
meu amor a brasa
sou eu
.
Dec 18th, 2012 by Christiana Nóvoa
essa vida só
não é pão-de-ló
rala o mocotó
levo no gogó
sem goró nem pó
sem forrobodó
calo o quiproquó
teço o meu filó
dou ponto sem nó
porém tenho dó
de não ter xodó
… ó!
canta o curió
abre-se abricó
meu borogodó
Dec 17th, 2012 by Christiana Nóvoa
valete de copas perdido
num castelo de cartas
de amor
uns 7 copos de vidro
sobre capas de disco
voador
um quartzo rosa
pra vencer o medo
um dedo de prosa
num guardanapo
um anjo sem braço
ornado com um laço
de esparadrapo
,
no caos do quarto me acho
surpresa
debaixo da mesa
Dec 16th, 2012 by Christiana Nóvoa
perdoar é perder
o ar
deixar você
deixar rolar
dizer poesia
se não pode prender
a inspiração
,
assopre-a
…
expirar é morrer
;
solidão é o prazer
da minha imprópria
companhia
Dec 15th, 2012 by Christiana Nóvoa
um haicai de cada caco
faço do estrago
mosaico
Dec 14th, 2012 by Christiana Nóvoa
a fome de um homem
mostra o seu dente
marca o seu nome
:
a carne não mente
você é quem
você come
Dec 12th, 2012 by Christiana Nóvoa
quando o dia vinga
e inda vaga a lua
unha sobre a teia
tênue de luz
,
vênus se insinua
o astro-rei se inflama
,
o mar uma língua
treme sobre a areia
líquidos sedentos
,
obscenos os ventos
com suas mãos redondas
arrepiam ondas
como corpos nus
,
a terra uma cama
onde o céu se esbanja
em lençóis laranja
Dec 10th, 2012 by Christiana Nóvoa
perde o alvo quando mira
forja o arco enquanto atira
fura e salva
cura e ferra
flecha objeto troço
metálico fálico tóxico
quando pára é paradoxo
quando mudo berra
;
se o voo é a meta
o amor sempre acerta
mesmo quando erra
a seta
Dec 10th, 2012 by Christiana Nóvoa
um muro
com um só lado
não é coisa que se pense
¿ acaso ou fado ?
o futuro
a dois pertence
Dec 8th, 2012 by Christiana Nóvoa
a palavra viva
que me salvaria
natimorta esfria
na tua saliva
Dec 7th, 2012 by Christiana Nóvoa
o céu deixa um pedaço
de si na poça
depois da chuva
e a boca fica roxa
depois do picolé
de uva
na contramão da sua rua
perdi um pé
do meu sapato
no bolso de um velho casaco
achei minha mão na sua
luva
Dec 4th, 2012 by Christiana Nóvoa
onde é breu
meu traço
brilha
como aço
dando um talho
na manhã
não nasço
eu raio
filha de iansã
Dec 3rd, 2012 by Christiana Nóvoa
.
novelos de versos idos
em fios meus dias
cumpridos
,
tessitura de cabelos
tecidos dispersos
,
escura matéria morta
que tudo embrulha
,
é muita linha torta
pra pouca agulha
.
Dec 3rd, 2012 by Christiana Nóvoa
soubera eu bordar
fazia uma colcha
amarela e roxa
para a noite e o dia
de um lado eu dormia
do outro era rede
no meio era verde
no fundo era o mar
uma colcha ancha
roxa e amarela
bordada de concha
no fundo uma pérola
Dec 1st, 2012 by Christiana Nóvoa
a substância de que sou feita
é a lembrança
de um entressonho da infância
que diluo
sou o que suo
o que sangro o que choro
por cada poro
ora rio ora morro
ora escorro
ora evaporo
o oceano
ser o mar é meu humano
brinquedo
desde cedo
tudo imerso
nada importa
uma garota
remota
esquece o que pensa
e paira suspensa
em cada gota
de neblina
uma criança
liquefeita
o universo dança
com uma menina
morta
Nov 30th, 2012 by Christiana Nóvoa
na noite do apocalipse
maia
quero morrer na praia
do mar morto
e amanhecer num porto
na terra
do filho
todos plenos
do mesmo milho
sob vênus
e o astro da guerra
que se eclipse
Nov 29th, 2012 by Christiana Nóvoa
nada é eterno
nem quando é lindo
nem no cinema
acabou o caderno
antes do fim do
Nov 29th, 2012 by Christiana Nóvoa
janis sem jimi
roque sem roll
nada nesse show
me exprime
se eu gritar quem sou
é crime
Nov 28th, 2012 by Christiana Nóvoa
em nuvens desliza
sonhando com a vida
a bela adormecida
desmancha-se em ondas
castelos de areia
a linda sereia
mil e um tons de cinza
borralha uma tela
a gata cinderela
rubor que não estanca
derrete-se ferve
a branca de neve
…
o amor dando trova
e o rei só tem olhos
para a roupa nova
Nov 27th, 2012 by Christiana Nóvoa
samambaias e avencas
às pencas
infiltram as frestas
os muros de cal
nas pedras o limo
é lindo
é limpo
ver como as saias
do tempo
filtram o quintal
das nossas festas
Nov 27th, 2012 by Christiana Nóvoa
estia
o avô e o neto
vão passear
o dia
abriu o teto
solar
Nov 26th, 2012 by Christiana Nóvoa
cai sobre a ponte
a flor acesa
do agora
a aurora pega o horizonte
de surpresa