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Category Archive for 'haiquase / senryu / tanka'

a pedra

  tenho estado tão só lida .

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o epitáfio

  a mariposa morta pousa petalosa como uma rosa   ‘

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a gota

  lágrima santa lava como água-benta o pé da planta , a chuva lenta se adia até chorar de alegria    

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claro como o mar   onde meu olho nada   :   nada a declarar     .

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  flores mortas são primaveras que se vão frutas que verão        

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o ouro

  nada que eu queira mais que a sombra dourada da amendoeira      

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a árvore

  ave sã não tomba , balança a sombra anciã do flamboyant    

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a pestana

  folhas de outono como pálpebras que caem mortas de sono        

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o aqui

  ser é escasso , o tempo vence o espaço pelo cansaço      

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a graça

  ser é um mistério lindo e findo e tão sério que só rindo      

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o prelúdio

  sabiá já canta ; a natureza aos pios seus frios espanta    

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a traineira

  velha barcaça   deixe estar todo peixe um dia passa        

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o figo

  se é para o bem de todos e felicidade geral dos micos diga ao povo que ficus          

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a torneira

  chuva na ilha minh’alma lavada escorre poesia   como vasilha emborcada sob a água da pia      

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  anjo de luz que passa   ave marinha cheia de garça          

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o rei

  fim do verão, o sol que cai dá um sono, vai pro outono ou não vai ?        

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as crisálidas

  pobres lagartas rubras brasas presas sob os cinzas dos casulos em que azulam suas asas pretas        

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    branco é o buraco negro que engole o meu olhar sanpaku        

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chuá

  mergulho no azul , lavo o sol que me ilumina   ;   dia de piscina      

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  vi pirilampos no ipê do meu quintal : árvore de natal      

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a porcelana

  um haicai de cada caco faço do estrago mosaico    

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xingu

    não se apreça um rio ; seu fim é só o começo seu preço é um leito vazio      

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o banho

    a gueixa sonhou que a rã de bashô é fã do seu ofurô        

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o balde

  desço ao poço tudo ouço nada posso dizer às pedras     a água sobe a parede   a sede até o pescoço        

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  chuvinha fina solando e atrás da cortina o astro na surdina      

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olho dágua

  meu olho vaza ;   foi um rio que passou na sua casa      

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jaca já

  sob a mangueira a primavera me cheira como já queira    

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o bem-te-vi

  no ipê-roxo um ovo rebenta um novo canto   ouro sobre um dia branco    

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a goteira

  chove tanto que até telha de amianto se comove    

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  nem cristo salva o sol do amor redentor da estrela dalva    

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  lâmpada fria fia-te luz do dia tarde da rua   a lua late antes da light havia a via láctea    

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  dia tão lindo que as samambaias choronas estão sorrindo    

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a enseada

  mar bota fogo vento pára, a baía me guanabara    

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    fora tudo gris , dentro aponto céus anis da cor de um lápis     .       foto: mercedes lorenzo    

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  meu sacro ofício: lazer do ócio um templo sagrado ao amplo      

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  o dia estoura   o sol molha o sereno ouro banha o breu   ;   a terra me olha   numa gota de chumbo que o azul derreteu   .    

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desavenca

  a vida não espera prima vera virou verão a avenca já hera      

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samurai

  haiquase que cai? bota fé no samurai e sai de bashô   …   [mais um “poema incidental”, resgatado dos comentários ao poema ‘quiromance’ /2009 >> https://novoaemfolha.com/2009/10/quiromance.html ]  

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  se fecha o clima , tenha eu sempre comigo o abrigo da estima , ,  

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  a  borboleta é a obra que devora  a crisálida    ~   vista fora do artista, toda crise é válida .    

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de leve

  asas no jardim ; quem semeia bem-me-quer colhe querubim … {nem a chuva de chumbo  me desarcanja o mundo}  

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  micos nas telhas ; essa manhã promete frutas vermelhas .   Foto: Analu Prestes     .

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deleite

  um vento solar condensa a láctea via que me alimenta , ordenha imensas montanhas pra amamentar as minhas ventas

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  o ousado goza  ; o orvalho lambe o espinho e molha a rosa ,

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  éter evaporo um perfume do vazio  por cada poro

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, a mata ecoa murmurinhos que a rua acua e mata , refúgio da crua e rústica colcha acústica . .

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* o breu transborda ; noite longa dá corda no relógio de sol .

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  , em última análise eu sempre prefiro uma fotossíntese .

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  pinga-me um lírio nos cílios ; poesia é o melhor colírio .

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arrepio

  lábil sentido: a língua do silêncio em meu ouvido .

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