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cheval-ferrari.jpg Tem gente que escolhe o amor como quem escolhe um carro. Avalia ano, marca e modelo, o estado da lataria, a performance e, principalmente, o valor de mercado. Não se importa de gastar uma nota preta com isso, investe em seguro total e não economiza na manutenção. Volta e meia troca de amor por um mais novo, mais bonito, mais possante ou, melhor ainda, acumula. Detesta perder o que é seu e pensa que sempre cabe mais um na garagem: ter é poder. O mundo é dos ambiciosos e o fundamental é estar bem na fita, desfilar seu sucesso, mostrar a todos que é um vencedor. Mais cedo ou mais tarde, infelizmente, nosso campeão vai cair do cavalo. Vai ficar obsoleto ou, antes disso, vai sofrer um acidente de percurso e sua sucata vai terminar no ferro-velho, como todas as outras.
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Tem gente que escolhe o amor como quem escolhe um móvel. Avalia funcionalidade, durabilidade, beleza também, é claro. Mas o que importa mesmo é o conforto, aquela sensação familiar, de pertencimento. Com o tempo esse amor vai se desgastando, desbota, ganha marcas de uso, manchas, arranhões. No entanto pode se recuperar lindamente se ganhar uma demão de verniz de quando em quando, um novo estofamento, um reforcinho básico na estrutura. Agora, um móvel também pode às vezes perder sua função, mesmo após muitos anos de utilíssimos serviços. É uma pena mas acontece nas melhores famílias. Nesse caso, antes de abandoná-lo às traças, mais vale mandar para um brechó e livrar o espaço. Sempre haverá algum canto vazio no mundo onde ele caiba à perfeição e tenha melhor serventia.
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Swirling Dream.jpg Tem gente que escolhe o amor como quem escolhe um sonho. Sabe que não escolhe, que avaliações são inúteis aqui. Reluta e se angustia pelo imponderável da situação ou simplesmente entrega e se deixa levar. Aproveita o que tem de bom, sofre o que tem que sofrer, vive a estranheza e o maravilhamento. Não tenta controlar, nem adianta. Percebe a liberdade absoluta que há no meio desse caos. Aceita o fato de que não há garantia de espécie alguma. Pra não se apavorar, é sempre bom lembrar que está sonhando. E, pra não se apegar, é bom saber que um dia acaba, por muito que dure. Antes de acordar sozinho, não custa nada agradecer essa estadia, ainda que breve, num lugar onde se voa.
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