Não gosto de escrever diários, não tenho paciência.
Quando criança, quis ter os dias um após o outro, de modo que os pudesse folhear, me recobrando, mas sempre me perdia. Vivia culpada pelos dias saltados e entediada de datas e cabeçalhos e queridos diários.
Nunca sabia o que confessar: se era segredo, me sentia exposta, nua, e suava frio de pensar que alguém pudesse violar meus esconderijos, profanar altares íntimos. Se era fato notório, assunto corriqueiro e de domínio público, não seria digno de nota.
Abandonei então os relatos, as datas ordenadas, e fui abstraindo de mim.
Com o tempo as linhas se quebraram, versos. Os sons, fonemas, cada vez menos. Me envergonhava tão estranha escrita. Em meus livros de areia, a cada vez que os abria eu era uma, nunca a mesma.
Passei a suar ainda mais pelos cadernos. Sorte que, agora, poucos me entendiam.
Cadernos
Mar 31st, 2005 by Christiana
Rebelde e inconformista por natureza, como dizem ser as aquarianas, também sou meio assim. Basta ter aquele “tem que” à frente e tudo vira desprazer ou vontade de trasngredir.
Imagine que esforço foi me transformar em CDF nos tempos de escola. Ah, Freud!
Sorte nossa teu diário agora poder ser lido até de trás prá diante e sempre com o mesmo prazer.
Beijo. =^.^=
Pois é.. faz bem pouco tempo que dei pra me desnudar assim, escrevendo. Morria de vegonha do que eu escrevia e acabava rasgando, queimando e, finalmente, com a chegada da era da informática, deletando da lixeira.
Hoje eu escrevo pra não sufocar e deixo exposto o meu lado de dentro. Aquele lado que eu escondia porque tinha medo de enxergar. E era apenas eu mesma…
Costumo dizer que não sei falar de mim, e por isso falo tão pouco da minha vida pessoal no Pensar Enlouquece. Contudo, ainda que não escreva sobre o que comi no café da manhã ou que roupa usei para dormir, é impossível não deixar transparecer uma parte de mim nas entrelinhas de tudo o que escrevo. Um blog torna-se, pois, uma espécie de diário pessoal entrelinhado, hermético para as pessoas que não conhecem intimamente o escriba, mas que não deixa de desnudar quem o mantém, ainda que por intermédio de versos e fonemas tão ins-pirados quanto os seus, Ms. Nóvoa. =)
Clarice, Tita, Inagaki…ainda bem que são pessoas tão especiais que abrem meus cadernos. Pessoas que têm muito o que dizer, por isso sabem ler nas entrelinhas. Não me canso de agradecer a troca riquíssima que vocês me proporcionam. Assim dá gosto sair da gaveta, abrir minhas páginas à visitação. Beijos, meus amores.
Esse negócio de blog vira uma peste. Estive no Idelber (Biscoito Fino), vi seu comentário e já tou aqui. Vim, vi e gostei. Abraços.
Mais três afinidades entre nós:
1) eu também nunca tive paciência com os diários, embora, como você, os haja julgado vagamente necessários em algum momento;
2) eu também perdi alguém importante há 12 anos;
3) você foi uma das primeiras blogueiras que li em português (não sei se reparou que está linkada há séculos no Biscoito, ainda a casa sua antiga): mais precisamente um post chamado Belben, do qual na certa você se lembra, e que me impactou tanto que eu nem pude comentar, puro assombro sem palavras. Quando Ina fez a homenagem do 8 de março, foi uma alegria muito grande para mim ver o seu texto lá.
Um grande beijo,
Puxa vida, Idelber, sem palavras fiquei eu… claro que eu lembro do Belben…sempre. Bom ir descobrindo as afinidades alegres e até as tristes. Senta aí, traz o biscoito que eu vou passar um cafezinho.
Um beijo.
“E da janela destes quartos de pensão,
eu como vetor,
tranqüilo eu tento uma transmutação.”
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Por que um diário deve ser querido?
Abraços
Bonito isso, Ricardo.
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É mesmo , esse negócio de querido, que monotonia afetiva! Já pensou alguém que começasse assim:
#@&#¡!&*# diário …
Beijos.