Lembra do Belben*, aquele meu irmão das histórias incríveis? Certa vez, quando eu era criança (e ele já era um adolescente, o que o tornava, a meus olhos, um ser superior) ele me contou que, em suas fantasias da infância, imaginara que o mundo era a caixa de sapatos de um gigante. A coisa seria mais ou menos assim:
Durante o dia a caixa ficava aberta e dava pra ver a lâmpada no teto do gigante, lá no alto.
De noite ele fechava a caixa mas fez uns furinhos na tampa as estrelas pra gente poder respirar. Depois ele achou pouco e fez um furo maior com o dedão a lua.
A teoria não parava por aí. Ele me explicou, por exemplo, que o gigante ficava mudando a caixa de lugar, e que a posição da caixa com relação à lâmpada daria origem às fases da lua. Quando era lua cheia, é porque a lâmpada estava toda visível pela abertura. Quando a caixa se afastava deste ponto, a lua minguava, e assim por diante. Às vezes, só por distração, ele tampava com algum objeto a abertura e então tínhamos um eclipse. Volta e meia ele abria a tampa de manhã mas colocava um véu por cima e não podíamos ver a lâmpada: estava nublado. Às vezes também ele resolvia regar a caixa, pra chover. Gostava de fazer isso através do véu, pra distribuir melhor os pingos, mas às vezes tirava o tecido e nos regava livremente, fazendo os dias de chuva-e-sol que quase sempre formavam arco-íris em volta da lâmpada. E muito mais poderíamos pensar sobre nossa vida na caixa de sapatos do Gigante.
Eu achei essa idéia incrível, e que bem podia ser verdade. Pelo menos teria alguém cuidando de nós.
Lembrei do Belben quando fiz o poema da clarabóia, outro dia.
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(*) – sim, o link leva àquele post velho e surrado sobre o Belben, que você já está careca de conhecer. O texto continua o mesmo mas, pelo menos, foi repaginado: agora vem com fotos! Só pra provar (se é que você duvidava da minha insuspeitíssima opinião) que ele era, de fato, lindo. Quanto às outras qualidades mencionadas, já que eu não possuo as tais pílulas para trazê-lo à vida, você vai ter que acreditar na minha palavra mesmo.
A propósito, deu pra perceber que eu andei escaneando fotos antigas esta semana?
Comentário sobre a foto que ilustra este post: parece que o Gigante tem olho azul.
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A cria? do mundo segundo Belben
Dec 8th, 2005 by Christiana
LINDO é pouco para descrever o seu Belben! Também adorei a história do gigante.
Minha primeira dúvida é: o que o gigante faria conosco, depois de entender que o mundo estivesse maduro, pronto para ser consumido?
Minha segunda dúvida é: o gigante esqueceu-se do mundo, e o deixou virar o que virou?
Abraço
Nossa, que irmão mais lindo mesmo. :)
E a teoria dele era ótima. Magia pura.
Um beijo.
Até eu sinto saudades do Belben… uma obra prima da natureza! Agora que vi as fotos, senti uma coisa estranha, que não consigo explicar… como se essa perda e essa dor fossem minhas, doeu lá dentro mesmo… como seu post diz “…Misteriosa escrita da vida…” não consigo explicar porque o Belben mexeu tanto comigo…
Um abraço beeeemmmmmm apertado…
Fernanda, fiquei emocionada com seu comentário. Se eu pude fazer o Belben vivo no seu coração por um instantinho que seja, então talvez minha escrita seja mesmo uma forma de me comunicar com ele. A morte prematura do Belben foi uma grande perda, não só para nós que o conhecíamos e amávamos, mas para o mundo. E pra você, por quê não? Você podia um dia vir me visitar e ele podia aparecer de surpresa como sempre fazia e você teria a sorte de presenciar a alegria e o encanto dele ao contar alguma história interessantíssima e certamente hilariante, da qual você jamais se esqueceria e teria acessos de riso só de lembrar… talvez agora ele represente nossa nostalgia de uma graça perdida, num mundo cada dia mais árido.
Patrícia e Leila, ele não era lindo? Ao vivo era mais. Tinha uma voz poderosa e, como se pode ver pela teoria, muita imaginação. :o)
Ricardo, fiquei com medo do gigante, com aquele olho-gordo pra cima da gente! Melhor mesmo ele fazer vista grossa, né? ;o)
Beijos!
Adorei o texto, a teoria e a carinha do seu irmão, que assim como o que eu já vi de outros membros da família, também era lindo. E por que será que nesta época do ano as ausências dão um jeitinho de doer mais fundo que nas outras, né ? Ainda bem que as lembranças boas são mais fortes e dão uma distraída nas saudades… :o*
Que familia fantástica e linda. Poucos são os que conseguem me emocionar ultimamente nesse mundo cínico e cheio de truques. Só gente autêntica e que sabe viver tem essa capacidade. Você prova que a magia do encontro é a chave para a felicidade. Ter encontrado esse teu irmão iluminado a fez estar aqui hoje, espalhando essa luz. Por isso o sinto vivo. Junto com a gente na caixinha de sapatos do gigante.
Chris… eu também me emocionei…
Beijos, Linda!
Que homem bonito! A morte é uma desgraçada… um dia o ser humano ver-se-á livre dela. Nossos netos, ou bisnetos, quem sabe. Mas esse dia chegará.
Agora, mudando um pouquinho só o rumo da conversa, assim como quem não quer nada… Chris, o seu irmão não lembra um pouquinho o Chico Buarque? Sei não, mas acho bom abrir a CPI da senhora sua mãe, amiga!
Que lindo post! Que linda história! E que emocionante o post que escreveu sobre o Belben!
Você é linda mesmo, moça. Li os posts anteriores também e adorei sua escrita.
Senti-me tão perto de vocês, de seus sorrisos, da tua nostalgia. A idéia de mandar bilhetinhos nos balãoes é maravilhosa.
Encontrar você foi um presente do Tiagón. Vou agradecer.
Chris… o título do último post do meu bloguinho de desabafos, é um link pra uma mensagem linda, que o DGRH da Unicamp fez no final do ano passado. Passe lá e clique. É lindo o texto. Tenho ele mais completo, depois se você gostar e quiser, me fale. Ah… a música também é legal.
Beijos,
Seu irmão é lindo, vc é linda e essa homenagem é simplesmente fantástica. Obrigada por me permitir conhecer e admirar um pouco dessa pessoa tão especial pra vc. Hoje o Belben está bem vivo pra mim, porque vc me fez imaginá-lo contando histórias, sorrindo e brincando muito. É isso o que somos, não é? Energia pura. E vc faz com que a dele esteja aqui onde vc está. Muito bom.
Beijo.
Cynthia, natal é época de lembranças, né? de saudades… e a gente vai dando um jeito de achar graça disso tudo :o*
Flavio, você é, sem dúvida, uma pessoa autêntica! Sorte minha que tenha vindo parar aqui, ou será a tal magia do encontro?
Dalva, se o Belben era parecido com o Chico então a culpa é do Pápi porque a Mâmi não era mãe do Belben, era o que ele chamava de “boa-drasta”. O Pápi, portanto, deve ser considerado o responsável pelo ar “buarquiano” da descendência.
Nora, o Tiagón não é uma caixa de presentes? Que bom que nos achamos!
Fernanda, seu blog está lindo! Acabei de ver o link que você indicou, muito bacana (chorei litros, hehe).
Palpiteira, eu que agradeço pelo estímulo! Pensar que eu tenho essa capacidade de trazer à vida um pouquinho da energia do Belben me deixa muito feliz.
Beijos a todos
Querida,
quanto tempo! os minutos que passamos juntos na minha festa não foram suficientes para a gente conversar um pouco. minha peça acaba domingo, mas nem vou te convidar porque é no CCBB e sei que você não vai mesmo… devo chamar a Márcia, quem sabe ela vai e te leva. seu site continua lindo, um prazer visitar. que coisa linda o texto do Belben, que maravilha aquele seu sonho… tinha me esquecido dele. tô com saudade do Léo tb. semana passada encontrei o Henrique numa locadora, ele contou que o Léo calça 36, é verdade?
um beijo grande, espero que nos encontremos antes do fim do ano.