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Olho de Deus.jpgLembra do Belben*, aquele meu irmão das histórias incríveis? Certa vez, quando eu era criança (e ele já era um adolescente, o que o tornava, a meus olhos, um ser superior) ele me contou que, em suas fantasias da infância, imaginara que o mundo era a caixa de sapatos de um gigante. A coisa seria mais ou menos assim:
Durante o dia a caixa ficava aberta e dava pra ver a lâmpada no teto do gigante, lá no alto.
De noite ele fechava a caixa mas fez uns furinhos na tampa – as estrelas – pra gente poder respirar. Depois ele achou pouco e fez um furo maior com o dedão – a lua.
A teoria não parava por aí. Ele me explicou, por exemplo, que o gigante ficava mudando a caixa de lugar, e que a posição da caixa com relação à lâmpada daria origem às fases da lua. Quando era lua cheia, é porque a lâmpada estava toda visível pela abertura. Quando a caixa se afastava deste ponto, a lua minguava, e assim por diante. Às vezes, só por distração, ele tampava com algum objeto a abertura e então tínhamos um eclipse. Volta e meia ele abria a tampa de manhã mas colocava um véu por cima e não podíamos ver a lâmpada: estava nublado. Às vezes também ele resolvia regar a caixa, pra chover. Gostava de fazer isso através do véu, pra distribuir melhor os pingos, mas às vezes tirava o tecido e nos regava livremente, fazendo os dias de chuva-e-sol que quase sempre formavam arco-íris em volta da lâmpada. E muito mais poderíamos pensar sobre nossa vida na caixa de sapatos do Gigante.
Eu achei essa idéia incrível, e que bem podia ser verdade. Pelo menos teria alguém cuidando de nós.
Lembrei do Belben quando fiz o poema da clarabóia, outro dia.
_________________________
(*) – sim, o link leva àquele post velho e surrado sobre o Belben, que você já está careca de conhecer. O texto continua o mesmo mas, pelo menos, foi repaginado: agora vem com fotos! Só pra provar (se é que você duvidava da minha insuspeitíssima opinião) que ele era, de fato, lindo. Quanto às outras qualidades mencionadas, já que eu não possuo as tais pílulas para trazê-lo à vida, você vai ter que acreditar na minha palavra mesmo.
A propósito, deu pra perceber que eu andei escaneando fotos antigas esta semana?
Comentário sobre a foto que ilustra este post: parece que o Gigante tem olho azul.

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14 Responses to “A cria? do mundo segundo Belben”

  1. Leila says:

    LINDO é pouco para descrever o seu Belben! Também adorei a história do gigante.

  2. Ricardo says:

    Minha primeira dúvida é: o que o gigante faria conosco, depois de entender que o mundo estivesse maduro, pronto para ser consumido?
    Minha segunda dúvida é: o gigante esqueceu-se do mundo, e o deixou virar o que virou?
    Abraço

  3. Nossa, que irmão mais lindo mesmo. :)
    E a teoria dele era ótima. Magia pura.
    Um beijo.

  4. Fernanda says:

    Até eu sinto saudades do Belben… uma obra prima da natureza! Agora que vi as fotos, senti uma coisa estranha, que não consigo explicar… como se essa perda e essa dor fossem minhas, doeu lá dentro mesmo… como seu post diz “…Misteriosa escrita da vida…” não consigo explicar porque o Belben mexeu tanto comigo…
    Um abraço beeeemmmmmm apertado…

  5. christiana says:

    Fernanda, fiquei emocionada com seu comentário. Se eu pude fazer o Belben vivo no seu coração por um instantinho que seja, então talvez minha escrita seja mesmo uma forma de me comunicar com ele. A morte prematura do Belben foi uma grande perda, não só para nós que o conhecíamos e amávamos, mas para o mundo. E pra você, por quê não? Você podia um dia vir me visitar e ele podia aparecer de surpresa como sempre fazia e você teria a sorte de presenciar a alegria e o encanto dele ao contar alguma história interessantíssima e certamente hilariante, da qual você jamais se esqueceria e teria acessos de riso só de lembrar… talvez agora ele represente nossa nostalgia de uma graça perdida, num mundo cada dia mais árido.
    Patrícia e Leila, ele não era lindo? Ao vivo era mais. Tinha uma voz poderosa e, como se pode ver pela teoria, muita imaginação. :o)
    Ricardo, fiquei com medo do gigante, com aquele olho-gordo pra cima da gente! Melhor mesmo ele fazer vista grossa, né? ;o)
    Beijos!

  6. Cynthia says:

    Adorei o texto, a teoria e a carinha do seu irmão, que assim como o que eu já vi de outros membros da família, também era lindo. E por que será que nesta época do ano as ausências dão um jeitinho de doer mais fundo que nas outras, né ? Ainda bem que as lembranças boas são mais fortes e dão uma distraída nas saudades… :o*

  7. Flavio Prada says:

    Que familia fantástica e linda. Poucos são os que conseguem me emocionar ultimamente nesse mundo cínico e cheio de truques. Só gente autêntica e que sabe viver tem essa capacidade. Você prova que a magia do encontro é a chave para a felicidade. Ter encontrado esse teu irmão iluminado a fez estar aqui hoje, espalhando essa luz. Por isso o sinto vivo. Junto com a gente na caixinha de sapatos do gigante.

  8. Fernanda says:

    Chris… eu também me emocionei…
    Beijos, Linda!

  9. dalva maria says:

    Que homem bonito! A morte é uma desgraçada… um dia o ser humano ver-se-á livre dela. Nossos netos, ou bisnetos, quem sabe. Mas esse dia chegará.
    Agora, mudando um pouquinho só o rumo da conversa, assim como quem não quer nada… Chris, o seu irmão não lembra um pouquinho o Chico Buarque? Sei não, mas acho bom abrir a CPI da senhora sua mãe, amiga!

  10. nora borges says:

    Que lindo post! Que linda história! E que emocionante o post que escreveu sobre o Belben!
    Você é linda mesmo, moça. Li os posts anteriores também e adorei sua escrita.
    Senti-me tão perto de vocês, de seus sorrisos, da tua nostalgia. A idéia de mandar bilhetinhos nos balãoes é maravilhosa.
    Encontrar você foi um presente do Tiagón. Vou agradecer.

  11. Fernanda says:

    Chris… o título do último post do meu bloguinho de desabafos, é um link pra uma mensagem linda, que o DGRH da Unicamp fez no final do ano passado. Passe lá e clique. É lindo o texto. Tenho ele mais completo, depois se você gostar e quiser, me fale. Ah… a música também é legal.
    Beijos,

  12. Palpiteira says:

    Seu irmão é lindo, vc é linda e essa homenagem é simplesmente fantástica. Obrigada por me permitir conhecer e admirar um pouco dessa pessoa tão especial pra vc. Hoje o Belben está bem vivo pra mim, porque vc me fez imaginá-lo contando histórias, sorrindo e brincando muito. É isso o que somos, não é? Energia pura. E vc faz com que a dele esteja aqui onde vc está. Muito bom.
    Beijo.

  13. christiana says:

    Cynthia, natal é época de lembranças, né? de saudades… e a gente vai dando um jeito de achar graça disso tudo :o*
    Flavio, você é, sem dúvida, uma pessoa autêntica! Sorte minha que tenha vindo parar aqui, ou será a tal magia do encontro?
    Dalva, se o Belben era parecido com o Chico então a culpa é do Pápi porque a Mâmi não era mãe do Belben, era o que ele chamava de “boa-drasta”. O Pápi, portanto, deve ser considerado o responsável pelo ar “buarquiano” da descendência.
    Nora, o Tiagón não é uma caixa de presentes? Que bom que nos achamos!
    Fernanda, seu blog está lindo! Acabei de ver o link que você indicou, muito bacana (chorei litros, hehe).
    Palpiteira, eu que agradeço pelo estímulo! Pensar que eu tenho essa capacidade de trazer à vida um pouquinho da energia do Belben me deixa muito feliz.
    Beijos a todos

  14. dado says:

    Querida,
    quanto tempo! os minutos que passamos juntos na minha festa não foram suficientes para a gente conversar um pouco. minha peça acaba domingo, mas nem vou te convidar porque é no CCBB e sei que você não vai mesmo… devo chamar a Márcia, quem sabe ela vai e te leva. seu site continua lindo, um prazer visitar. que coisa linda o texto do Belben, que maravilha aquele seu sonho… tinha me esquecido dele. tô com saudade do Léo tb. semana passada encontrei o Henrique numa locadora, ele contou que o Léo calça 36, é verdade?
    um beijo grande, espero que nos encontremos antes do fim do ano.

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