Chora escondido o palhaço
Chora de dor, de cansaço
Espantalho da tristeza
Rebotalho da alegria
Guardião da velha graça
Patética alegoria
Cor viva no chão da praça
Dá-se ao riso de quem passa
Farol de fogo de palha
Nariz de chorão paspalho
Roupa larga de retalho
Cabelo palha de aço
Trabalho que é passatempo
Tempo perdido no espaço
Dramaturgo do ato falho
Maestro do destempero
Vai de encontro ao contratempo
Apanha e corre pro abraço
Faz dublê de contra-regra
Lanterninha e bilheteiro
Improvisa, quebra o galho
Se um colega quebra a perna
Quebra a cara, rouba a cena
Pra distrair a audiência
Coringa do picadeiro
Pena que esta clown-ciência
Não tem, na cena moderna
Espaço em altos salões
No meio da gente séria
Pois rir da própria miséria
É a riqueza dos bufões
{Mas diz-se à boca pequena
Que chora o pobre palhaço}
Inspiradíssima. Brilhante. Com magnífico jogo de palavras. Muito belo. Merece ser bem divulgado.
O rosto todo pintado/
desperta riso: o palhaço.
Poucos conhecem, entretanto/
su’alma que chora em silêncio/
e faz da dor a matéria/
que aos outros apenas diverte.