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Chora o Palhaço

 

Chora escondido o palhaço
Chora de dor, de cansaço
Espantalho da tristeza
Rebotalho da alegria
Guardião da velha graça
Patética alegoria

Cor viva no chão da praça
Dá-se ao riso de quem passa
Farol de fogo de palha
Nariz de chorão paspalho
Roupa larga de retalho
Cabelo palha de aço
Trabalho que é passatempo
Tempo perdido no espaço
Dramaturgo do ato falho

Maestro do destempero
Vai de encontro ao contratempo
Apanha e corre pro abraço

Faz dublê de contra-regra
Lanterninha e bilheteiro

Improvisa, quebra o galho
Se um colega quebra a perna

Quebra a cara, rouba a cena
Pra distrair a audiência
Coringa do picadeiro

Pena que esta clown-ciência
Não tem, na cena moderna
Espaço em altos salões
No meio da gente séria

Pois rir da própria miséria
É a riqueza dos bufões

{Mas diz-se à boca pequena
Que chora o pobre palhaço}

2 Responses to “Chora o Palhaço”

  1. Soares says:

    Inspiradíssima. Brilhante. Com magnífico jogo de palavras. Muito belo. Merece ser bem divulgado.

  2. O rosto todo pintado/
    desperta riso: o palhaço.
    Poucos conhecem, entretanto/
    su’alma que chora em silêncio/
    e faz da dor a matéria/
    que aos outros apenas diverte.

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