A falta de acento me afasta, todavia o dever me chama.
Ia contar um segredo na caixa de comentarios perfeitamente acentuada de um amigo, fiz um longo relato e, na hora de mandar, deu erro, sabe como eh? de matar, nao? dai a gente entra facil na espiral errada. Tem que fazer uma forcinha pra girar pro outro lado. Oooohhhhmmmm.
No fundo tudo eh perfeito, eu tenho que consertar os acentos ou nao precisar deles. Tenho exercitado o desapego ultimamente, e o desacento. Mas confesso que quero mesmo a abundancia, e devidamente circunflexa. Um comentario frustrado pode virar um loooongo post, por que nao? assim seja.
A cornucopia da abundancia, segundo a lenda, eh uma espiral que funciona assim: quanto mais se usa, mais riqueza vem. Na vida, isso tambem se aplica: aos ricos, nada falta, tudo abunda. A Gisele Bundchen, por exemplo, agora ate bunda tem. Pelo menos ela assim se acredita e, como efeito magico, sua bunda cresce e se multiplica pelas primeiras paginas do pais tornando-se, portanto, uma realidade abundante. Sobretudo quando se sabe as cifras da poupanca dela, e como abunda! Da Gisele, acho que ate eu. Pelo menos, dou uma espiada, ali na primeira pagina pagando cofrinho. E ainda tenho a gloria de constatar que, assim num relance, minha poupanca parece mais… polpuda que a dela. Nada alem de aparencias, claro. O conteudo eh o que conta. A conta da Gisele tem um conteudo inegavelmente maior que a minha. Isso me lembra a filosofia de porta de banheiro de Branco Leone, mas o que tem o o assento a ver com as calcas?
Isso tudo foi pra confessar que… sim, eu vi “O Segredo”. (pausa para os comerciais)
Eh o que ha de cafona e sensacionalista mas, pra mim, foi uma especie de revelacao.
Ha alguns meses, mais precisamente no dia 29 de dezembro de 2006 (dia seguinte ao meu aniversario de – outro segredo que cai por terra – 38 anos), vinha eu triste e cabisbaixa, chutando lata pelo caminho, quando esbarrei com um amigo, ou melhor, um conhecido com quem costumeiramente esbarro em meus trajetos e raramente trocamos mais que sorrisos e movimentos de sobrancelha. Eis que nesse dia estava eu – talvez pela tristeza, ou pelo aniversario recente, ou por esses acasos inexplicaveis do destino – mais falante que o costume e o papo rendeu assunto e se estendeu a um cafe na padaria mais proxima. Ao final de 2 medias, 2 cafes pingados e 200 g de pao-de-queijo, despedimo-nos mas ele quis me presentear pelo aniversario com um CD que havia gravado pra sua tia, o ja famoso mas ate entao desconhecido para mim “The Secret”. (pausa para os comerciais do livro que desvenda o segredo por tras do sucesso de “O Segredo”)
O que o filme diz eu ja sabia. A biblia fala, a cabala fala, Lair Ribeiro fala, a fisica quantica fala, a psiconeurolinguistica fala, cada um de um jeito: o pensamento constroi a realidade. Simples assim.
A questao eh: se eh tao simples, porque nao somos todos felicissimos? Desejamos o sofrimento?
Nao, temos medo. Pensamos culpas e preocupacoes e criamos monstros. Deve ser por isso que as criancas temem ficar sozinhas, pensando. Quando crescem, nao enxergam mais os monstros que criam.
A gente pensa muito mais no que teme, no que odeia, no que nos indigna, do que naquilo que deseja. Temos que reaprender a pensar, saber querer.
O segredo explica que o pensamento desconsidera o nao. Ha que estar atento as palavras. Exemplo: nao pense num cavalo branco. Impossivel, ja foi criado, esta vivo, trotando, nem eh mais nosso.
Esse eh o poder que temos em palavras, imagens e acoes: criar mundos. Eh maravilhoso e assustador ao mesmo tempo, se aceitarmos essa premissa de forma mais radical.
Assustador porque nao controlamos totalmente nossos pensamentos, e se formos comecar a assumir a culpa do mundo por tudo que nos acontece, ai eh que vamos deprimir na hora.
Mas eh maravilhoso tambem porque podemos mudar tudo, basta criar pensamentos melhores. Essa eh a tese, ou pelo menos foi o que entendi.
A chave de tudo parece ser o humor. Porque o mau humor arrasta os pensamentos ralo abaixo, isso eh uma verdade facilmente comprovavel. E um sorriso sempre melhora tudo, gentileza gera gentileza e coisa e tal. Pura verdade, a gente sabe.
Eh que o mau humor tem certo glamour filosofico. Isso o filme nao fala, adendo meu, mas ha que abrir um parentesis para discutir o impacto da extincao do sarcasmo para o ecossistema social. Outra praga a ser erradicada, nao sem certa nostalgia, eh a maledicencia, esta velha companheira, mas eh fato que tambem nos arrasta aa baixeza, entao passemos a frequentar ambientes mais elevados. Mosteiros no Himalaia, coberturas em Manhattan, essas alturas onde todos parecem felizes e riem o tempo todo. Rico ri a toa, pode reparar. Os sabios tambem sorriem, embora mais discretamente. Estou treinando um riso budico pra ver se abunda pro meu lado.(pausa para a foto)
Porque o segredo eh o seguinte, gente: se voce nao eh feliz, finja! Aja como se fosse, sorria muito, voce percebera como eh facil enganar os outros e ate a si mesmo!
O filme fala de uma historia mais ou menos assim: um artista plastico bonito, inteligente e tudo de bom ( e aparentemente nao-gay, vejam que caso interessante!) nao conseguia arranjar uma namorada. A “terapeuta” (?) percebe que os quadros que ele pinta retratam mulheres com expressoes de desprezo, que olham atraves. Ele entao passa a conscientemente produzir quadros com mulheres olhando para ele, apaixonadas. E eis que, em pouco tempo, ele encontra o amor de sua vida.
Nao eh lindo isso? Eu quero!, pensei. Dai eu percebi que estava igualzinha. Fui ver o que andava escrevendo e, cruz credo! Eu estava escrevendo uma historia que nao queria viver. Ou antes, nao estava escrevendo a historia que quero e, modestia aa puta que a pariu, tenho certeza que mereco.
O segredo que vou confessar agora eh que, nao tendo nada a perder, resolvi fazer a experiencia. (pausa para eu pensar se vou contar mesmo)
Olha, como boa celebridade, eu nao falo da minha vida pessoal, entao vamos falar tudo de maneira generica, ok?
Digamos que ha uns meses atras eu comecei a escrever uns poemas como se estivesse apaixonada e/ou me apaixonando, poemas felizes de amor. Nao foi muito facil, ja que nao estava, mas com um pouquinho de imaginacao saiu alguma coisa.
Gentem, foi coisa de uma semana!! Vamos pular genericamente essa parte, porque essa primeira coisa nao foi assim a historia de amor da vida ainda. Isso pode acontecer, uns alarmes falsos, mas faz parte. O importante eh entrar na lei da abundancia.
Porque o que vou dizer toda mulher sabe, entao volto a falar em termos genericos: quando a gente ta em fase encalhada, nem os porteiros olham quando a gente passa. Mas quando arranja um namorado, eh batata: todos os ex-futuros-casos, peguetes eventuais, potenciais e congeneres resolvem lembrar da sua existencia, aparecer, telefonar, e ateh se materializar por acaso no meio do seu caminho. Nao ha garantia de que, dentre estes, esteja o amor de sua vida, mas as chances aumentam muito.
Entao, o que posso revelar genericamente aos leitores de caras eh que, ao que parece, o amor me achou. Ou, em outras palavras: eu dei as caras, e hoje o amor em mim abunda. Mas eh segredo, viu?
.
P.s.: Estou tentando produzir acentos com a forca( socorro!) do pensamento… aceito dicas e mentalizacoes.
.
ilustracao: Milton Dacosta
o que abunda atrai
Jun 20th, 2007 by Christiana
Posted in Humor, maledicência e filosofia barata (Christiana)
16 Responses to “o que abunda atrai”
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texto apaixonante como você.
bj
guga,
olha quem fala.
bj
Não quero interromper o papinho de vocês dois…mas por casualidade hoje estou postando bundas no Varal, e acredito nessas coisas de que as “bundas” estão no ar, como o amor, o humor, e a falta de ‘^-~´;;>;1” da sua máquina!
Podem continuar!
“A bunda, que engraçada./Está sempre sorrindo, nunca é trágica./(…)Lá vai sorrindo a bunda./ vai feliz /na carÃcia de ser e balançar./Esferas harmoniosas sobre o caos./A bunda é a bunda,/rebunda.” Christiana, não resisti. Agora, não importa os acentos, seu texto flui, você devia escrever mais.
Olga, parabéns, quase copiei para postar junto das minhas bundinhas no Varal.
Ah, Eduardo, não seja ciumento, a abundância é pra todos! Já fui lá ver as bundas no varal, sensacionais! Recomendo.
Olga,
a bunda do Drummond é uma graça, não?
Quanto ao seu conselho, estou escrevendo, bastante, mesmo sem acento, de pé sem assento, e até sem assunto. Ou seja, até que a coisa abunda, mas é que sou tÃmida e não mostro tudo… Agradecida pelo estÃmulo. :)
Beijos..
Christiana,
mostra,
mostra,
mostra!!!!
Bjs
bjs!
Eduardo,
eu sou de famÃlia religiosa e não mostro a “pêra” , nem perÃneo de espécie alguma ;)
Impressionante esse mix de texto reflexivo com texto de matéria da Caras.
Em tempo, desculpe pelo sarcasmo e por não colaborar com o ecossistema social.
A-MEI o texto, Chris. As bundas (sua e da Gisele, que tem BUND até no nome! como não ser aBUNDante?)e também a análise do Segredo. Não que eu acredite nessas coisas mas, que las hay, las hay…
Fico feliz que, como diz nosso amigo japaraguaio, o elevador do amor tenha parado no seu andar. Você merece, e muito!
Andy,
agradecida pela visita e pelo comentário que, aliás, me pareceu simpático e nem um pouco sarcástico. Mas sei lá, né? Quem lê caras não vê coração… :))
Viva,
amei que tenha amado o texto, o segredo e a bundchen da gisele (e a minha!).
hahaha, o elevador do Inagaki é ótimo mas, como sou meio claustrofóbica, e não confio muito em tecnologia japaraguaia, tipo: “la garantia soy jo”, digamos que a escada rolante do amor chegou ao meu andar. Vai passar aà no seu daqui a pouco, ou já chegou? E que ela nos eleve até um jardim suspenso, onde vamos ouvir estrelas até o dia raiar… :) eita que eu tô romântica!
beijos
Ai, q abunda linda!
q texto mais feliz!
q notÃcia boa!
um beeeijo.
Fê,
saudades! coisa boa, né? :)
beeeeeeeijo.
Achei ótimo !
Vc poderia citar outras bundas mais abundantes !
claro, não com pupanças tao polpudas.
Mas ta de bom tamanho ! não a bunda da Bundchem,mas a poupança dela.
O desacento… grande ideia, vou aderir até porque to ficando velho e até minha mulher (quarta ), diz que eu não sei mais onde colocar( o acento claro).
mil beijos
Seja bem-vindo, Luiz Antonio, se acenta aÃ! :)
beijos
abundou minha felicidade ao ler o texto. A primeira parte está impagavelmente divertida. adorei.
A propósito, agora até acho que vou assistir ao filme.
beijão do gordo