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déblogué

Outro dia uma amiga querida que escreve lindamente comentou que odeia quão, opinião compartilhada, ao que parece, pela maioria expressiva da blogosfera. Qual não foi minha vergonha, eu que adoro a moça e prezo muitíssimo sua opinião, mas devo confessar que sou de usar esse e outros tantos termos anacrônicos. Principalmente agora que, por razôes profissionais, sou obrigada a redigir com a riqueza vocabular de um surfista de 13 anos. Alimento secretamente o desejo de começar um conto assim:

Assis andava assaz assoberbado. Tão pouco tempo tinha para ir à botica, quão menos para dissipações tais como prosear com Dona Crisálida. Quiçá pudesse cortejá-la em tempo mais propício, no entretanto andava esbaforido e pouco propenso a proferir piropos e outras graciosidades com que a cumulava em dias de antanho. Preferiu outrossim manter-se alheio, em silêncio pétreo, o que muito contritou a outra cálida senhorinha Crisálida…

 

Isso foi só pra explicar, ao menos em parte, o estilo démodé (ou deveria dizer déblogué) que grassa neste sítio, muito bem ilustrado, aliás, pelo poema abaixo. E antes que os amigos se preocupem pelo tom dramático do mesmo, devo advertí-los de que se trata de um exercício de exagero poético, devo ter ouvido um fado furtivo por aí e quedei-me assim, profuuuunda.

Ai, meus sais.

14 Responses to “déblogué”

  1. isabella says:

    querida,
    estou sem o seu email. entrei no blog, que leio às vezes, quando dá tempo e eu me lembro, sempre adorando…
    que bom que vc voltou pro rio. vamos nos ver. vem ver a minha peça, “traição”, em cartaz até 7 de dezembro, de sexta à domingo no solar de botafogo.
    saudades.
    bjs, isabella

  2. googala says:

    vcs duas escrevem pra caráio( na velha ortô).
    Quão-Bão seria ter 1% desta verve
    (bastava 0.5% de cada uma)
    bjs

  3. Cynthia says:

    Mas o pior é que eu também adoro um “quiçá” (embora nunca 100% a sério), um “decerto” e outras velharias fofas, e sei que meu estilo – pra não falar em muitas das minhas convicções – também é demodé. Mas simpatia ou antipatia por palavras é como por pessoas, não dá pra explicar : assim como adoro você e seus textos, odeio o tal do “quão”. Ah, e Guga, acho-me cá mais rubra e cálida que a senhorinha Crisálida, depois desse elogio ! ;o)

  4. OLga says:

    Christiana, pois eu adoro ler em “estilo demodé”, esses quão, assaz, quiçá… Quando bem usados, misturados, são uma cousa!
    Vale lembrar que o termo machadiano “cousa” é tão bem usado pelo tribuneiro, o querido escritor Andreazza, Casa que você conhece, que até virou marca.
    Um abraço!

  5. Christiana Nóvoa says:

    Oi, Isabella, saudade, já te respondi por email. Claro que vou à sua peça!
    Googa, eu vou ter que dar minha verve toda e ficar devendo um monte pra me equiparar a um tantinho assim da Cynthia, minha guru :)
    Om Guru Cynthia, eu também nunca sou 100% a sério, mas sou perdidamente demodê. Pronto, aportuguesei, agora que fiquei na dúvida se escrevi certo, e você nessas francesices é muito mais versada do que eu. Me esclareça, ó guru :o)
    Olga, bem lembrado, esses meninos tribuneiros são ótimos! Mas não posso deixar de associar o nome da cousa à Fal, outra guru do meu panteão.
    beijos.

  6. Pecus says:

    O poema abaixo parece ter sido escrito por um surfista do século XIX. Nada contra, muito pelo contrário. A idéia de progresso é uma falácia positivista.

  7. Christiana Nóvoa says:

    Pecus, também desconfio muito das vantagens do progresso. Quanto aos surfistas do século XIX, penso que os únicos que havia então eram os nativos havaianos, e não sei bem que espécie de poesia eles faziam. Em todo caso, aloha!

  8. Leo Seabra says:

    Termina esse conto, por favor.

  9. Leo Seabra says:

    Termina esse conto, por favor.

  10. Christiana Nóvoa says:

    Hahaha, Leo, jura que você quer ler isso? Eu até podia tentar terminar, mas ando mais assoberbada que o Assis… faz assim, ó, enquanto eu não faço o conto, você pode ler o folhetim que escrevi junto com minha mãe, de tendência igualmente antiquada, e também inconcluso. :o)

  11. dal says:

    Helena, lembra esse:
    “Riquezas são diferentes
    Ser artista é a vitória última
    Do ouro íntimo sobre a pobreza
    Do gozo crônico sobre a penúria
    Do luxo terminal sobre o fim
    Em meio à praça de guerra, um jardim
    Terra desolada da beleza solitária
    Aos ricos, sou solidária:
    A paixão, a fome e a morte
    Nos irmanam na miséria”
    Mó bom, não? Vosmecê é duca.

  12. Christiana Nóvoa says:

    Nossa, Dalva, esse tem tempo, né? Foi aqui, ó, num sarau onde, aliás, tem uns ótimos seus também. Agradecida pelo resgate. beijos.

  13. István Tsi says:

    Sabe,
    saber falar a língua de ontem é o mesmo que saber falar a gíria de hoje cedo. Outro dia travei o seguinte diálogo com meu filho:
    eu – E aí véi?!
    ele – Você fica rídiculo falando assim!
    eu – quer queu fale como? “Como vai meu prezado primogênito?”
    ele – que quer dizer isso?!
    eu – mais ou menos “como vai meu querido filho mais velho?”
    ele – da hora!…vou falar assim com a Sofia (a irmã mais nova)
    e desde então ele deu de me chamar de meu prezado pai…

  14. dalva says:

    Nada como comer o prato de ontem, requentadinho e talvez com uma banana em cima.
    Revirar baús, achar coisas secretas e inúteis pelo decurso do tempo.

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