um olho do meu pai é verde da cor exata do mar, que muda de chumbo a esmeralda conforme chova ou faça sol. o outro é da cor do céu azul com nuvens brancas.
foi meu pai que me ensinou a nadar no mar, depois da arrebentação, e eu não sei se aprendi. aprendi a segurar no pescoço dele quando vinha a onda porque, estando com ele, nada de mau podia me acontecer.
meu pai sempre vai me lembrar vento, vela, barco, caminhos do tigre, viagens ao léu. frutos do mar, dias de sol, chuva no convés e o meu pai no leme, o olhar longe no horizonte. ou tropeçando na âncora, se enrolando nos cabos, dando topada e praguejando. tenho muito a quem sair.
meu pai também me lembra uma enciclopédia, um almanaque do abacateirol, um compêndio de história, um caderno de estórias que agora estão molhados, se desfazendo e não vou mais poder folhear. causos de família à mesa, citações em latim, resposta pra tudo, pra quase tudo. no quase é que mora o perigo.
nesse momento em que escrevo ele está quase morto, foi o que disse o médico, o corpo não está mais respondendo. eu não sei o que é isso, parece quase tão definitivo quanto a morte, mas tem uma coisa que ainda persiste, a vida, o que quer que isto seja. mas ele não tem mais respostas.
meu pai sempre foi difícil, fácil de amar por ser tão único. o mais bonito, o mais inteligente, o mais meu pai de todos os homens do mundo. não por acaso, foi muito amado, para o bem e para o mal. o amor, no fim das contas, é sempre para o bem, e sei que meu pai será perdoado por todos os seus predicados e desvirtudes, amém.
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update: meu pai morreu às 5:30h de hoje, 19 de dezembro de 2008.
excelso em ascenção
Estou com vc nessa barca
a singrar lágrimas
verdes-azuladas
bj
Christiana, sinto muito, muito mesmo.
Não sei mais o que dizer. Embora só te conheça por aqui, tenho por você um grande carinho.
Beijos.
Christiana, sinto muito, muito mesmo.
Não sei mais o que dizer. Embora só te conheça por aqui, tenho por você um grande carinho.
Beijos.
Oi moça,
Conheci você durante uma viagem pra São Paulo, em um vôo muito cheio, em que fui buscar um pouco mais de conforto numa poltrona vazia, ao lado de onde você se sentava. Na volta para o Rio, coincidentemente nos vimos novamente e voc~e me deu o endereço do seu Blog. E aqui estou eu lhe escrevendo. Li sobre a morte do seu pai… na verdade não sei se realmente foi o seu pai que faleceu mas, se realmente foi, meus pêsames, do fundo do coração. Vi que sua admiração por ele é imensa e me emocionei ao ler o que escreveu. Parabéns pelo pai maravilhosos que voc~e teve, que te deixou lembranças indeléveis. Que todos pudessem se lembrar dessa forma de seus pais!! Lembre-se que, antes de tudo, você é uma privilegiada!!
“Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória. Porque assim é preciso
Para que tu vivas”.
Hilda Hilst
Um abraço,
Junior
Sinto muito, muito pelo seu pai, Chris. Porque você é poeta e porque ele era do mar, me lembrei de um poema lindo que fala de pai, de mar e de morte. Pode não ser um consolo, mas um pouco de beleza sempre faz bem, né ?
Full fathom five thy father lies;
Of his bones are coral made;
Those are pearls that were his eyes;
Nothing of him that does fade,
But doth suffer a sea-change
Into something rich and strange.
Sea-nymphs hourly ring his knell:
Ding-dong,
Hark! Now I hear them – Ding-dong, bell.
(Teu pai repousa a trinta pés
De seus ossos coral se fez
Aquelas pérolas que vês
Foram seus olhos uma vez.
Nada que é dele se perdeu:
Metamorfose o reverteu
Em algo estranho e nobre
Sereias tangem a seu dobre :
Dlin-dlão.
Silêncio ! o sino agora,
Dlin-dlão, ora.)
Um beijo grande
Cynthia
Puxa Chris, eu sinto tanto pela sua perda… A sua imagem de nadar no mar segurando no pescoco do seu pai e’ linda, e’ uma lembranca querida e cheia de vida do tipo que a gente carrega pra sempre.
Sem comentários querida. Lamento! Conte comigo para o que precisar. Lenora.
Amigos queridos, agradeço as palavras de carinho.
Googa, nem preciso dizer o quanto você me ajuda a singrar esses mares de lágrimas.
Olga, grata por suas palavras, o carinho é recíproco.
Wilson, ótima surpresa, volte sempre. É meu pai sim. Lindo poema, Hilda Hilst é demais.
Cynthia, a beleza sempre ajuda a sublimar a tristeza, né? Belíssima lembrança o poema, Shakespeare é o cara e, coincidência ou não, A Tempestade é minha peça preferida. Sabia que na minha formatura em teatro eu representei justamente o Ariel? E num dos últimos papos que tive com meu pai antes da fase braba da doença, levei o discurso final do Próspero pra ele me ajudar a traduzir… :o)
Leila, valeu. Que bom que você captou a importância dessas lembranças, estarei sempre pendurada nelas.
Lenora, eu conto com você sim, meu anjo.
Beijos e Feliz Natal pra todos!
Christiana
Gostaria de conversar com sua mãe. Ela ainda mora na Marquês de Sabará?
Um beijo e carinho,
Helena
Chris, soube por Lê que você passou por essa tristeza. Aliás, tristeza que nunca vai passar, só diminuir e dormir quietinha entre essas lembranças tão lindas que você compartilhou.
Como definir um pai senão pelas doces lembranças, coisas pequenas, grandes surpresas, lições nem sempre fáceis?
Ficar adulto dói. Dói deixar partir quem amamos. Mesmo um coração doce e sensível como o seu superará, a seu tempo, a dor imensa. Fomos ensinados a mais chorar a perda do que comemorar a vida toda que comparilhamos. Todavia você recebeu dele essa dádiva de saber colher momentos tão simples e tão lindos para guardar e perpetuar.
Desejo que tu e teu filho não sofram muito por muito tempo, para poderem lembrar com sorrisos tudo o que dividiram
Deixo meu abraço e sempre meu ombro.
Passei aqui pq hoje é seu aniversário… Puxa… Repito o que escrevi no Twitter:
Não sei o que dizer, mas sou muito grato a seu pai por ter deixado você no mundo com a arte das suas palavras. Através de você ele continua ecoando beleza e consciência!
Beijos!
sinto muito, Chris. sinto muito mesmo. gosto demais de vc.
um grande abraço.
A flor dos versos
Quando mais um ano a percorre, ela tão viva
È bem um par de frases que ela criva
Na alma de seus fãs, feito tenazes
E estes, de alegria, vão vorazes
Beber em altas nuvens a poesia
Sonhando que mais dia, menos dia
Encontrem sua musa do adverso
E ela ao contemplá-los, cede lume
Que abra um caminho de sonetos
E andar contente em meio aos feios guetos
Já passa a ser p´ra nós real costume
ai…putz…
um beijo Kwini… e obrigada pela visita ao Copablog…ai…nem sei o que falar…nem sei o que dizer, pensar, nem sentir…
muitos beijos mais