Poesia pura, o filme Coraline, animação de Henry Selick sobre o livro de Neil Gaiman. A caprichadíssima cena inicial, da “reciclagem” da boneca pela aranha, já remete a uma série sem fim de analogias entre a costura, a narrativa – trama, enredo, novela etc – e a própria vida. A artrópode sinistra também me trouxe à mente as figuras mitológicas das três parcas, fiandeiras de destinos: uma fia, outra tece, outra corta.
E uma (nem tão) nova história (re)começa.
Coraline, cujo nome contém as letras de Alice, também segue um roedor, passa por uma portinha e adentra um mundo paralelo e maravilhoso, para só depois perceber que está num lugar estranho onde uma mulher poderosa e terrível quer lhe cortar a cabeça (no caso, os olhos).
Mas não são todas as histórias um mesmo sonho reciclado?
Nos dois apartamentos vizinhos ao de Coraline, no casarão, temos o domador de ratos e as duas irmãs atrizes (que me lembraram um continho delicioso de Cora Coralina, poeta-tecelã, o que me levou ao trocadalho do título). Os personagens, ora decadentes, ora espetaculosos, descortinam o encantamento dos universos do circo e do teatro, justamente os ancestrais do cinema nas artes e manhas da ilusão.
No “outro mundo”, todos parecem melhores: mais jovens, perfeitos e encantadores. Só que têm botões no lugar dos olhos.
Todos, menos o gato (de Cheshire?), o único que, como ela, tem olhos de verdade e é capaz de transitar entre os dois mundos. Sonhos lúcidos são para poucos, afinal quem consegue manter os olhos despertos diante da sedução das imagens criadas por nossos próprios desejos?
Coraline é um pesadelo lindamente tecido em cada detalhe. Sensível, inteligente, triste e gracioso como toda criança solitária que, para escapar ao tédio, cria mundos e abismos em si mesma.
Adoei ínceza. ” SONHOS LÚCIDOS SÃO PARA POUCOS; AFINAL QUEM CONSEGUE MENTER OS OLHOS DESPERTOS DIANTE DA SEDUÇÃO DAS IMAGENS DE SEUS PRÓPIOS SONHOS? ”
É verdade; Mas é tão bom sonhar! Dane-se a lucidez. Beijos e saudade. Lenora
vc vai ter que ver de novo, oras
bj
Lenora, saudades, meu anjo.
Veja bem, sonhador lúcido também sonha, só que pode entrar e sair quando quer ;)
guga,
vejo de novo com prazer, desde que seja na companhia do gato ^.^
~bjos~
Christiana,
Gostei muito do filme também, adorava quando Coraline sorria, achava tão cativante…
Vi com óculos de 3D, e juro que aquela agulha de tricô do começo quase furou meu olho! A sessão só teria sido melhor se não tivessem tido a infeliz idéia de levar um jardim de infância inteiro na sala. Tinha uma menina atrás de mim que, acredite, antes de começar já reclamava “tô com medo desse filme!”.
Sobre sonhos lúcidos, eu costumava tê-los. Quando eu percebia que estava sonhando, eu gostava de voar, flutuar pairando sobre a cidade. Faz tempo que não os tenho, sigh.
Bjs, Vladimir
Legal, Vladimir, também queria ter visto em 3D. Mas SEM o jardim de infância ;)
Quantos aos sonhos lúcidos, o barato é esse, conduzir a cena pra onde se quer, voar…
Tem monges budistas que treinam pra sonhar lúcido todas as noites, através de técnicas de meditação. Pra nós, menos iluminados, acontece mais raramente mesmo, mas dá a maior sensação de poder, né?
Volte sempre, beijos.
Entre um mundo “perfeito” em que eu não possa olhar dentro dos olhos do outro e um mundo “imperfeito” em que os olhos sirvam de portal para o vasto mundo interior, fico com o mundo “imperfeito” – ainda que muitas vezes ele seja bastante indigesto.
Como disse C.S.Lewis: “If you look for truth, you may find comfort in the end; if you look for comfort you will not get either comfort or truth…”
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Um presenter ter descoberto as suas poesias! Obrigada!
Oi, Dani, que bom que você me achou! :)
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Cá com meus botôes, também prefiro a dor e a delícia dos olhos abertos…
Beijos e volte sempre.
Chris