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eco a narciso

 

da teimosia de que eu peco … eco

do pensamento que me aturde … urde

como que por encanto surge … urge

a sua imagem que disseco … seco

 

se essa voz débil que re-clama … lama

fosse punhal que a vida amola … mola

veria no amor que descola … escola

portal da luz que a minha chama … ama

 

e se ouso erguer um edifício … difícil

sem ter pilar que me confirme … firme

que diga então meu frontispício … hospício

 

deixo ao espelho a contraparte … aparte

que agora preciso partir-me … ir-me

e espalharei por toda parte … arte

 

 

 

 

[arquivo em audio >> eco a narciso]

John William Waterhouse – Eco e Narciso (1903)

 

 

 

2 Responses to “eco a narciso”

  1. A estrutura do meu poema – soneto decassílabo com eco – foi inspirada no belíssimo “Mortal Loucura”, de Gregório de Matos:

    “Na oração, que desaterra … a terra,
    Quer Deus que a quem está o cuidado … dado,
    Pregue que a vida é emprestado … estado,
    Mistérios mil que desenterra … enterra.

    Quem não cuida de si, que é terra, … erra,
    Que o alto Rei, por afamado … amado,
    É quem lhe assiste ao desvelado … lado,
    Da morte ao ar não desaferra, … aferra.

    Quem do mundo a mortal loucura … cura,
    A vontade de Deus sagrada … agrada
    Firmar-lhe a vida em atadura … dura.

    Ó voz zelosa, que dobrada … brada,
    Já sei que a flor da formosura, … usura,
    Será no fim dessa jornada … nada.”

  2. Bravo, Christiana. Adorei o fechamento com chave de ouro!

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