da teimosia de que eu peco … eco
do pensamento que me aturde … urde
como que por encanto surge … urge
a sua imagem que disseco … seco
se essa voz débil que re-clama … lama
fosse punhal que a vida amola … mola
veria no amor que descola … escola
portal da luz que a minha chama … ama
e se ouso erguer um edifício … difícil
sem ter pilar que me confirme … firme
que diga então meu frontispício … hospício
deixo ao espelho a contraparte … aparte
que agora preciso partir-me … ir-me
e espalharei por toda parte … arte
[arquivo em audio >> eco a narciso]
A estrutura do meu poema – soneto decassílabo com eco – foi inspirada no belíssimo “Mortal Loucura”, de Gregório de Matos:
“Na oração, que desaterra … a terra,
Quer Deus que a quem está o cuidado … dado,
Pregue que a vida é emprestado … estado,
Mistérios mil que desenterra … enterra.
Quem não cuida de si, que é terra, … erra,
Que o alto Rei, por afamado … amado,
É quem lhe assiste ao desvelado … lado,
Da morte ao ar não desaferra, … aferra.
Quem do mundo a mortal loucura … cura,
A vontade de Deus sagrada … agrada
Firmar-lhe a vida em atadura … dura.
Ó voz zelosa, que dobrada … brada,
Já sei que a flor da formosura, … usura,
Será no fim dessa jornada … nada.”
Bravo, Christiana. Adorei o fechamento com chave de ouro!