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Eu choro muito.
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Não que tenha motivo. Ou até tenho, quem não? Mas desconfio que a hiperatividade das minhas glândulas lacrimais independa de bons, ou no caso maus, motivos. As pobrezinhas simplesmente são assim desabridas, derramadas.
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Eu choro no cinema, até aí tudo bem. Mas também choro em novela, seriado enlatado, até em anúncio. Telejornal, então, é uma choradeira só.
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A primeira vez que chorei, estava roxa, afogada no assombro de ter que nascer de véspera, prematura e incompleta. Não lembro, claro, faz tempo. Mas a crueza da vida ainda me azula.
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De alegria ou frustração, saudade, raiva, vergonha… tem vexame pra todo gosto, não dá nem pra disfarçar: o nariz fica vermelho e o olho esguicha.
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Meu pai dizia que eu chorava em jatos. Ainda choro, ele que não fala mais. Por essa falta, volta e meia me sobe aos olhos uma orfandade súbita, autopiedosa, que quase justifica o derrame, mas isso não é tudo. Sei de outros vazios fundos e mudos, inomináveis, como se as palavras, nem elas, fossem mais minhas amigas.
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Como se só água dissesse o que fui, o que nem sei quem sou.
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Como se meus olhos quisessem lavar a dor do mundo.
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Como se eu fosse triste. Como se já tivesse nascido.
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Como se a chuva na praia pudesse regar o sol.
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e quem disse que não rega? Que não nasceu? Que não lava?
Represar sem ladrão é perigoso.
Beijos lacrimalmente secos
guga,
crendice que não? ladrão de lágrimas vai represo :)
beijos sorridentes
“Sei de outros vazios fundos e mudos, inomináveis, como se as palavras, nem elas, fossem mais minhas amigas.”
Triste isso, mas bonito de doer. Chorei. Continuo gostando muito do que você escreve.
do_eu?
do seu?
ou de outra
pessoa?
a dor é
dadivosa
doa
a quem doa
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Também gosto muito quando você aparece, Olga, beijos.
Xô, Rorô.
Choro vá!
Outros cílios
a regar.
guga,
chorar, vá lá…
arregar, jamais!