[Texto realizado com o apoio da Fundação Biblioteca Nacional – Bolsa para Autores com Obras em Fase de Conclusão / 2007]
O circo chegou, o circo!
Lá vêm as mil maravilhas!
O carrossel da alegria
não pára a sua viagem…
A Família Rastaqüera
é uma gente de passagem,
companhia de mambembes,
muita arte na bagagem.
Carroça é casa na estrada,
itinerante estalagem;
onde chegam, fazem festa
para os olhos e os ouvidos:
fincam ferros, sobem lona,
picadeiro , arquibancada ,
instrumentos , figurinos ,
maquiagem , adereços …
e o Cirquinho Rastaqüera
transforma toda a paisagem,
desfila a sua magia,
desfia a sua seresta,
arrebanha a criançada,
enche a platéia de gente
e começa a brincadeira,
os tambores a rufar :
“Com vocês, o magnífico
Cirquinho Rastaqüera:
o maior e mais incrível
espetáculo da Terra!”
A Família Rastaqüera
é uma gente de passagem,
companhia dos contentes,
muito amor nessa carroça.
Certo dia, em seu caminho,
parou uma carruagem.
Dela desceu rica moça
trazendo, todo embrulhado,
um bebê recém-nascido.
Entregou-o à boa Mirna
que à caçula amamentava
e pediu: “Toma, por Deus!
Não posso estar entre os meus
se carrego esta desonra:
um filho na minha idade…”
E, em lágrimas, a jovem
despediu-se do pequeno,
pois não tinha para dar
o amor que ele merecia,
e todo o afeto que tinha,
de fato, não era muito…
(mas não sejamos cruéis
ela era tão novinha,
quase ainda uma criança,
não sabia o que fazia)
Mirna acolheu este filho
no seio que lhe restava
e avisou aos outros seis
que a família aumentara.
Na alegria, na tristeza,
na poeira ou ao relento,
agora éramos nove
mambembes na mesma estrada:
Paco, Mirna e 7 filhos,
sem contar a bicharada…
Um dia, esse menininho
– já um palhaço-aprendiz –
brincando com seus irmãos,
soltou uma gargalhada,
tão elétrica descarga
que acendeu uma lâmpada
na ponta do seu nariz!
Fez brilhar mais outras tantas
em seus olhos, suas mãos,
e quantas ele inventasse
motivo pra dar risada.
E acendeu as fachadas
que andavam na escuridão
pois, mesmo fora de si,
o efeito funcionava.
O caso era um milagre,
o menino, um prodígio!
O garoto-lamparina
acendia o que queria
com a fagulha do seu riso.
E, com suas palhaçadas,
fazia eletricidade
pra iluminar toda a vila,
e cada nova cidade
por onde seu dom passava
virava Cidade-Luz.
Foi assim que Pirilampo
ganhou o seu apelido
e descobriu desde cedo
pra quê veio a esse mundo:
Iluminar de alegria
todo lugar onde passa,
distribuir todo dia
a luz que lhe vem de graça.
O Palhaço Pirilampo
é Sol em forma de gente.
Gargalhada contagia,
ilumina a toda volta,
irradia em toda a praça.
O velho vira criança,
a cidade vira um campo,
a noite parece dia,
mesmo o moço cego espia,
as fofocas silenciam,
o tempo pára no espaço,
o julgamento se adia
e até o bobo adivinha
que esse mundo é mais bonito
quando o palhaço faz graça!
Até que, num belo dia,
chegou a estas paragens
uma grande companhia,
de altíssima envergadura,
renome internacional
e a maior infra-estrutura
para o respeitável público
da humilde localidade.
Então, mesmo Pirilampo
que, afinal, era criança,
foi ver o Gran Alta Circus
na noite de sua estreia.
Nunca tinha visto tigres,
que achou um pouco presos,
por isso estavam tão bravos…
e o elefante, coitado?
Um colosso maltratado!
Mas divertiu-se com os micos
e os macacos amestrados ,
a quem planejou soltar
no escuro da madrugada…
Porém esqueceu de seus planos,
e de tudo mais no mundo,
quando viu em frente aos olhos
um trapezista voando
e, suspensa nos seus braços,
uma menina (ou um anjo?)…
e não tinha medo, tanto
que, para espanto geral,
saltou e pousou sozinha
na plataforma mais alta,
de onde se pendurou
e, de lá, saltou de volta,
cruzando até o outro lado,
linda, livre, leve e solta.
A garota era fera!
Pirilampo achou belíssima
a passarinha lá em cima,
seu nome: Paloma Líbera.
Num impulso iluminou-se
e refletiu do outro lado,
um clarão esfuziante
atrapalhando o show!
Foi obrigado a sair,
mesmo quando se apagou
e encolheu-se envergonhado.
Um brilho remanescente
denunciou o tratante,
excluído do ambiente.
…
Passaram-se muitos anos,
cada circo foi pr’um lado:
os ricos, ladeira acima;
mambembes, ladeira abaixo.
Mas, se esse mundo é redondo,
um dia os seus caminhos
vão se encontrar do outro lado.
…
Enquanto isso, nas feiras
por esse país afora,
Pirilampo Rastaqüera
já era um grande palhaço.
Fez uma bela carreira
e cuidou de dona Mirna,
que andava no bagaço
desde que Paco, cansado,
pendurou sua viola
numa curva dessa estrada.
Seus irmãos, de alma cigana,
cada qual partiu pr’um canto,
e o Cirquinho Rastaqüera
teve que ser desmembrado:
Um deles ficou com a lona;
o outro, com as ferragens;
o maior, com a viga mestra.
Pra irmã mais velha, os bichos
(o cão, a cabra, as galinhas);
pra outra, os tachos de cobre
funilados por seu pai;
pra caçula, a mulher-banda , os
instrumentos musicais.
Afinal, a Pirilampo
coube a modesta carroça,
além de sua boa mãe,
que não durou muito tempo,
saudosa de seu marido…
mas, antes de ir, contou
a Pirilampo do berço
de ouro em que era nascido:
“Se algum dia tu quiseres
reclamar a tua herança,
conta que és a criança
que a jovem abandonou…”
Mas avisou que o amor
não está no sangue ou nome,
não está no bolso ou vestes,
nem mesmo no rosto está,
nem em nada que se veja
e que se possa pegar
com as mãos de carne e osso.
Então foi-se embora a Mirna
para algum outro lugar …
mas Pirilampo guardou
o seu amor num altar
no meio do coração,
todo iluminado, igual
arraial de São João.
E agora, Pirilampo
era um saltimbanco só,
nos barrancos dessa estrada.
Rastaqüera sem ninguém,
sem família e sem vintém,
um mambembe de passagem.
Quem tem luz agüenta o tranco,
não precisa de mais nada.
Toca o bonde, segue em frente,
não pára a sua viagem…
Mas a curiosidade
levou a sua charrete
lá pros lados onde a Mirna
disse viver sua mãe.
Descobriu a casa rica,
na verdade, uma mansão:
altos portões gradeados,
um chafariz no quintal,
seguranças, empregados,
cães de caça e o escambau.
Pirilampo achou bonito
mas não gostou muito não,
aquele aparato todo
parecia uma prisão.
“Prefiro a minha carroça!…”
Virou nos seus calcanhares
e já ia indo embora,
quando um carrão importado
parou em frente à calçada,
enquanto o portão se abria.
Lá dentro ele pôde ver
uma senhora elegante
e muito bem maquiada.
Os seus olhares cruzaram
apenas por um instante
mas foi o suficiente.
A dona saltou do carro
e sapecou-lhe um abraço:
“Augusto Alfonso, és tu mesmo!
Finalmente eu te encontrei…
és idêntico ao teu pai,
a quem um dia eu amei
e não quis ser meu marido!
Vem viver aqui comigo,
minha vida é tão vazia!…
Te prometo regalias,
tenho muito a oferecer!”
E, embora Pirilampo
sentisse pena da pobre,
não aceitou os seus cobres
e decidiu que partia.
Mas deixou-lhe um candeeiro
– pois, de luz, tinha de sobra –
pra iluminar seu dinheiro
e seu coração partido.
Soube-se que esta senhora
decidiu distribuir
um pouquinho do que tinha,
levando grande alegria
às 1.110 famílias
que passou a ajudar.
Ainda descobriu, de quebra,
que era gente e não sabia,
pois a riqueza engrandece
a quem lhe dá serventia.
Só que a dona, inconformada
de perder seu filho lindo,
fez-lhe um retrato falado
que andou distribuindo
nos 4 cantos do mundo :
“Procurado Augusto Alfonso”
E, desde então, Pirilampo
prosseguiu sua jornada,
mas não permite que o vejam
sem peruca e maquiagem,
chapéu coco e narigão.
Em nome da liberdade,
esconde seu belo rosto
sob a caricata face
de um pobre vagabundo.
Um sem-nome,
um sem-teto,
um pateta,
um chorão.
Pirilampo Rastaqüera
é sol em forma de gente.
Quando tem nuvem na frente,
ainda assim ele brilha,
a gente é que não percebe
se não prestar atenção.
E foi rodando o palhaço
e foi rolando essa vida…
Enquanto isso, o tempo
foi fazendo o seu trabalho
e, por essa mesma estrada
onde, muitos anos antes,
ele conheceu o amor,
vem um comboio pesado:
ônibus, elefantes,
maquinária , caminhões…
Pirilampo ainda não sabe
que vem chegando à cidade,
nem um dia de viagem,
o Novo Gran Alta Circus,
totalmente renovado,
prometendo um espetáculo
como ninguém nunca viu!
À frente, o Sr. Gran Alta
e sua intrépida filha,
a jovem Paloma Líbera,
que já era uma mocinha,
porém nunca tinha tido
um noivo, nem namorado,
quase nem pensava nisso,
pendurada lá no alto
do trapézio em que voava…
quando entrou pra companhia
uma grande atração
para a nova temporada:
O Mágico Mr. $ifra
era um galã de cinema.
Os cabelos como o ouro,
o azul do olhar, um poema.
E Paloma suspirava
cada vez que ele sorria
(ela, e mais a torcida
feminina do Flamengo!).
Seu número de magia
era um tremendo sucesso
porque, se o que ele fazia
muito pouco ou nada tinha
de belo ou original,
fazia brilhar os olhos
de toda a comunidade.
Pois tirava da cartola
o que o povo mais queria
e, no final, premiava
um felizardo por dia
com dinheiro de verdade,
em quantidade bastante
pra comprar uma casinha
e uma televisão.
“Nós amamos Mr. $ifra!!!”
– gritavam as suas fãs.
E o Gran Alta todo dia
esgotava a lotação.
Vinha excursão de longe,
gente pelo ladrão.
Paloma, nos bastidores,
caiu por ele de amores
e foi às nuvens no dia
em que ele, lá do palco,
tirou do pé do sapato
um crisântemo de plástico
e lhe atirou na coxia!
Ela nem acreditou
que depois ele a beijou
e a convidou pra jantar,
e ainda disse: “Meu bem,
quero levá-la ao altar!”
Então pediu sua mão
pro senhor Ivo Gran Alta,
que ficou bem satisfeito!
E o acordo foi feito,
então ficou combinado
que, com pompa e circunstância,
Paloma se casaria,
tornando-se, doravante,
Senhora Gran Alta $ifra.
Porém, em vez de alegria,
Paloma foi invadida
por uma angústia de morte,
uma sensação aflita…
mas depois pensou melhor
e achou uma besteira,
ele era o par perfeito,
o que mais ela queria?
Afinal, era uma sorte
que alguém tão importante,
tão galante e cobiçado,
se interessasse por ela,
que nem era tão bonita
(era assim que ela pensava).
Mas o seu primeiro encontro
foi um tremendo fiasco !
Paloma que, no começo,
estava tão encantada,
não queria mais ouvir
ele falar só de si,
e eram muito sem graça
as vantagens que contava:
seu dinheiro, sua casa,
suas roupas, seus três carros…
e o que no início era tédio,
no final já era asco!
Ela planejou fugir
e, mentindo ir ao banheiro,
escapuliu pela porta
dos fundos do restaurante.
Mr. $ifra, um pavão,
demorou pra perceber…
mas, quando entendeu, berrou
com a força do pulmão
para a rua toda ouvir.
De tão possesso, espumava,
e até Paloma escutou,
lá adiante onde estava:
“Quem você pensa que é
pra me tratar desse jeito,
sua guria atrevida?
O que eu queria era ser
o dono da companhia!
Eu detesto o seu cabelo
e você nem é bonita!”
A moça ficou sentida.
Andou a esmo nas ruas,
sem querer voltar pro circo,
e foi dar com os costados
numa praça iluminada,
onde estava aglomerada
uma multidão em roda.
Paloma escalou um poste,
tentando enxergar melhor,
e o que ela viu primeiro
lá do alto, lá de longe,
foi a luz que, há muitos anos,
surpreendeu o seu show
e quase que a derrubou
lá de cima do trapézio,
a mais brilhante, a maior
que já vira em sua vida!
E só depois reparou
no palhaço ali no meio,
pobre, engraçado, feio,
ridiculamente humano,
como ela mesma também,
humilhada, iludida…
e, pensando em sua vida,
chorou até soluçar.
Uma lágrima brilhou
ao pingar do alto poste.
Pirilampo então a viu
e fez um facho tão forte
quanto explosão nuclear
pra iluminar sua musa.
Pegou de um guardanapo,
com ele fez uma rosa
em menos de um segundo,
e foi abrindo caminho
no meio de todo mundo
para poder lhe entregar.
Ao chegar ao pé da viga,
estendeu a sua flor
e o céu se iluminou
com milhões de arco-íris.
Mas Paloma se assustou,
saltou no escuro e sumiu,
deixando o Pirilampo
sozinho, a flor estendida,
no meio da multidão.
Num instante a flor murchou,
a luz se apagou, um breu!…
e, em meio à gargalhada,
a platéia pediu bis.
Pirilampo apareceu,
curvou-se, agradeceu,
sorriu, passou o chapéu
e o público se foi.
Depois, a sós na carroça,
sem a roupa do palhaço,
coração despedaçado,
um homem fosco chorou.
Ele decidiu partir
de madrugada bem cedo.
Ela resolveu voltar
pra falar com ele direito,
explicar que ontem fugira
porque estava envergonhada,
chorando daquele jeito,
com a cara toda inchada
e o nariz de palhaça.
Ela não o encontrou
em nenhum lugar da praça.
Numa venda ali por perto,
soube que ele partira
na direção da floresta,
onde a estrada era escura
e não havia cidade
num raio de sete léguas.
Porém Paloma era ousada,
disso ela bem se orgulhava,
não tinha medo de nada!
E resolveu ir atrás.
Precisava ganhar tempo,
então, pra não ir andando,
ela foi se pendurando
de uma árvore pra outra,
pelas margens do caminho.
Quando avistou Pirilampo
em sua carroça, sozinho,
notou que ele viajava
de peruca e maquiado,
como se o tal personagem
fosse o seu eu verdadeiro,
e imaginou, intrigada ,
que ele devia ser feio.
Mas mesmo assim deu um salto
e aterrissou bem no meio
da boléia da carroça.
Acontece que, com o susto,
não teve jeito nem freio,
o jegue desembestou!…
Foi Paloma quem salvou,
num salto, a situação:
se pendurou e puxou
o moço junto com ela
lá pra cima da palmeira…
a tempo de ver o carro
se despencar do barranco,
desvencilhado do burro,
que continuou carreira
e não foi mais avistado…
Quando se deu conta disso
e viu onde estava agora,
deu a maior tremedeira
no Palhaço Pirilampo.
É que ele tinha vertigem
só de pensar em altura,
mas Paloma, bem segura,
lhe deu toda a garantia.
E ele, como criança,
foi, com os olhos fechados
e dependurado nela
(que era uma mulher bem forte)
até chegarem voando
mas com toda a segurança
ao vilarejo mais próximo.
Combinaram no trajeto
que, chegando lá, fariam,
juntos, um espetáculo
para angariar os fundos
para poderem voltar,
ela, para o seu lar;
ele, pro seu caminho
(e nem carroça mais tinha,
nem seu burro, nem mais nada).
Não houve tempo de ensaio,
só fizeram, cada um,
o melhor do que sabia
e, juntos, o que faltava.
Ele se achava um covarde
com esse medo de altura.
Ela disse : “É só porque
você nunca pôde ver
como é lindo lá do alto!…”
Ela se achava sem graça.
“Não sou alta, não sou linda.
Eu odeio o meu cabelo,
Mr. $ifra tem razão!…”
“Pois pra mim você é tudo
de belo que há nesse mundo!
Queria olhar todo dia
pros seus cabelos de anjo…”
Ele então voou e viu
como é bonito, de fato!
Ela então sorriu e viu
que tinha graça, um bocado!
Ele, lá no céu bem alto,
ela, toda iluminada,
e a vida era aquilo
e não faltava mais nada!
Ao final do espetáculo,
ela afinal o flagrou
sozinho, banho tomado,
sem peruca, sem careca
e, pela primeira vez,
viu-o enfim sem maquiagem:
não um palhaço, um rapaz
pronto pra seguir viagem.
Paloma levou um susto:
como era belo o seu rosto!
Se havia por que escondê-lo,
a modéstia é que o cobria…
A moça até já sabia
que era raro o seu talento,
mas não tinha reparado
que, debaixo do palhaço,
havia um homem tão lindo
de belezas de verdade.
Ela afinal deu-se conta
de que a máscara que via,
embora feia, engraçada,
ocultava outra beleza,
que se revelava inteira
na atitude e no olhar.
Soube que a face mais bela
sempre se esconde por baixo,
e só conseguimos vê-la
quando deixamos cair
disfarces, falsos recheios,
pra ver então o que resta:
se sobra alguém, é uma festa,
você descobriu o amor!
“Muito prazer, meu amor.”
Este é o grande dom da sorte.
Foi assim que sucedeu:
Paloma se iluminou
e enxergou no Pirilampo
o amor de sua vida!
Príncipe no seu ofício,
honesto nos seus princípios,
humilde dentre os humildes,
honrado ante os arrogantes.
Era mesmo o mais bonito
dos belos que conhecia.
Disse pra si mesma: “É ele!”,
porque sentiu com certeza
que agora estava feliz.
E deu-se então a melódia:
O palhaço e a trapezista
juntaram os seus trapinhos
e fizeram um balão!
E assim inauguraram
o Alta-Rastaqüera Circus,
que até hoje faz história
girando ao redor do mundo.
“Olha só quem vem chegando,
é o balão do amor!
Ele chega iluminando,
olha o circo voador!”
Desde então Paloma Líbera
é o anjo mais brilhante
que já voou sobre a terra,
tão livre, tão radiante,
linda mesmo de se olhar!
Pirilampo é uma usina,
pura energia solar!
Viu que essa vida é um salto,
ilumina o tempo todo,
voa alto todo dia.
E afinal, em seus amores,
seus olhos tinham as cores
do muito que viam juntos.
Seus brilhos, todos os risos
que deram de rir ao mundo,
pois isso sim é poesia,
essa é a grande riqueza!
Até sobrava dinheiro
quando, ao fim de cada dia,
os anjos do picadeiro
passavam os seus chapéus.
O povo retribuía
aos saltimbancos dos céus,
e os seus bolsos furados
chacoalhavam como guizos,
plenos, abarrotados!
O número era completo
e o circo estava repleto
do amor que cabia neles.
O senhor Ivo Gran Alta
e a tal Madame Alfonso
tornaram-se muito amigos,
pois ambos sentiam falta
de seu filho e sua filha,
e juntaram-se à trupe,
cuidando da produção
e mimando seus netinhos:
Relâmpago Rastaqüera,
trovejante palhacinho,
e a audaz Libélula Líbera,
mascote dos trapezistas.
Elétricos como o pai,
intrépidos como a mãe,
alegria dos avós,
xodós de toda a família!
O Alta-Rastaqüera Circus
é um balão de passagem,
companhia dos artistas,
muita história na bagagem.
…
E, se você reparar
no horizonte, à tardinha
ou por volta da alvorada,
há de ver a Estrela Dalva
brilhando maravilhosa,
a mais preciosa pedra
dos tesouros deste céu.
Vou lhe contar um segredo:
esse astro que cintila
são Paloma e Pirilampo
em seu vôo de alegria,
gargalhando lá no alto,
piscando pra arquibancada!
E o espetáculo acaba
assim como principia:
amanhã como era ontem,
sempre tudo diferente,
vida nova todo dia.
O circo chegou, o circo!
Lá vêm as mil maravilhas!
O carrossel da alegria
não pára a sua viagem…
…