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Cine-Preguiça

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Eu sofro de uma estranha síndrome, ainda não descrita pela ciência: a Síndrome da Preguiça Crônica De Ir Ao Cinema. Não, não é a Síndrome da Fadiga Crônica, aquela doença cinematográfica do Sean Connery. É preguiça mesmo. Não tenho fadiga alguma, sinto-me perfeitamente bem. Agora mesmo, poderia calçar meus tênis e dar uma volta na Lagoa. Correndo. (ah, deixa eu exagerar, vai)
Mas se você me convidar para ir ao cinema, eu vou dizer “hum…” , enquanto procuro uma boa desculpa. “Agora não dá, estou escrevendo”. Como se eu ganhasse alguma coisa pra isso. Se fosse trabalho, vá lá, mas deixar de ir ao cinema pra ficar escrevendo “di grátis”… nunca consigo convencer os amigos na primeira evasiva e sempre gasto bem mais saliva do que o previsto na negociação. “Tô dura” só é bom argumento com os pobres, os remediados pra cima se oferecem pra pagar. Oh, céus.
Então vou expor aqui todas as minhas razões, de maneira organizada e, da próxima vez que me convidarem, vou enviar este texto pela internet. Parece uma boa tática.
Em primeiro lugar, devo deixar claro que aprecio muitíssimo a sétima-arte, acho das coisas mais interessantes já inventadas pelo homem, depois da asa-delta e da literatura.
Minhas razões não são de ordem ideológica e muito menos artística, mas tão-somente operacionais. Pragmaticamente falando, uma simples relação custo-benefício.
Veja bem. Eu nasci, e tenho a sorte de viver até hoje, num dos lugares mais bonitos do mundo. Não contente em viver no Rio de Janeiro, eu ainda me dou ao luxo extremo de morar no Horto. Pra quem não conhece, o Horto é um mini-bairro espremido entre o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, A Lagoa Rodrigo de Freitas, a Floresta da Tijuca e a Rede Globo (nada é perfeito). Um pedacinho do paraíso, resquício de um tempo que não existe mais. Meia dúzia de ruas arborizadas e tranqüilas, onde sobrevivem arcaicos pregoneiros (olha a vassoura aê…), as crianças soltam pipa e as senhoras gordas põem cadeiras na calçada pra botar a fofoca em dia. Agora mesmo estou escutando o canto de pelo menos 3 tipos diferentes de passarinho, e posso ouvir mais ao longe os gritinhos dos micos. Da janela vejo os morros verdes e, de esguelha, distingo o recorte azulado do pão-de-açucar lá no fundo. Dos fundos da casa, vejo o suvaco do Cristo Redentor. A primavera explodiu a orquídea do jardim em uma nuvem de mini-flores amarelas, e as marias-sem-vergonha estão coalhadas de brotinhos mais gostosos de estourar que plástico-bolha.
Agora, você quer mesmo que eu me enfie numa salinha escura pra ver Kill Bill 2???
(pausa para um cafezinho na cafeteria do Jardim Botânico)
Você vai me perguntar: E quando o dia acaba e a noite chega, mandando pra casa os passarinhos, os micos e os pregoneiros?
Bom, aí eu já dei uma volta na Lagoa, fiz um tour pelo Jardim Botânico, estou confortavelmente instalada, descalça e pés pra cima diante do meu computador, me distraindo com meus próprios pensamentos. Você quer mesmo que eu me vista, ponha sapatos e me desloque no mínimo 2 bairros para chegar ao cinema mais próximo? Sim, porque no Horto não tem cinema (nem farmácia, nem supermercado, nem outros estabelecimentos de primeira necessidade. Pra quem precisa dessas coisas).
Cinema é alimento para o espírito, eu sei, eu sei. Mas sempre existem dietas alternativas. Não tenho paciência pra assistir vídeo nem TV, mas tem livro à beça aqui em casa. Além disso, eu sempre posso ir ali na sala bater um papinho com a minha mãe, que é a pessoa mais interessante de se conversar em todo o planeta Terra. E também tem meus irmãos que, quando não estão sendo insuportáveis, sabem ser muito divertidos. Sem falar do meu filho, que é um espetáculo ambulante. E sempre pode acontecer uma visita surpresa dos meus amigos que, modéstia à parte, são a fina-flor do interessantismo nacional (afinal, são ninguém menos que os meus amigos).
E tem esse negócio do horário, né? Ô coisa chata, ter que chegar na hora certa numa atividade de lazer. Nunca consigo e, em toda a minha escassa filmografia, via de regra faltam as cenas iniciais. Eu sempre juro que vou assistir de novo o filme pra ver o início, mas aí falta ver tanta coisa…
Eu ouvi dizer que o Chico Buarque também tem essa minha doença e que, toda vez que perguntam qual o último filme que ele viu, ele responde “Corra, Lola, corra”. Achei ele super atualizado, porque o meu último, não tenho bem certeza porque foi há muito tempo, mas acho que foi “Titanic”. Ah, teve uns infantis a que a maternidade me obrigou, de lá pra cá, mas foram poucos porque eu geralmente empurro este programa para o progenitor da criança. Tem também os filmes de amigos, em sessões nos Cine Odeon da vida, mas esses, por não terem sido vistos por mais ninguém, não servem de assunto nas rodinhas de chopp, e não livram minha cara quando os assuntos cinéfilos vêm à baila.
Acho que vou convidar o Chico Buarque para um chopp. Tenho certeza de que teríamos assunto para uma noite inteira (pra muitas, mil e uma) sem que nunca um precisasse perguntar para o outro “viu aquele filme?”.
Luis Severiano Ribeiro que me perdoe mas, na minha ordem das coisas, cinema pode não ser a maior diversão. Fazer o que se a minha vida é mais interessante que a da Uma Thurman?
* * *
Já que uma lista dos filmes-que-eu-preciso-ver-urgentemente não caberia nesse espaço, faço aqui uma lista dos filmes que eu vi e de que ainda me lembro. Se quiserem conversar comigo sobre cinema, tenham o bom-tom de se ater a estes títulos.
Hair – mais de 15 vezes.
Embalos de Sábado à noite
Fama
Grease (eu gosto de musicais, fazer o quê?)
Dersú Uzalá
Betty Blue
Meu Tio
Retratos da Vida
Cria Cuervos
A Lagoa Azul (eu era adolescente, pô!)
Pulp Fiction (eu estava grávida – péssima escolha)
O Barato de Grace (Nesse dia eu cheguei em casa e me separei. Não sei se o filme teve alguma culpa nisso, até que eu tinha dado boas gargalhadas, deve ter sido a última vez que gargalhamos juntos. Nada como uma bonança antes da tempestade)
Titanic (pode ser que o Barato de Grace tenha sido posterior, já que nessa ocasião eu ainda estava casada. De qualquer modo, a ordem dos naufrágios não altera o produto)
Qual será o próximo filme que eu não vou ver? Alguma sugestão?

One Response to “Cine-Preguiça”

  1. Bruce Parker says:

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