(Publicado pela primeira vez no epinion em 06/09/2004)
João-bobo
João-ninguém
João-teimoso
João-sem-braço
Não é Augusto
Não é Ricardo
João-sem-nome
O pai, um traço
Um osso em cada tijolo
Mão-de-obra barata
Antes de tudo um forte
É pedra-pra-toda-obra
Viga-mestra, coluna
Um pilar, um poste
Caminhão pra toda terra
João é um pé-na-roda
Leva o mundo na caçamba
Não pensa na morte, um tonto
Pra ele é o tombo e pimba
Meio-morto do que vivo
Não tem nem onde cair
Se sumir, do vão não passa
Bate-pronto, bate-estaca
Mais surdo a cada ribombo
Mais bambo a cada rebarba
Mais bumbo a cada mortalha
Marca touca, marcapasso
A sístole, a diáspora
Não pára, João não pára
Quem não respira, cai morto
Me inspira, senão cê surta
Se expressa, senão eu piro
Suspira, João, suspira
João compassa os impulsos
Ritima seus contratempos
Bate pino, corta os pulsos
Mas não pára de pensar
Tique-taque, pesque-pague
Quem tem pescado tem medo
Na dúvida, aumenta o rádio
Aleluia, Aleluia
Sexta-santa tem moqueca
Deixa pra morrer no sábado
João morre de cansaço
Mas nunca dorme em serviço
Tira a sesta no domingo
Se não for dia de jogo
Dia santo sem novela
É um fantástico auditório
É um bingo atrás do outro
TV todo santo dia
João não vai à igreja
Mas reza pelo flamengo
Maracanã, sua arena
A partida, seu combate
Vermelho e preto o seu gládio
A bandeira, um estandarte
Seu urro, leão da metro
João-bravo vai à luta
Esperar seu lotação
Baldeação no metrô
Se dorme no ponto, sonha
Roncando com a barriga
Só custa um real seu sonho
Recheio doce de leite
Pingado no seu café
É gol, João, mais um ponto
Acorda João-do-pulo
Líder do campeonato
Mengão, João-campeão
Comemora de joelhos
Bebe todas, se esgoela
Faz panelaço, se esbalda
Desmiola, destrambelha
Semana, chega virado
Começa com o pé esquerdo
Concorda uma hora-extra
Por fora do contracheque
Vai receber atrasado
Só na próxima segunda
Na casa de pau-a-pique
Balança o filho de colo
O último, o primeiro
João casou de teimoso
Teve filho de maluco
João-manso
João-tinhoso
João-babão
João-bom-moço
Embala a manjedoura
Faz graça com a outra mão
Sorri com cara de bobo
Macaco, mico-de-circo
Se arrisca na corda-bamba
Se lança, anda na bola
Deita em prego, doma a dor
Malabarista faz bico
Pra sustentar a patrulha
Levou cano de um político
Que dormiu com a estágiária
E se mandou pra Brasília
Sem pagar sua promessa
Geminada casa branca
Emprego, escritório chique
Lá na torre fulminada
(João, teu lugar é aqui)
E alguma liberdade
Em troca de seus talentos
Estátua-viva na Praça
Nossa Senhora da Paz
Perna-de-pau à campanha
Sanduíche de cartaz
Distribuindo santinho
E camiseta de graça
Tio John pra presidente
John Wayne pra prefeito
O caubói tem olho azul
O herói, dentes perfeitos
João vota de palhaço
Bem-feito, João, bem-feito
João rala de otário
Bate ponto, prontuário
Cumpre horário desde moço
Notório retardatário
Perde a linha nas arestas do comprido itinerário
Mora longe, pega o bonde onde o vento faz a curva
Faz manobra, tira chinfra
Surfista ferroviário
João nunca sai dos trilhos
Exemplo de homem decente
Perdeu um dente da frente
Mas nunca perdeu seu trem
Quem foi ao vento perdeu
O assento na van de volta
E rebarrancou aos trancos
Contrário, seu descaminho
João descansa de pé
Traça o almoço depressa
De sobremesa, dieta
No oco onde a carne falta
O pão argamassa a fome
Um trago ressaca a alma
Onde a onda não alcança
O olho de João é gordo
Num gole seca uma loura
Coisa mais linda que passa
Desce mais uma, João
Palita o dente com calma
Enquanto a kombi não vem
Enquanto a vida não vai
João não cai, mas balança
Pacato, aceita o seu carma
Quem espera nunca cansa
Quem ora não se revolta
Segura na mão de Deus
Confia na Sua escolta
Humilde dentre os humildes
Apóstolo bem-amado
O mais puro, belo e justo
Amor, teu nome é João
Firmamento ao rés do Reino
A pobreza por inteiro
A força bruta da inércia
Em redes de malha fina
As meias da informação
É a meia-verdade, a mídia
É o Mal, o Medo, os Modos
As trombetas e os fogos
Três bestas e o armagedon
João, larga de ser besta
Batista, João de todos
Cabeça em cima de um prato
Cordeiro do sacrifício
Banquete de Salomé
João, que mulher é essa?
Perdoai as nossas danças
Tirai os pecados nossos
Aguai-nos santos ungüentos
Guardai os anjos pagãos
Purificai nossos votos
O Senhor seja convosco
Jesus por vós se fez Cristo
O Jordão sob Seus pés
Ela está no meio de nós
Santíssimo João Nosso
XXIII papas são pouco
Pra 6 bilhões de infiéis
Mui putos dentro do corpo
A Bênção, João de Deus
Nosso povo te abraça
A hóstia consagra a Taça
A sagrada comunhão
A Taça do Mundo é nossa
Converte-se o sangue em vinho
E o burburinho da massa
Congrega-se: Evoé
Que o povo não quer só pão
Lá vem o Circo, João
Tio João, arroz-de-festa
João-de-barraco-Baco
Rei Momo braguilha aberta
de Portugal e Bragança
Bagunça, festim, festança
Pajelança, Sapaim
Dom Príncipe João-Sapo
De Orleans-e-coisa-e-tal
Abrindo as pernas dos portos
A todas nações amigas
Camaradas, camarilhas
Caravelas tordesilhas
Mazelas hereditárias
Desse vasto pau-brasil
Naus-capitânias, famílias
Devastando nossas matas
Usurpando nossas tintas
Traficando o litoral
Casa da Maria-Joana
Dona Maria, a louca
E suas três filhas lindas
A Santa-Maria, a Pinta
E Niña, a desinibida
Dando tudo o que se planta
Pedras, especiarias
Paradísias gurias
Tesouros de nossas ilhas
Temperos-vaz-de-caminhas
Da frota de João Cabral
O barco de João não emborca
Dá cambalhota e se vira
Não encharca, não faz água
Não mama nem dá chilique
Emburaca mais embaixo
Não chumba, não vai a pique
Não sabe fazer piquete
Não chia e não xinga
Implora
Se humilha
Rebaixa
Funga
João, um homem não chora
Vaso ruim não se afunda
Cai de maduro, Caipora
Caipira festa junina
Quadrilhas em cada esquina
Morteiros bombando a guerra
Hollywoodiana favela
Ética em síncope
Métrica em fuga
Abalando a música
E a ordem pública
(Bang-balalão
Senhor capitão
Granada na cinta
Escopeta na mão)
Sai da batida
Altos à mão
Foguetório de São João
Meninos-foguete em valas
Os corpos crivados, balas
(cai cai balão minha mão)
Longa noite do solstício
Cadente chuva de estrelas
Medieva cidade-luz
Metralhador holocausto
De uma armistícia quimera
O reconcílio exilado
Desse rigoroso inferno
Cidade-de-Deus, vou não
(não vou lá, não vou lá, não vou lá
tenho medo de apanhar)
João é meio cagão
Tem amor à própria pele
Não quer morar na Maré
Se pica lá pra baixada
Estrada de chão depois
De São Jõao de Meriti
Foge pro interrefúgio
Presépio adentrando a baia
Dentro do João, um campo
Súbito estado de sítio
Toque de se encolher
No interior, uma festa
Espaço pra ir e vir
Ovelha saltando cêrcas
Sonha pular fogueira
Pescaria uma minhoca
Dona boa lá da roça
Subiria o pau-de-sebo
Mordida a maçã do amor
Explode em chuvas de prata
Os fogos de São João
De santo, João tem nada
Só pensa mas não faz, jura
Sabe bem a diferença
Manda ver na caipirinha
Mas nunca buliu na moça
Prefere pegar no vídeo
Carnal, sempre no controle
Larga mão dessa estação
Antes que lhe oprima a Vera
O verão fica mais perto
Todo mundo mais bonito
Joãosinho em mais de trinta
Tropi-carna-bacanais
Avenida-cidadela
De luxo, urubus e ratos
Alegria é mãe do samba
No batuque tudo cabe
Mr. João-Gilbossa-nova
A mulata globeleza
D2, hip-hop, rock
Pagodinho, mestre-samba
Jamelão da velha guarda
Preto-velho, Pai-João
O atabaque esquenta a roda
Roda a saia, pombaiana
Girassola, bate-volta-ao-
Mundo todo capoeira
Aruandê, camará
Berimbau, São Bento Grande
Maculelê bate-faca
Galo cantou, rinha, briga
A porrada é de Angola
Tô fraco, João, tô fraco
O Cravo saiu ferido
O sangue pingando a Rosa
Mas não se deu por sacado
João é rato escaldado
Volta e meia ganha um galo
Quem paga recebe o troco
No jogo, tem que comprar
O chão de João tem mola
Aú é golpe de estrela
A roda volta por cima
Meia-lua, dá rasteira
Golpe baixo, sai na esquiva
Tudo o que revida, volta
Ninguém derruba o João
Toda caça tem seu dia
Toda baixa, sua estima
O João tem seus encantos
Sua ginga, sua prosa
Me Juan you Ivanova
Feijão de todos os pretos
Caviar é uma ova
Do mulato é que ela gosta
A russa só quer negão
(Sobe, sobe, balãozinho
Balãozinho multicor)
O João já tá bem alto
A gringa até que é gostosa
O João no frevo é bamba
Cana brava, bem na fita
Pé-de-forró, segue a banda
Sarra bundas sarracenas
Sacanagem não tem dono
Bêbado é de quem pegar
Cai na vila, carnavalsa
Bloco, rua, abre alas
Sou da lira, fantasia
Até o vazio raiar
A carne do bicho é fraca
Arreia na praia, um lixo
Um sol de furar o coco
A água tá muito fria
A cerveja ficou choca
A coca-cola, um cocô
Arrêgo, João, arrêgo
Racha um táxi na volta
Mas João não é turista
E não tem todo esse money
Taxista cobra taxa
Bandeira 2 e gorjeta
João, cadê seu dinheiro?
Virou mijo na sarjeta
Vai tentar sacar no caixa
Fechado Motivo Assalto
Não tem mais cheque, motivo
Saldo Médio Insuficiente
Passa mal, paga vexame
Pra honrar sua corrida
Zera seus vales-transporte
E fica faltando ainda
A vergonha é engolida
E depois regurgitada
Não tinha engov no bolso
Teve que lavar o carro
Mas aprendeu a lição
Cada babaca em seu galho
Cada ônibus na linha
Motorista acha que manda
Mas também é passageiro
O movimento organiza
Cada qual em sua classe
Executivos primeiro
Segunda pede passagem
Cobrador senta mais alto
Mas não aproveita a vinda
Ir a pé é meio chato
Mas a marcha também muda
Antes lenta do que nunca
Antes câmbia do que ré
A avenida nunca pára
A vista nem sempre é linda
Um dia o folguedo acaba
Tudo o que termina é cinza
Na quarta-feira bem cedo
Quaresma frita a paisagem
A massa deflora o asfalto
João retoma sua lida
João, volta pro lugar
O moço tem vida ativa
Malandragem, seu esporte
Hoje perdeu a lotada
Conexão na Central
Mas não perdeu a esportiva
João voltou ao normal
João nunca sai do sério
Peão nunca perde o eixo
Confiável como um cão
Previsível como o sol
Indomável como um macho
Já a Joana é de lua
Diana dArco da velha
Branca, ímã sortilégios
Bruxa, mantra sua sorte
Negra, filtra seu destino
Encruzilha seu caminho
Ferina, arma seu bote
A Joana é gata mansa
Avança sem dar um pio
Deixa no aroma um cio
Mia na sua orelha
Sobe na sua telha
Vira a sua lata
Entrelinha enfeita a noite
Madrugada, a lua cora
Aguardente flamba os olhos
São João esquece a hora
Quando a onça ronda a flecha
A espreita arqueia o espaço
Incandesce a sua seta
Iridesce o seu cometa
Incendeia o seu sertão
Bichana, mordisca um beijo
Acena sua proposta
Todo desejo é divino
Ser feliz não é ofensa
Relaxa, João, não pensa
É o interdito fruto
A obscena dentada
O absinto pecado
Folheado de maçã
O João não é de ferro
Paraíso à sua porta
Jardins do val-paraíba
Delícias à sua mão
Sou tua, João, sou tua
Meteórica serpente
Crescente, galga um dragão
Selena, brilha um sorriso
A fenda furando o zinco
Estrelas deitando o chão
É o Céu na Terra, João
Um firmamento indecente
Galáctea via pulsante
Buraco-negro abismal
Conjuntos celebraremos
Os astros ofuscaremos
Aurora sul-boreal
João fica sem palavras
Joana, tatibitate
Ardor adoro atear-te
Doar do ar dom à dor
A morte amorar-te arte
Remar-te até marte amor
(O amor não sabe o que diz)
O amor bem sabe o que faz
Poente, o sol é feliz
A alegoria retorna
Lanterninhas na fachada
O casamento matuto
É um perfeito pas-de-deux
Luminarriê, passeio
Olha a cobra, olha o túnel
Preparar para o galope
Anavantur, balancê
Não pára, João, não pára
Meu amor, a hora é essa
O lugar é bem aí
Supernovos somos sóis
O infinito está em nós
Agora, João, agora
O imperativo nos resta
João, deixe a posta aberta
Goze a luz quando sair
Olha a chuva (é mentira)
Olha a ponte (se quebrou)
O anel que tu me tinhas
Era vidro e se acabou
Amor de prenda junina
Não chega nem a agosto
Desgosto não se discute
Paixão também chega ao fim
Afinal João é só
Ator, não rende seu drama
Perde a dama, usa a outra
Coisa fina, gente pura
Custa caro mas é boa
Essa vida é uma droga
Mas a gente se diverte
Êta vidão besta, sô
João, o mundo é uma festa
A noite, uma cachaça
O êxtase, uma pastilha
Embala, João, travolta
Enquanto abala na agulha
A roda-viva não trava
Mas a vista fica turva
Da pista, nada se leva
Essa palha é uma erva
O último a rir da treva
Fia-te luxo, ascende um
A sós, João cai em si
O rato rói a rotina
(Um-dois, feijão com arroz
Três-quatro, feijão no prato)
Trabalhando a formiguinha
Vai enchendo o seu porão
A terrina não tem fim
A retina não tem fundo
Não termina essa montanha
Sua lenha nunca acha
Por muito que se alimente
Sem um sopro, a brasa esfria
Sua história acaba um dia
Sem felizes para sempre
João-ratão se afogou
Na panela, depressão
Cadê o noivo? Morreu
Pela boca, feijoada
A tristeza é baratinha
Mas põe fita no cabelo
Com dinheiro na caixinha
Todo mundo quer casar
Crescer e DNA
Progressão analfabética
Família psi-famélica
Hi-tecnologia bélica
Não pára a evolução
A estufa da tragédia
A pressão tá muito alta
Tá de estourar a gamela
A Terra vai estufar
Sai dessa lama, João
Sai de dentro desse tacho
Sai do fogo enquanto é tempo
Chispa, João, sai debaixo
Caldeirão da minha gente
Rescaldo que não entorna
Caldeira dos desalentos
Escravos de Jó, João
Jogando seu caxangá
Andamento acelerado
(Guerreiros com guerreiros fazem zigueziguezá)
Alegros, ma somos tropas
Por aqui não somos novos
Irmãos de todos os pátios
Pastores de um só templo
De inumeráveis portais
Hordas de todos os povos
Reses nem tão desiguais
Pastando num mesmo tempo
Ruminando sol a sol
João, somos todos bois
Um dia o rojão estoura
Ninguém segura a manada
Não vai sobrar nem o couro
Pra nos encarnar os ossos
Encobrir nossas vergonhas
Em edições luxuosas
Encadernadas, gravadas
Em ouro sobre carmim
As pelancas do tutano
Expostas a céu aberto
Sob a sanha dos abutres
Não vão ficar nem os chifres
Não vai restar nem tapete
De vaca no chão da sala
O burro torce o seu rabo
Ainda que a porca tussa
Sai dessa, bicho, cai fora
Que aqui só tem animal
Rebanho de equilibrados
Cangalhas de gado manso
Peões-bobalhões-sem-braço
Redomas a cada volta
Revultos cada caverna
Curtos a cada circuito
De vista no mesmo ponto
De pé até essa hora
Vaza, João, evapora
Vai dessa pra uma melhor
Mas sequer nos conhecemos (João somos todos eu)
Prazer, isso é o que queremos (Normal, somos todos sós)
Unidos pereceremos (Normais, somos todos sãos)
O pouco é tudo o que temos (Perdão, somos todos maus)
Eu sou João todos sois
João somos todos dois
.
Quer opinião sincera ou confete? Tem os dois:
1- Eu penso que este poema é longo demais da conta. Não que seja ruim, não é isso!!! Mas veja, foi Edgar Allan Poe, falando sobre o tamanho do conto, eu acho, que disse que devia ser de tal porte a poder ser lido de uma sentada…vupt! E assim o poema… a não ser que a gente desembeste e queira ser um Walt Whitman da vida, ô cara chato!!! Então: eu, sabendo que o autor tem o direito de fazer o que quer da sua obra, vejo que esse seu poema pode ser subdividido em trocentos poemas menores! Para ir consumindo aos pouquinhos, feito drops dulcora, lembra?
2- o confete é que você é a azeitona da minha empada, o sol da minha praia, a farofinha da minha feijoada, e que eu dei sorte de te encontrar no orkut!!! Vou aprendendo dia a dia com você, no duro.
Paloma querida,
é claro que eu amo receber confetes, e você, nesse ponto, é um carnaval inteiro, leitora maravilhosa e atenta (além de uma escritora e tanto) e grande incentivadora.
Mas sabe que as objeções e as críticas me dão uma oportunidade maravilhosa de refletir sobre meu processo criativo? Outro dia, por sugestão de um amigo (também leitor brilhante e atento), eliminei 3 capítulos de meu romance, e foi ótimo! Aliás, sou totalmente adepta do “menos é mais”.
Você tem toda a razão quando diz que o poema é longo além da conta! Você não é a primeira pessoa a me dizer isso. Principalmente quando se trata de ler na tela do computador. Já cronometrei, inclusive, e leva cerca de 18 minutos para ler até o fim, tempo quase impensável para uma leitura de blog. Acontece que não sei cortar este poema, não saberia transformá-lo em fragmentos, como você sugere. Já tentei mas as partes, isoladas, perdem o sentido para mim, ainda que algumas qualidades estéticas possam ser ressaltadas. Pode ser que eu elimine uma ou outra estrofe em leituras posteriores, isso sempre pode acontecer. Se vc tiver um trecho a sugerir para eliminação, eu pensaria com carinho neste caso, mas eu mesma, no momento, não sei. O que acontece, quando eu leio, é que eu imagino um boneco joão-bobo balançando em movimento pendular (se eu fosse fera em computador, faria essa animação para acompanhar a leitura do poema, mas nunca encontrei sequer uma imagem de joão-bobo para ilustrar o post) e vou entrando numa “onda” através dos movimentos. Esse poema, quando eu fiz, foi quase uma incorporação, era como se eu “ouvisse” os versos. O todo faz sentido pra mim, embora pareça um grande samba-enredo-do-crioulo-doido. Alguns significados de algumas partes eu ainda estou decifrando. Analisando friamente (porque não houve uma disposição intencional, a princípio), a história passa pelo dia-a-dia, pela política, pelo trabalho, pela religião, pela luta, pelo prazer, pelo amor, pela morte… claro que ninguém precisa entrar no meu barato e muitos abandonarão a leitura antes do fim. Paciência, esse é o meu João-grandão. Também temos hai-kais para os minimalistas, cada um tem sempre liberdade de escolher seu prato. Se você, por exemplo, quiser porções menores, pode fazer assim, joão-aos-pedaços, ou pode preferir outros. Nem todo mundo gosta de feijoada completa, com paio, toucinho, orelha… eu confesso que adoro! :o)
Viu, Paloma? Eu às vezes sou lacônica mas, quando desando a falar, sai de baixo!
Mas agradeço muitíssimo a sinceridade e a oportunidade de discorrer sobre meus processos. Se eu não tiver convencido você, fale outra vez, fale mesmo. Eu sou um pouquinho teimosa mas escuto com muito carinho os amigos. Quem sabe eu ainda mudo de idéia e esquartejo o joão, seguindo seus conselhos? ai, tadinho, faço não… :o))
Beijos!
E eu, porque li de uma arrancada só na primeira publicação neste blog, não no Epinion e amei, repito o que disse então: estou encantada!
E depois, lendo como quem masca chicletes, continuei encantada.
Claro que pode dividir e criar filhotes para cada verso e estrofe, mas, para um João que nem sabe quem é(ou sabe bem demais!), ora, ei-lo assim todo prosa por estar de sapatos engraxados, terno salvo do armário de alguém e desfilando todo engomado para não amarrotar.
Hesito um pouco, mas confesso: esse poema foi meu presente para um amigo de nome João, que anunciava sua aposentadoria. E conhecendo-o como conheço, sei que os olhos devem ter sobrado água.
Beijo, garota! Continue fazendo festa para muitos corações. ;}
Complementando depois de ler teu comentário: o ritmo foi a primeira coisa de que gostei. Faltava alguém porá me assitir lendo e balançando a cabeça. O Zeus! Que cena! ;O
Puxa, Clarice, que alegria saber que o poema serviu como presente para o seu amigo João! Se ele faz a linha “água-viva”, então, podemos até dizer que foi pra ele mesmo que eu fiz! ;o)
E a-do-rei imaginar você lendo e balançando a cabeça… ô balancê, balancê, quero dançar com você…
Beijo!