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(poesia de guardanapo)

Ignoram os olhares
Dos gentios deste bar
Que daqui de uma alta torre
Isolada em meu castelo
Avisto já teu cavalo
Galopando decidido
No resgate do meu corpo
Que julgavas já perdido
Por tua longa demora

Muito te enganas se pensas
Que perdi o meu encanto
Fiz do tédio um aliado
Da ilusão meu romance
Dos anos guardei os fios
Com eles teci um manto
Pra te enredar em meus sonhos
E te alçar ao meu alcance

Qual Penélope sem trono
Bordei pra enganar a vida
E fiz das noites sem sono
Longa trama sobre o nada
Mil e uma vezes tecida
Desfeita de madrugada
Esgarçada pela espera
Cerzida pela esperança

(Inútil perseverança
Desfia o que eu mais quisera
Remenda o que eu não sou mais)

Mas se já te vejo agora
Iluminando o caminho
Lanço a enorme trança ao tempo
Que em seu vão nos leva embora

Faz de mim a tua escada
Escala até minha cela
Ousa profanar meu templo
Que eu te abro a janela
E no calor do meu ninho
Tem repouso a tua espada

Eu te compenso o esforço
Tu me devolves o espaço
No imenso do teu abraço
No infinito do teu dorso

 

 

12 Responses to “Rapunzel on the rocks”

  1. Ângela says:

    Muito lindo, sem palavras, Beijos !!!

  2. Clarice says:

    Hã…hã…
    Se esse guardanapo esteve presente em jantar recente, ouso indagar se a poeta soprou alguma cinza e arrebitou a asinha.
    Allez, demoiselle!
    Se depender de torcida… -.^ (Nem sempre essa piscadinha sai bonitinha)

  3. christiana says:

    Você que é linda, Angela! Agradecida.
    Hahaha, Clarice, nao me leve muito ao pé da letra. Este guardanapo tem uns aninhos mas estava meio esquecido num caderno antigo. Lembrei dele, arrumei uns versos que estavam capengas e postei pra que não se perca para sempre. De vez em quando tenho esses surtos de romantismo. Ai,ai, me sinto tão anacrônica…. Eu devo estar bem uns 100 anos atrasada com relação ao mundo. Ainda bem que tenho você, Angela e outros gatos (ou gatas) pingados que entram na minha onda retrô.
    Ah, e a piscadinha ficou fofíssima!
    Beijos.

  4. Clarice says:

    Estou nesse time também. Entrei na fila do romantismo umas dez vezes e acho muito bom! Nada anacrônico. Amor sempre é atual, não é?
    E é tão bom encontrar papéis guardados, muitas vezes até esquecidos, e deixar a alma voltar para quando se escreveu.
    Esse poema tem um cheirinho de começo de inverno, pescoço pesfumado, copo de vinho, recomeço, entrega, mistério… Xiiiii! ;}
    Nada é coincidência. Tudo tem um propósito, você sabe.
    Beijão.

  5. Clarice says:

    Pescoço perfumado, ora, pois!
    Romântica distraída, confere?
    ;}}

  6. palomadawn says:

    Então… num guardanapo, é? Sei! Só uma coisa: o que é que eles tinham colocado no teu copo, será que sobrou um pouquinho?
    “Absurda perseverança
    Desfia o que eu mais quisera
    Remenda o que eu não sou mais”
    Que tal, heim?? Bonito, não?? Guardanapo…

  7. christiana says:

    Paloma, você é muito perspicaz! De fato, os versos que você destacou foram alguns dos que eu revisei ontem, antes de postar, portanto não constam do guardanapo original.
    Mas que eu fiz o rascunho do poema num guardanapo, no meio de um bar, isso é verdade. Um bar que nem existe mais, chamado “Torre de Babel”. Daí a torre, sacou? ;o)
    E o que tinha no copo? Margherita, se não me engano. O que, pra alguém fraco pra bebida como eu, corresponde mais ou menos a uma dose, das grandes, de absinto! A ponto de me fazer ver miragens, príncipe encantado e outras loucuras. Não aconselho a você porque é o que se costuma chamar “água que passarinho não bebe” e pode fazer lhe mal. Beijos, pombinha.
    Clarice amada, você é sem dúvida uma romântica incurável que nem eu! Tomara que você esteja certa, e que a minha imaginação seja o presságio de uma doce realidade. Adorei o pescoço perfumado, o vinhozinho e o clima de mistério que você descreveu… Que os anjos escutem e digam amém!
    Beijocas pra você também e muito amor e alegrias pra te aquecer nesse inverno catarinense.

  8. Flavio Prada says:

    Poesia de gente grande. Explicitamente escondida nos meandros das palavras a maturidade de uma artista. Parabens Christiana. Vir aqui me estimula sempre. Qualquer hora divulgo alguma poesia que fiz tambem.

  9. Ricardo says:

    Esclarecido o que foi alcoolicamente ingerido, resta a outra pergunta? Quem era esperado? Ou já estava lá? O tal princípe encantado?
    Abraços
    Ricardo

  10. christiana says:

    Agradecida, Flavio. Espero ansiosamente a divulgação de seus versos. Os que pingaram aqui no sarau bem demonstram sua verve lírica. Deixe a timidez de lado, rapaz!
    Ricardo, seu curioso, você está querendo saber muito… o mistério é a alma do negócio, hehehe… dessa vez, suas perguntas vão ficar no ar… ;o)
    Beijos!

  11. Lenora says:

    Lindo! Muito lindo!! Tudo; a cena romantica, o anseio, a poesia. Tudo.Bjs.

  12. Jair Portela says:

    Gostei muito. O título tem muito a ver comigo. Publiquei um livro alusivo cuja crônica-título envio abaixo como colaboração.
    Abraços
    CASTELO DE GUARDANAPOS
    Tenho um especial apreço por guardanapos de papel. Fazem parte de momentos importantes da minha vida. Numa época distante, debruçado na mesa do boteco, às seis da tarde, entre um gole e outro de Crush, rabiscava versinhos ou fazia frasesinhas para ela, qualquer uma, das tantas que amei em guardanapos, depois guardava nos meus documentos e, por ser importante, colocava numa pasta especial que criara no porta-arquivo da mesa da sala. Era o meu word possível, numa época em que virtual era apenas o sonho produzido por nós mesmos, acordados ou não. Uma vez juntei uma quantidade grande deles e me prometi um livro. Foi um exemplar único que chamei de Castelo de guardanapos, arquitetado e construído com o carinho exigível pela delicadeza da matéria-prima, mas ambientado na bipolaridade dos sentimentos, que guardei como quem guarda um tesouro, no máximo segredo. Castelos sempre encerram misteriosos segredos. Há quem prefira construí-los de cartas ou areia, mas esses não têm mais do que o compromisso lúdico e fugaz. Um se desmancha ao sopro leve do vento, o outro com uma lambida despretensiosa do mar. O meu, quis fazê-lo eterno, porque não saberia construí-lo de novo, não poderia reviver cada parede de sua estrutura frágil de forma, mas de intenso conteúdo, nem redecorá-lo com momentos iguais. Não sei que fim deu o meu castelo. Talvez tenha se esfarelado com o tempo ou quem sabe tenha servido de artefato nas mãos de alguém que esqueceu de respeitar o domicilio do meu máximo segredo, num momento de profundo desamor.
    Devo ter encharcado muitos guardanapos com pedaços de olhos machucados, naquela e em outras épocas, mas também lembro de tê-los oferecido para o mesmo derramado fim em incontáveis ocasiões, agindo como segunda ou terceira pessoa do presente. Ombros amigos, na ausência de ombros mais amigos, ou desejados. E quem não teve um guardanapinho mimoso com duas ou três palavras catalisando milhões de promessas, assinado com uma boca? Não precisava de nome, duas ou três palavras talvez. Um bilhetinho carimbado com batom é ostensivo, compromete mais que a impressão digital mais nítida. Imagine um guardanapo assinado assim pela Sophia Loren ou pela Angelina Jolie! Talvez nem sobre espaço para algumas letras e as promessas fiquem ainda mais sublimadas.
    Tenho tanto carinho por guardanapos de papel que nunca os escolho no balaio de liquidações, ao contrário, vou fundo nos mais valorizados. É uma espécie de resgate do tempo em que me aboletava em balcões ou mesinhas capengas, apanhava as folhinhas miseráveis, no mais das vezes cortadas pela metade, e iniciava os rabiscos, quase sempre com a Bic emprestada do garçom, roída até a metade. Hoje me pergunto como ficava, ou me permitiam ficar, horas a fio tomando uma ou duas Cocas-cola, com o máximo de um dedinho magro de vodca, apenas para obter salvo-conduto no meio, sem emitir uma fumacinha sequer além das do cérebro, uma porção de fritas que resistiam flácidas e geladas, gastando pilhas de papéis? Devo muito a eles.
    Nos meus bilhetes de geladeira, as instruções, broncas, recados são feitas em post it. Frieza é importante numa hora dessas, mas os mimos e confissões são reservados aos guardanapos. Talvez por serem absorventes me permitam ensopá-los de intimidades verbais sem que salpiquem e atinjam alguém fora do alvo. Caso não sejam guardados, já terão cumprido sua função: neles guardo resíduos de sentimentos. Como antes.

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