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Eis que encontro um amigo antigo, aquele mais legal, mais fiel, mais sincero, mais tudo-pelos-outros, mais não-tem-outro-igual. Que além de tudo tornou-se o mais bonito, o mais inteligente, o mais engraçado. O mais tem-tudo-pra-ser-feliz.
Se a vida fosse justa, lógica e razoável, aliás, se ela tivesse o mais ínfimo bom-senso, ele seria, disparado, o homem mais realizado sobre a terra. Só que a vida não tem nada de razoável, não se submete ao bom-senso e o meu amigo está – pasmem! – sofrendo de amor.
Não adianta dizer que, se ele declarasse aberta a vaga , em cinco minutos haveria uma fila de mulheres maravilhosas disputando a tapas um lugar em seu coração. Ele não quer uma fila de mulheres maravilhosas se estapeando; quer uma só, aquela que ele escolheu. Com quem fez sonhos, planos, filho, família. A quem fez promessas (e, possivelmente, cobranças…), a quem ele atribuiu o poder de fazê-lo feliz ou infeliz.
Pois que ela, já tendo tirado a sorte grande, ainda cismou de apaixonar-se. Por outro.
Por muito que fiquemos tentados a crucificá-la por sua sandice e dizer que ela não o merece – e isso me teria sido até fácil, já que mal a conheço e admito que, naquele momento, faria quase qualquer coisa para devolver a auto-estima ao meu amigo – sei que a dor de amor, embora tola, insensata, não se deixa enganar por argumentos tão ingênuos.
Afinal, o que tem o merecimento a ver com o amor?
O não merecê-lo não a faz menos amada. Também não faz que ela o ame mais. Só faz, talvez, que ele se ame menos, por chamar de amor a dor que sente. Por querer, por um instante, para ser amado, não ser quem é.
A dor de amor é aquela que nos faz querer vender a própria alma em troca de uma outra alma que nos faz sofrer. Portanto é um péssimo negócio. E, ainda assim, queremos realizar a transação, apesar dos evidentes prejuízos.
Essa é a beleza do amor, e também sua miséria: ele nos faz tramar contra nós mesmos, desejar a dor e até a morte. Faz esquecer nosso próprio nome, se for preciso. E dizer, como Romeu (Romeu e Julieta, ato II, cena II): “Dá-me o nome apenas de Amor, e ficarei rebatizado”.
Tomara que um dia desses meu amigo se depare, qual Narciso, com sua própria imagem num espelho-d’água e, reconhecendo sua beleza, caia de amores por si mesmo. Então sua hoje amada não será mais que um eco distante a repetir para todo o sempre o seu nome em vão ão ão ão ão ão…

13 Responses to “Em nome de Romeu ou Ecos de Narciso”

  1. Leila says:

    Chris, já estou vendo o futuro: seu amigo supera isso e casa com uma mulher maravilhosa daqui a uns dois anos; a ex-mulher se decepciona com a grande paixão e acaba sozinha, na maior nostalgia ao perceber o que perdeu… Pode apostar. Um homem assim não ficará sozinho por muito tempo. Bjs,

  2. Mani says:

    Sem contar que um coração partido pode torná-lo ainda mais irresistível…Mas quando algo assim acontece com um amigo, minha primeira vontade é dar uns catiripapos na cretina!

  3. Donizetti says:

    Existem momentos nos quais realmente lamento a falta completa de lógica em nossos sentimentos. O Amor não poderia ser mais simples e linear? Pensando bem não, né? rs

  4. Fernanda says:

    Chris… então… ele maravilhoso e de coração partido, você maravilhosa também me parece que teve o coração partido há pouco tempo… quem sabe não rola uma paixão entre vocês? Fico na torcida para que você encontre alguém especial…
    Abração.

  5. Flavio Prada says:

    Eu se fosse ele…er…não seria eu, lógico. Melhor começar de novo. Eu no lugar dele, ou melhor ainda, na situação em que se encontra, não sei o que faria. Talvez fosse passar uns tempos em uma ilha deserta mas não sem antes jogar alguém pela janela.

  6. christiana says:

    Leila, eu acho a mesmíssima coisa. Nada como um dia depois do outro. A roda da vida não pára de girar.
    Mani, muito prazer! Vou te contratar pra dar uns catiripapos na moça. Aliás, posso aproveitar e incluir mais gente pra você dar um “trato”? Tem uma pá de gente por aí que anda merecendo, como diz minha amiga Tita, umas boas tamancadas na gengiva!
    Donizetti, desde quando o amor é simples e linear? Ainda bem, né?
    Oba, Fernanda, eu sou maravilhosa? Hehe, não deixa de ter uma certa lógica no que você diz mas, como eu disse acima, desde quando o amor é lógico? E tudo que eu não preciso no momento é de um homem apaixonado por outra. De mais a mais, minhas habilidades marciais não são lá essas coisas e eu ia acabar apanhando na fila da mulherada. Acho que sou narcisa o suficiente pra ficar placidamente no meu balcão, esperando que um Romeu suba até aqui por vontade própria.
    Flavio, a gente nunca sabe o que faria, até porque cada amor é um amor. Mas a ilha deserta pode ser uma boa opção. Defenestrar o/a desinfeliz pela janela também parece uma catarse razoável. Mas Deus que me livre de algum dia aborrecer você, hein?
    Beijos ~românticos~ a todos!

  7. Fernanda says:

    Nossa, Chris! Adorei o que você escreveu! Quanta classe! Tenho aprendido muito com você, gosto da sua postura…
    Beijos.

  8. dal says:

    Nóvoa, you are good! You have a gift! Mas continuo repetindo: eu tenho mó medo de você… você viu meu texto que tem uma foto do filme Romeo and Juliet? Eu quaaaaase que ia ficando com esta foto aqui, mas, de repente, fiquei com saudade do bumbum do Romeo… e da carinha linda da Olivia Hussey, com 15 aninhos…
    ah, l’amour!
    Teu amigo pode ser bom, mas tu: tu és uótema!

  9. Que coisa, Chris… você acabou de descrever o que aconteceu a uma pessoa que gosto muito poucos dias atrás (não foi por causa de uma nova paixão, mas tudo bem)… e tenho certeza que o final será o que a Leila escreveu. Pelo menos torço MUITO pra isso…
    “A dor de amor é aquela que nos faz querer vender a própria alma em troca de uma outra alma que nos faz sofrer. Portanto é um péssimo negócio. E, ainda assim, queremos realizar a transação, apesar dos evidentes prejuízos.”… disse tudo! Já passei pela mesma situação mais de uma vez…
    Clap, clap, clap… :)
    Beijos.

  10. Ricardo says:

    Tem mulher que não merece mesmo.
    ***
    Dor de amor só se cura com o mesmo remédio: amor. Até virar sofrimento. E por aí vai.
    Abraço.
    P.S. Se eu fosse gay, pediria prá você me apresentar esse amigo.

  11. christiana says:

    Uau, Fernanda, quer dizer que, além de maravilhosa, eu ainda sou classuda? Eu que adorei o que você escreveu!
    Yes, Dal, I have a gift: you!! Ser lida e admirada por alguém com seu talento e competência lingüística faz um bem danado ao ego! Então estamos tendo “transmimento de pensação”? Não precisa ter medo, afinidades geram harmonia e coisas boas. Os problemas existem quando as pessoas não se entendem umas às outras.
    Agradecida pelos aplausos, Patrícia! Vindos de você então, uma escritora topo-de-linha (uma das melhores cronistas da atualidade, segundo o antenadíssimo Inagaki, e o moço sabe das coisas)… não é por nada não, mas esta caixa de comentários reúne alguns dos talentos mais brilhantes da blogosfera. E esse mimo todo vai acabar me deixando insuportável. Narcisa perde!…
    Ricardo, tem homem que também não merece. Fazer o quê? O esquecimento é o castigo mais justo nesses casos. E, você tem razão, nada como um amor depois do outro…
    Ah, e quanto ao seu hipotético interesse homossexual pelo meu amigo, sinto decepcionar o eleitorado gay mas ele, pelo menos até onde eu sei , é espada. Se bem que, nesses assuntos, eu não ponho a mão no fogo por ninguém…
    Beijos a todos!

  12. Ângela says:

    Esse amigo existe, tem homens assim no mercado? Tomara que depois dessa decepção ele não mude com seu próximo amor…força para seu amigo! Beijos
    “Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
    Por que sofremos tanto por amor?
    Como aliviar a dor do que não foi vivido?
    A resposta é simples como um verso:
    Se iludindo menos e vivendo mais!!
    A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade..
    A dor é inevitável.
    O sofrimento é opcional.”
    (Carlos Drummond de Andrade)

  13. Leila says:

    Nossa passando aqui casualmente, comecei a ler este lindo texto seu “nuss” que lindo , mas sei o que � amar.. e n�o ser amado o cora��o � uma coisa teimosa ..por mais que mandemos que ele pare de pulsar por algu�m ele n�o nos obedece e
    tem sua pr�pria vontade, ja percebeu isso e qdo se apaixona tb n�o nos pede ordem nem opini�o..sai amando descompassado e desenfreadamente e qdo vemos estamos loucos de amor e o pior? nem sequer sabe se o outro cora��o amou tb … mas fazer o que ele � um org�o com movimentos involunt�rios e com isso com sentimentos tb. Bom falei, muito pra quem s� ta de passagem adorei teu canto espero que teu amigo que hj sofre t�o logo encontre um amor pois nada como um novo pra se esquecer do antigo… um grande beijo….. Estarei aqui de volta

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