Feed on
Posts
Comments

?abre alas

tongue.jpgPra começar, a quem interessar possa, um breve relato da passagem do furacão Stones pela cidade, no último fim-de-semana:
Não, crianças, eu não fui!
Vou mandar fazer uma camiseta pra deixar de herança a meus bisnetos. Se até lá um Mick Jagger ducentenário ainda for ídolo pop, pode ser que eles me execrem por isso. Ou pode ser – e é bem mais provável – que não dêem a mínima. “Não foi aonde, bisa? Rolling quem?”
Assisti pela TV, do conforto do meu sofá. Peguei o show no meio, porque antes estava vendo um filme maneiro em outro canal, que não consegui saber o nome porque já estava começado. Tudo bem, quem liga para inícios? Os fins justificam os meios. Comecei pelo momento em que eles tocaram Wild Horses, uma música que eu adoro. Mas no meio daquela muvuca de Copa é que eu não queria estar, nem a cavalo.
A melhor coisa do finde foram @s amig@s de São Paulo – e do Rio também – que encontrei, e os novos amigos que conheci. Por falar nisso, onde estão os do Paraná que não vieram, ou será que vieram e eu não vi?
A Patrícia, minha amicíssima virtual que finalmente encontrei ao vivo, não aguentou as condições de temperatura e pressão do show e veio se refugiar aqui em casa; pegou o finalzinho pela TV. Donizetti, Viva e companhia chegaram mais tarde, Inagaki e respectiva trupe sucumbiram à exaustão pelo caminho.
Por aqui foi tudo ótimo, a noite estava linda e o papo, agradabilíssimo. Juntou-se a nós meu vizinho Bigode, cineasta, que trazia notícias da área vip. Viva (verdadeira locomotiva social da blogosfera) estava muda, mas trouxe sua linda e personalíssima filha Luna, que se expressava por ambas. Patrícia, que pegou no pesado na direção fazendo SP/Rio/SP em um único fim-de-semana, chapou no sofá da outra sala. Depois ficou com vergonha, imagina! Eu compreendo totalmente, sou ativista ferrenha em favor do sono livre. Acho que todos deviam dormir muito para ter mais saúde, melhor humor e consumir menos. Dormir é uma atividade pacífica e ecológica, diria mesmo revolucionária! A tirania da produtividade maníaca tenta patrulhar este nosso direito fundamental, impondo que a gente faça tudo, se informe de tudo, leia tudo, vá a todos os eventos e conheça todo mundo.
Conhece-te a ti mesmo, já dizia Sócrates. O sono é uma atividade solitária, pessoal e intransferível, portanto um excelente momento para se conhecer. Mas isso já é outro assunto.


No dia seguinte, fui com meu filho encontrar o pessoal no Leblon, para um passeio à beira-mar antes da caravana levantar acampamento. Leo adorou todo mundo, especialmente o Donizetti – que, entre outras tantas qualidades, tem uma tatuagem do morcego do Batman no braço esquerdo – e a Luna, que teve muito assunto com ele, além de ser uma gatinha. Meu garoto, já investindo no futuro: ela tem 18, ele 10; daqui a algum tempo não parecerá tanta diferença.
rei_momo.jpg
Foi tudo muito divertido, despedimos do povo e tomamos um táxi para casa mas não foi tão simples: pegamos o trânsito interrompido em toda a Rua Jardim Botânico pelo Suvaco do Cristo. Saltamos para atravessar aquele trecho a pé, coisa que fazemos costumeiramente. Pensava cortar caminho por dentro do Jardim, um lindo passeio de menos de 20 minutos. Porém, para nosso desespero, o parque estava fechado, na certa uma medida de proteção contra depredações durante a passagem do bloco. Pensando bem, faz sentido. Só que isso significava que, para chegar em casa, teríamos que atravessar uma densa multidão da folia que tinha acabado de terminar e ainda não se dispersara. Os muros do Jockey eram um mictório a céu aberto mas a calçada junto a eles era o único lugar onde se podia caminhar, por entre os charcos de mijo e cerveja. Para chegar até esta “clareira”, tive que me embrenhar, junto com o Leo, num apertado corpo-a-corpo.
Pra quem não queria se aglomerar nos Stones, acabei, vejam vocês, me espremendo no Suvaco. Não preciso dizer que o budum era nauseabundo. Não é ser carola não, mas acredito que o sovaco (como querem os puristas) de Cristo devia ser mais cheirosinho. Aquilo era mesmo o suvacol do demo! Muita gente junta, bêbada ainda por cima, fede como o inferno.
Longos minutos depois, já livres do pior sufoco, tivemos apenas que abstrair das cenas grotescas de pessoas vomitando ou sendo carregadas com os olhos virados. O fedor que imperava agora provinha das emanações sulfurosas do pântano a nossos pés.
Um homem-coelho com tanga de Pedrita veio pulando em nossa direção, era enorme e mais parecia um canguru das cavernas em rota de colisão. Empurrei o primitivo roedor gigante pro outro lado mas ele ainda voltou por trás pra puxar meu cabelo. Um perfeito exemplo do que o Dr. Claudio Costa chamou de Id desenfreado no comentário ao último post. A falta de noção do ser humano imposta ao próximo de maneira estúpida e abusiva. Sai pra lá!
Quando viramos na Ponte-de-Táboas, veio uma lufada de ar fresco pelas grades do Jardim e constatamos que é uma glória ter espaço pra respirar.
Entrar no Horto, pra mim, é como chegar em casa. Poucos minutos depois, eu já estava embaixo do meu chuveiro, tomando um banho refrescante e perfumado , este luxo supremo da vida. Eu amo ficar em casa, fazer o quê?
Então é basicamente isso que vou fazer no carnaval: ficar em casa até passar. Sem nada de bom pra assistir na TV e um jornal minguado, que só fala disso.
Olha, eu gosto de samba, acho o maior barato as pessoas cantarem, dançarem, batucarem e se divertirem, mas é um saco essa ditadura carnavalesca. Esses tumultos em forma de arrastão que tolhem nosso direito de ir e vir, essa orgia mercantilizada e institucionalizada, esse acontecimento midiático espalhafatoso.
Viajar nessa época também é chato, as estradas cheias, tudo caro.
Vou ficar em casa e dormir muito.
Ziriguidum e paz a todos.

15 Responses to “?abre alas”

  1. Leila says:

    HA HA HA, adorei a sua narração do sufoco no Suvaco, o homem de Id desenfreado…
    E pensar que o Suvaco antigamente era um bloco pequeno, de uns anos para cá é que virou moda e ponto de azaração.

  2. Cynthia says:

    Uau, exatamente o meu roteiro para o carnaval : ficar em casa, dormir muito, e só ouvir as músicas que eu mesma escolher e puser pra tocar, só assistir aos filmes e noticiários que der vontade. Isso é que é feriadão…
    :o*

  3. christiana says:

    Leila, o Suvaco era tão pequeno que cabia DENTRO do Horto. Lembra dos ensaios no Clube Condomínio? Até eu fui a alguns… mas a coisa extrapolou a capacidade do bairro e agora passa por fora, do Bar Jóia até a Praça do Jockey. Este ano bateu todos os recordes de público, parece que foram mais de 50 mil pessoas. Não gosto assim não. Caí ali desprevenida mas ano que vem, no dia do Suvaco, vou ficar quietinha em casa.
    Cynthia, faz muito bem! Passe o carnaval no sofá, com seus gatinhos ;o*
    Beijos a todos.

  4. Fê... says:

    Oi, LINDA!!!!!
    Que bom que você voltou!!!!
    Já passei carnaval aí, mas vi com outros olhos… olhos de turista… fiquei num hotel lindo, fui mto bem tratada, vi o desfile no maior conforto, a achei tudo lindo demais… meu coração batia junto com as baterias das escolas de samba… foi maravilhoso… mas imagino que para vocês, moradores, realmente a cidade fique um caos…
    bom feriadão pra você e muitos beijos!

  5. “Não foi aonde, bisa? Rolling quem?”
    Ainda se desse para passar a mão na bunda do Mick…

  6. Leila says:

    Chris, eu nunca fui freqüentadora do Suvaco, eu saía é no Simpatia. Mas tinha amigos que iam no Suvaco ainda nos anos 80, era bem diferente de hoje em dia.
    O Simpatia também ensaiava no Condomínio uma época, não sei se ainda é assim. Era muito divertido e bom de paquerar, sem ser lotado.
    bjs,

  7. Doni says:

    Eu vou fazer o “filo-folia” (tenho que ler só uns 2000 anos de filósofos para umas 5 cadeiras da minha faculdade nova) hehehe Olha, gostei mto do Leo tb! Avisa que logo estarei por aí novamente!

  8. Luninha says:

    Ah, eu não falo tanto assim!=þ Adorei a discução sobre Fidel Castro e Cuba as 2 da manhã na sua casa!! Eu gostei muito do Leo também, ele é muito esperto e tem um gosto muito peculiar para apenas 10 anos!! Nós que somos do Rio, não precisamos esperar os paulistas para nos encontrarmos, né?! Temo que combinar de sair!
    Beijinhos

  9. Flavio Prada says:

    Bem, Chris, como somos do mesmo time, quando os Stones se apresentavam, eu dormia. E depois também. Eu penso que eu até arriscaria ver um show desses mas o que me preocupa de fato é a dimensão que as coisas assumem no Brasil. O espetáculo deve ter sido mesmo muito legal, apesar de que acredito que 90% das pessoas ali tenham assistido a um show pelo telão em meio a muitas cabeças. Mas isso vira um acontecimento de dimensóes estratosféricas e todos só falam disso. Isso me faz pensar que cada vez mais as pessoas se deixam levar pelo que determina a midia. As pessoas nao pensam mais e de consequencia não agem segundo seus projetos. No Brasil isso é assustador. O caso da moça do show que beijou etc. é de matar. Ao menos, como consolo, tem o teu relato que é delicioso, apesar de meio fedido. Beijos.

  10. Ricardo says:

    Chris
    Estivemos aí no Rio, para ver os Stones. Quarenta e quatro horas de estrada, poucas horas fora o ônibus – só o tempo de ver o show.
    Uma multidão inacreditável, um tanto mal-educada (muito embora em nunca soube de multidão bem educada no Brasil), mas extremamente animada.
    A visita ficará para outra oportunidade, quando houver mais tempo, que amigos se deve visitar sem atropelo ou compromissos marcados.
    Abraço

  11. christiana says:

    Fê, que bom que tem lembranças maravilhosas do carnaval carioca. As minhas melhores memórias da cidade não são as carnavalescas, realmente, mas compreendo seu deslumbramento. As escolas de samba são um espetáculo belíssimo de ver (trechos, porque cansa ver tanta mulher pelada) mesmo pela TV . Nunca fui ao vivo porque na muvuca eu não tenho coragem e os lugares especiais são muito caros. Nesse caso, eu não recusaria um convite vip para um camarote. Só não sei se teria gás pra aguentar até o fim, são muitas horas.
    Priscila, você tem esse fetiche com a bunda do Mick Jagger? Sei não, acho que, depois de tantos anos arrochada naquela calça preta, ela já deve estar mais pra um maracujá de gaveta…
    Leila, eu lembro dos ensaios do Simpatia aqui no Horto, também. Era legal sim, no início, mas depois ficou inviável. Pior ainda era o dia da concentração do Suvaco, uma loucura, um mar de carros estacionados e de gente nas ruas que o bairro não comporta. Foi um alívio quando transferiram tudo daqui, não tem tido mais nada de carnaval no “Condomínio”. O problema é que os pequenos blocos “cult” se expandiram descontroladamente e a coisa virou esse monstro que é hoje.
    NOTA DA REDAÇÃO: E o roubo do Museu da Chácara do Céu durante a passagem do bloco das Carmelitas?!! Picasso, Monet, Dalí e Matisse, de uma tacada só! Estou chocada.
    Donizetti, ótimo programa de carnaval sua “filo-folia”! Bom saber que você volta em breve :)
    Luninha, você é um encanto e alegra qualquer ambiente! Pode falar à vontade que, como já dizia o sábio Chacrinha, quem não se comunica, se trumbica!
    Flavio, não dá para agir segundo nenhum projeto próprio, durante o carnaval: você é refém de um acontecimento. Dormir é quase a única coisa autônoma que se consegue fazer, isso se não tiver um bloco passando na sua rua!
    Aproveitando que o Suvaco já passou e o Urubu Cheiroso (pequeno bloco da comunidade aqui mais próxima) também, comecei esta noite meu projeto de sonoterapia. Vou terminar o carnaval 10 anos mais jovem.
    Ricardo, vocês fizeram visita de médico, não deu nem pra dar uma esticada aqui em casa depois do show? Puxa vida! Mas ainda bem que sobreviveram ao “Id desenfreado”.
    Agora o senhor e sua senhora podem ir agendando a próxima excursão. Faltou ir à praia, ao Cristo, ao Pão de Açúcar, ao Jardim Botânico e, acima de tudo, faltou passar um dia inteirinho jogando conversa fora aqui no solar.
    Beijos a todos

  12. Viva says:

    Ah, Chris, que delicioso relato o seu!
    Entendo perfeitamente a sua falta de ânimo para sair de casa. Só pode ser devido à localização privilegiada do Solar. Eu mesma não tenho vontade de sair daí,rs.
    Obrigada pelas lindas palavras.

  13. Flavio Prada says:

    Chris, sem polemica, mas eu sempre agi segundo meus projetos durante o carnaval. Eles levam em conta o ambiente e os acontecimentos, mas por isso mesmo é que nessas circusntancias o melhor as vezes é uma saída estratégica pela esquerda ou mesmo uma adernada a bombordo. Sem esquecer da cama com leiçois macios. Beijos foliões.

  14. dalva says:

    Que bom que você voltou, Chris! Você faz falta!

  15. Fê... says:

    É… fiquei foi mesmo num camarote de uma empresa que nos convidou… muita mordomia… inesquecível… mas impossível fazer novamente se tiver de ser com recursos próprios… rsrs
    beijos!

Leave a Reply to Luninha