Teve essa história da Laurita que, quando criança, era obrigada a fazer tricô. Era a hora em que a sua mãe prestava serviço voluntário na igreja e, não tendo com quem deixá-la, fez este acêrto com a Dona Ditinha, tia da sua comadre Conceição, que dava aulas de tricô para um grupo de senhoras do bairro. Ela tinha que ir, fazer o quê?, mas era uma agonia pra Laurita aquilo. Um monte de velhinha lembrando do passado, falando da vida de gente que já morreu, e ela à beira da morte por tédio fulminante. Meeeeeeeetros de fio, hooooooooooooras de papo de velhinha, e a Laurita mais querendo era namorar e falar no telefone com as amigas. E tome encomenda de gorro pro seu irmão, sapatinho pra filha da vizinha, meias pra toda a família, e pra ela era a sua mocidade se perdendo em ponto meia e ponto tricô. Quando as carreiras estavam desiguais, Dona Ditinha desmanchava e mandava fazer tudo de novo. Ela não ia discutir com a tia da comadre da sua mãe, então fazia, né? Não se preocupava em terminar logo, já que tecia mesmo para esperar. Um dia a mãe da Laurita arrumou outra solução, ou vai ver largou o voluntariado, fato é que ela se livrou do martírio das agulhas.
O tempo passou, aaaaaanos a fio. Laurita namorou muito, casou. Mas um dia deu uma coisa nela, sei lá, uma nostalgia. Passou numa loja, comprou um par de agulhas enormes, um cesto cheio de novelos bem felpudos e começou a tricotar com luxúria. Fez um xale deslumbrante, inveja de todas as amigas, até da Lulu, que vai a Paris como quem vai à esquina. Desde então não parou mais, fez cachecóis, pulôveres e até um sobretudo. Confessou-me que anseia pelo momento de chegar em casa ao fim do dia, pra sentar na poltrona e tricotar seus paninhos. Tem ido pra cama cada vez mais tarde, noite dessas já era dia quando ela adormeceu sentada, ainda segurando uma ponta do fio. Coincidência ou não, sonhou com labirinto.
.
.
.
ele sempre esteve; ele sempre estará
bjoo
Helena… eita trem mais complicado esse aqui! Estou exaurida só de me registrar, mas enfim, aqui estou. Como sempre gostei do texto, admirei as referências mitológicas, babei em cima de tudo. Sou tiete sim, e daí? Abração!
guga,
como diria o finado Roberto Freire: sem Teseu, não há solução.
Dalva,
tá difícil de se cadastrar? Sinto muito, ainda estou ajustando o blog. De qualquer forma, agradeço o empenho e a dedicação. Ter você como “tiete” me enche de orgulho, também sou sua fã.
Beijos!
Gostei muito do que o webmaster disse, embora eu não entenda grego. Explicadíssimo.
Ah! o conto ficou legal. Já estava com pena da Laurita, mas acabou tudo bem.