Feed on
Posts
Comments

2dolls.JPGQuando eu nasci, minha prima tinha 6 meses. Filha caçula da única irmã do meu pai, ela foi minha primeira amiga e também adversária nas primeiras disputas, brigas de unhadas e puxôes de cabelos nas quais eu, via de regra, levava a pior, já que, além de mais nova, nasci prematura e era mirrada, fracota e chorona. Os anos foram passando e continuamos unidas como unha e carne (leia-se a unha dela na minha carne e vice-versa, mas beleza, faz parte). 
 
 
 

Gostávamos de dizer que éramos primas-gêmeas, embora fôssemos quase opostas fisicamente, eu de cabelos castanhos, curtos e cacheados, ela de longa cabeleira loira e lisa – alvo da minha inveja mais primária. Passamos juntas pelas delícias e agruras da infância e da adolescência, sempre gêmeas, sempre diferentes, eu magricela e despeitada, ela curvilínea e desenvolvida, dona de um belíssimo par de peitos – novo objeto da minha inveja, agora secundarista.

Além de compartilharmos família e amigos, nossos interesses iam sempre na mesma direção: eu comecei a aprender piano, ela se empolgou e foi aprender também, prestamos juntas o vestibular pra comunicação na puc, que ambas trancamos pra fazer teatro, e depois ainda teve a história dos maridos… lá pelos 18 anos, começamos a namorar dois colegas do teatro, amigos entre si. Namoramos com eles muitos anos (e terminamos e voltamos a namorar umas tantas vezes) até que casamos, com 15 dias de diferença, uma madrinha da outra.

Então a vida nos afastou um pouco, não sei bem por quê, acho que ela também não, parecia que nossos interesses tinham ficado diferentes. Eu parei com o teatro e abri uma loja, depois me formei em psicologia, ela resolveu ser atriz profissional e fazer novela, eu tive filho, ela não, eu me separei, ela não. Morávamos relativamente perto mas deixamos de nos ver, as ligações ficaram reduzidas a natal e aniversários. Ainda que, depois da gravidez, meus peitos tenham finalmente dado o ar de sua graça e que a brancura incipiente dos meus já longos cachos me tenha feito adotar uma tintura quase-loira, nossa gemelidade, aparentemente, se perdeu na noite dos tempos. 

Semana passada ela fez aniversário, era o dia da ligação anual. Mas eu não tinha mais o telefone dela, então resolvi mandar um email. Daí me deu uma puta saudade e escrevi quilômetros contando a vida, a mudança pra São Paulo, o emprego novo, etc. Soube por parentes que ela tinha se separado no último ano e pedi uma atualização completa. Uma semana se passou e neca de resposta, achei que ela tivesse me riscado definitivamente de seu caderninho. Até que chegou a missiva, com as desculpas pelo atraso porque enderecei a mensagem pra uma caixa postal semi-inativa, juras de saudades correspondidas e a requerida atualização dos últimos tempos. Trocamos MSNs e, no mesmo dia, falamos horas, quase uma tarde inteira. Botamos a vida toda em dia, notícias da família de um lado e de outro, mas a melhor novidade é que ela agora está escrevendo. Eu já sabia que ela levava jeito pra a coisa desde criancinha, então dei a maior força e sugeri que ela fizesse um blog.

Hoje recebi email dela avisando que seguiu meu conselho e apresentando seu recém-inaugurado sítio. Fui lá e morri de rir com as histórias, me emocionei… fiquei super orgulhosa, ela é muito boa nisso! Também fiquei feliz porque, escritoras e blogueiras, estamos gêmeas de novo.

Passem lá pra conhecer a Macaia e digam se ela não é a minha cara. 

11 Responses to “Minha prima-gêmea”

  1. Pinto says:

    A pessoa muda pra SP e fica de mal com a outra…!

  2. Engraçado o título do post. Tenho uma prima a qual chamo prima-gêmea também, filha da irmã de meu pai. Seis dias nos separam. Quando novos éramos bem unidos (não apenas eu e ela, mas outros dois primos nascidos no mesmo ano), mesmo morando a cerca de 100km de distância, pois nossa família era (ainda é) bem unida. Como sempre, o tempo passa, namoros, casamentos, etc, e o contato ameniza, mas ainda hoje temos bastante contato, e vez ou outra a gente se fala. Engraçado é ela ainda falar pro marido dela que a gente foi namoradinho de infância hehehe. :-P

  3. Christiana Nóvoa says:

    Pinto,
    no caso foi o contrário, eu mudei pra São Paulo e nós trocamos de bem. :)
    .
    Rodrigo,
    será que todo mundo tem uma prima-gêmea? E acho que todo mundo deu uma pegada num primo em algum momento da infância (menos eu, que fique bem claro!) mas, se o marido da sua prima for maior que você, melhor negar até a morte e jurar que vocês eram como irmãos, gêmeos ainda por cima! Assim, qualquer pegação não pode ser considerada incesto, e sim um episódio de narcisismo…
    beijos.

  4. gugala says:

    Tenho saudades da convivência com meus primos. Tempos que não voltam.

  5. Christiana Nóvoa says:

    Guga,
    se os primos estão vivos, ainda é tempo.

  6. Pinto says:

    Eu se referi-se a mim mesmo e a senhora não entendeu a piada…

  7. Christiana Nóvoa says:

    Pinto querido, eu nunca vou ficar de mal com você! Aguarde minha telefonema em breve, para eu possa estar dirimindo quaisquer dúvidas nesse sentido. Mas quanto a piadas (sobretudo as de pinto), eu sou do tipo que precisa de legenda…
    Beijos.

  8. Cristhiana querida, que lindo ler essa sua história.
    Sertá que todos nós temos uma prima-gêmea?
    Sim, porque eu também tinha a minha, que ficou distante. Me lembro ainda, das nossas conversas planejando montar uma casinha e morarmos juntas, isso devíamos ter uns 6 ou 7 anos. Queríamos a extensão verdadeira das nossas brincadeiras de casinha. Também temos uma diferença pequena de idade, menos de dois meses.
    Me lembrei com saudades dela.
    Um beijo menina.
    Ah! “catei” seu link lá no Eduardo.
    Vou lá conhecer sua prima.

  9. Christiana Nóvoa says:

    Oi, Aninha,
    que legal que você veio (via Eduardo é um ótimo caminho), e que foi lá conhecer a Macaia.
    Beijos pra você e sua prima, aproveita e liga pra ela!

  10. Será que todos temos primas-gêmeas? A minha é só prima-irmã, mas chega perto.
    Como vocês fomos muito parecidos,
    Como vocês passamos por um monte de coisas da infância e adolescência juntos,
    Eu passava finais de semana com ela no sítio em Santa Cruz, ela passava algumas férias comigo em Cabo-Frio.
    Como vocês, sabe-se lá como, os continentes foram migrando ao sabor das marés e quando vimos não nos víamos fazia anos!
    Nosso reencontro foi menos alegre em circustâncias, mas igual no calor do abraço.
    Minha família é enorme, gigantesca, a árvore genealógica parece um baobá, mas tinha um mininúcleo familiar entre eu, minha prima e minha tia. A gente era como filhos para ela, que não teve filhos.
    Essa tia morreu de repente…
    Era tarde da noite quando minha prima ligou pela primeira vez para dizer que a nossa tia estava muito mal no hospital. Ela, a prima, chorava. Segurei para não chorar junto.
    Foi uma semana ao lado dela, ajudando a fazer de tudo para salvar nossa tia querida. Larguei trabalho e tudo o mais.
    Não deu… Na segunda vez que minha prima ligou foi no meio da madrugada e ela não tinha palavras, somente soluços. Tentei segurar, mas não deu. Levantei entre os mares que me embaçavam a visão e fomos, minha sempre presente esposa e eu, para dar apoio e ajudar a resolver as coisas.
    Foi um reencontro difícil, mas desde a primeira ligação, o primeiro abraço, o primeiro olhar trocado depois de anos sem nos vermos lá estava a minha prima-irmã e sei que ela sentiu o mesmo.
    Isso tem pouco mais de um ano. Prometemos para nós mesmos e um para o outro que nos veríamos mais… Não estamos cumprindo…

  11. Roney,
    adorei seu comentário (ou deveria dizer depoimento?).
    A julgar pelos comentários do Rodrigo e da Aninha, primas-gêmeas são um fenômeno universal, só mudam de endereço. Têm como características comuns a onipresença na infância, o afastamento na vida adulta e o carinho que permanece intacto, podendo ser resgatado e acionado a qualquer momento, especialmente nas horas difíceis.
    Beijos pra você, pra Claudia e pra sua prima. :)

Leave a Reply to Roney Belhassof