a moça posa pro moço
qual nem lhe fizesse mossa
o assombro
do observador atento
sentado ali do outro lado
rabiscando em alvoroço
intenso
seu repasto um guardanapo
o lápis rasgando o lenço
mil traços por cada canto
da mesa
como quem desse de ombros
a moça finge que almoça
lenta acaricia a louça
inglesa
disfarça faz vista grossa
assopra a colher de sopa
no prato intacta a poça
espessa
brinca com a coxa de frango
de sobremesa morango
o tempo suspenso em pausa
pro almoço
penso que essa noite enquanto
o olhar do moço repousa
(pálpebras em movimento)
na penumbra do seu quarto
uma mariposa pousa
no esboço
ao ver-se ali num espanto
de asas o olhar se apossa
esvoaça e roça o pescoço
da moça
imagem: Auguste Renoir, HEAD OF A WOMAN or WOMAN WITH A ROSE
[ arquivo em audio >>a poça ]
* Este poema me veio a partir de uma brincadeira com o Guga sobre as diferentes pronúncias da palavra poça, no Rio em São Paulo. Aqui, as duas formas são possíveis, à escolha do freguês. Como você prefere, pôça ou póça?
Helena! Esse poema é lindíssimo! Pena que a fama só venha tarde demais…Daqui a muito tempo, quando a gente já for só lembrança, eles vão desenterrar os nossos versos do pó e dizer: uia! Havia vida inteligente no planeta. Pouca, mas havia.
Prefiro semáphoro. ahahah
Prefiro “pôça”. O som aberto me lembra a maneira estranha de pronunciar “Roraima”, que sempre me faz rir quando ouço.
Quanto às maneiras diferentes de vocabulário entre Rio e SP, vou mandar por um e-mail algumas que li outro dia e achei legais, ok?
E eu moro numa rua movimentadíssima, no último andar, e mesmo assim, acredite, tenho recebido visitas inusitadas de besouros, borboletas-mariposas-e-afins, lagartixas…e gosto, quebra um pouquinho a coisa concreta.
Quanto ao poema: lindo! Lindo e sensual.
Dalva, do pó à poça, agradeço (e apósto que você fala póça, dona môça!)
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googala, farol ainda vai, meu, mas semáforo, vamos estar combinando que parece até desaforo…
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Olga, os insetos devem andar à procura de uma certa folhinha que eu prometi ;) Mas ela tá aqui, ó, olhando pra mim. Já já nossos ponteiros enfim se acertam.
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Beijos de mariposa.
Lá no interior era póça. Aqui ficou chique, virou pôça. É que a água de onde vem é diferente.
Abraço.
Lá no interior era póça. Aqui ficou chique, virou pôça. É que a água de onde vem é diferente.
Abraço.
O comentário em dobro é por conta da tanta chuva. E pôças.
Um poemito assim milhado por conta de uma poça só faz bem a quem lê.
Flertar desta maneira com as palavras, em São Paulo ou no Rio, renderá sempre uma boa surpresa!
Eu juro que tinha respondido à Clarice mas, com a atualização do blog, sumiu. Caiu na poça :)
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Felipe, a moça agradece!
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beijos