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Category Archive for 'Uncategorized'

corpus christi

  o sopro eterno desconhece o corpo morto , perdoo o outro pelo inferno que me aquece      

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o sílex

  descascou minha fruta pescou minha truta riscou minha gruta lascaux minha pedra bruta de quebra lustrou deu brilho , ladrilho filho da luta      

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o enigma

  ousar querer como um deus saber calar como um buda   o tolo finge que estuda   a esfinge muda  

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o morcego

  como um anjo cego pela claridade de outras alturas mais amenas eu me apego à gravidade a duras penas      

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a catedral

  aqui por exemplo o vento chora a noite finda o dia ainda demora a hora é linda o tempo pára e ora agora é o único templo onde deus mora      

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a estátua

  esculpo meu verso num tronco de mármore como quem ausculta a ordem oculta do universo quando árvore      

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o púbis

  falo dessa luz que risca o céu profundo a faísca maluca tonta que atravessa o fim do mundo em cada poro da tua nuca até a ponta do meu osso ilíaco como um meteoro cruza o zodíaco      

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o órion

  não se espante diante do silêncio estonteante das galáxias distantes   nada sempre será tão sério como era antes   o irrelevante mistério das estrelas errantes   o inútil cemitério de diamantes    

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os lusíadas

  a vida é frágil como um livro num naufrágio   do ser vivo nada sobra nada escapa   nem a capa nem o assunto   numa dobra do universo acaba o mundo   o verso é livre só a obra sobrevive    

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a sonata

  tento ser breve nem tudo deve ser dito no momento e muito menos escrito em voz alta nem tudo que dói é poesia deixa muda essa falta básica até soar um grito deixa solta essa música como o vento quando flauta , sendo o sopro agudo do tempo em sua sinfonia sem pauta      

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a força

  quando venta a borboleta sustenta as imensas asas azuis como um atlas que aguenta o planeta sobre as omoplatas      

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o espinho

  aqui venho achar na dor o que não tenho   o desenho do teu pelo no meu tato   eis o pacto de amor entre a pele e o cacto      

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a plateia

  além de mim só uma mosca veio   assistir ao formidável fim da tarde fosca de um dia feio    

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o oco

  retiro do mundo o corpo recolho meu olho escuro na fresta no meio da testa um furo fundo como um tiro      

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o colóquio

  o espelho partido em mil partes em todas duvido se existo cogito ergo … ? eu isto nego revido verdades seu nome é ego descartes é apelido      

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o boeing

  há muito já passa da hora a demora já dura uma vida a procura já cansa a esperança é uma nave perdida a resposta é uma chave sem porta a saída é uma rota de descida em queda livre … do que se ama só sobrevive ao fim de tudo um celular que chama […]

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penélope

  desfaço um plano esgarço um pano laço a laço , disfarço e passo ano a ano sol a sós , desconto um conto me engano e pronto , não dou ponto sem nós    

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o ópio

  só a flor exata me sacia o olfato e a falta desse cheiro é tão macia como um travesseiro que me mata por asfixia      

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o poço

  não posso dar nome ao troço que entorna  e não míngua não há espaço pra escrita entre a fome e a saliva que pinga não cabe um traço entre o que sabe a carne viva e a forma estrita da língua        

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a réstia

  a lua procura uma fresta estreita na janela   e ali se deita amarela como a noite escura de quem vela            

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a palavra

  manifesto mudo : se eu pudesse dizer tudo seria um gesto            

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a funcionária

  não sou poeta bissexta bato ponto boto pingo nos is da poesia todo santo dia de sábado a sexta feira feriado no domingo não me comprometo viro pro lado inspiro e tiro um soneto      

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a aurora

  o dia nasce tão lindo e quase ninguém vê tudo dormindo em breu só eu desperto e você nós a só(i)s ligados no espaço aberto por um segundo e depois como se os dois lados do mundo fossem perto      

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o aqui

  ser é escasso , o tempo vence o espaço pelo cansaço      

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o hieróglifo

  não sou eu que escolho entrar feito louca pelos seus poros ; eu oro por sua boca eu vejo pelo seu olho de hórus      

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o amor

    todo jogo é inócuo sobre a oca esfera , todo fogo se apaga nenhum som se propaga só o verbo reverbera no vácuo      

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a obscurecência

  essa obscura essência que te impele ao erro é a ausência impura do meu cheiro em tua pele      

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a ave

  antes que esse assombro apague uma garça ou que o sol soçobre sob o céu de cobre hei de ter a graça de uma asa no ombro mesmo que me sobre só uma rima pobre    

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a ama

  só a inocência ensina só o tempo acriança ; uma anciã que dança me nina      

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o relâmpago

  desfio uma nuvem de fios de espanto pra não dormir cedo não morrer de medo de frio e de pranto enquanto o sol não vem    

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a pintura

  triste baía sua beleza sobrepuja a água espessa que o homem suja   ó guanabara sempre linda outrora clara uma aquarela   agora escura ao sol fulgura ainda mais bela   óleo sobre tela      

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a confissão

  senhor eu pequei como pude ? paguei o teu mal com o pecado mortal da virtude .    

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o açougue

  a língua exposta esfria um beijo em postas , sobre o chão de azulejo a carne pouca , eu coração fora da boca latejo        

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o palheiro

    a escolha é uma agulha preta na areia amarelo-palha de uma ampulheta quebrada : o tempo se espalha e nada há que perdure fora do ponto cego onde esse prego do agora nos pendure .      

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o desabafo de safo

  … pois em verdade eu te digo digas tu o que disseres as palavras, meu amigo são mulheres      

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o tropel

  cavo intervalos em tempos novos como cavalos pisando em ovos    

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a paz

  resolução de réveillon : se não tá bom, rebelião! no mais, shalom          

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a sobra

    do natal só se espera a velha alegria ; comer a ceia fria da véspera        

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o acidente

  tesoura corta um pedaço do meu dedo , do aço não tenho medo sei que arde tarde ou cedo me firo mas prefiro o ardor da ferida ao desamor , se há sangue há vida isso é o que importa só não tem dor a carne morta      

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a migração

se eu nem sei onde fica o longe até que acabe   não olhar pra trás não basta   mais eu nado mais o horizonte se afasta   converso com o vento que em verso responde um lamento lento   confesso não entendo palavra   maré brava me cansa dessa dança embora linda   um […]

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o escafandro

  nenhum porto me aparta desse impróprio recheio esse furo , nenhum ópio me conforta , no escuro tateio esmurro , o outro é um muro sem porta , esse corpo ao meio não me comporta        

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o poente

    o sol sabe se pôr como um rei sem atraso …   só sei que nada sei do amor , deixo ao ocaso      

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o milagre

  … espero um sinal   pelo sim pelo now              

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a monção

  nuvens vermelhas escorrem prantos encharcam panos entornam pântanos   cobrem folhas como mantos escorregam pelas telhas saltam beiras correm canos   córregos entoam cânticos nos cantos cheios de chuva e seivas de ervas e sândalo   lótus derramam cântaros de águas de cheiro no meu canteiro de flor de cânhamo          

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o genuíno

  “a justiça é cega vale quantos pega” grita a multidão e taca pedra , tem dia que dói na fé e na razão , sei que tudo é como sói mas não              

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o cartésio

  principio logo penso precipício imenso   ¨   cogito e só venço o tempo vazio pelo silêncio      

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a graça

  ser é um mistério lindo e findo e tão sério que só rindo      

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a deusa

  afrodite é afro acredite tem os olhos da cor do céu quando negro preto leite em seus seios sulcos sábios e os lábios cheios de mel , um perfil nada grego    

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a avoada

  não sou marilyn nem nada mas não vim ao mundo à toa , me visto de madrugada com duas gotas de cheiro   e se a vida é um bueiro a minha saia avoa  

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a partida

  e levo comigo meu lar muitas casas   é leve meu abrigo um par de asas    

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o perene

  há um som de fundo mudo e surdo ao absurdo de estando tão distante estanque estar intruso em cada instante e sendo esquivo estranho escuso vencer os mares  morros  murros mortes muros   o nó desfeito não desata o ponto escuro o rio passa sobre o leito o amor contudo   o mundo muda o tempo […]

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a boneca

  cá estou eu louça e criança entre seus medos e outros vidros   fosca lembrança no museu dos brinquedos esquecidos  

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o travesseiro

  deixo dormir um poema inconcluso dispo-me de penas que não uso deito-me apenas na fronha fresca a alfazema descanso com afinco no manso abrigo onde um ganso longínquo sonha comigo      

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o bálsamo

  pingo cor lírio na dor branca dos meus olhos   pra ser bem franca eu uso ósculos  

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fiat lux

  às cegas um súbito espasmo faz cócegas no espaço sólido   espero um pássaro de voo áspero como um fósforo        

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a malsã

a musa é uma peça rara moça doida toda dada a tonta me mete em cada me deixa de cara apronta se desnuda me afronta me acusa se declara depois eu que pague a conta

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o elo

  tivera o tempo um avesso onde o fim era o começo eu entraria de costas sem respostas nem perguntas por entre nossas mãos juntas   ,  

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lição de navegação

  embarco invento um dia lindo a barca vem e você vindo a barlavento quero o bem que o tempo traz deixo pra trás solto dispenso a sotavento o sofrimento como um lenço    

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o telescópio

  com bússola obsoleta e astrolábio abro ao céu o grande lábio boca preta   minha luneta adivinha o meteoro que cometa galáxias dentro da minha …    

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a lâmina

  há luz lá fora noite não fosse a hora foi-se e nunca mais veio ( a lua adunca como uma foice corta o agora ao meio              

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a fé

  sou aquela que passa sorrindo como quem espera uma graça   agindo como se soubera que bendita me queres entre as mulheres   nesse dia lindo entoo preces como se dissesses que estás vindo    

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o caderno

  cada escolha esconde um lado da folha até onde vira ; me atrevo engasgo , o universo expira sem mapa . . .   ser vivo é um rasgo escrevo no verso da capa    

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perséfone

  calor zera nua em pelo hiberno   sob o gelo adormece a flor da espera   todo inferno aquece uma primavera    

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a luz

  a insolitude me arrebata   o espaço me dilata o ataúde pelo avesso   eis que nasço   o que mata é o começo      

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o polvo

  nem os oito trigramas nem oitenta oráculos suspendem que eu sinta os tentáculos que me prendem como ventosas aos três gramas de tinta em que gozas      

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a nave

  quem sabe em marte eu faça parte ao menos   quem sabe em vênus eu seja   quem sabe veja ao longe a terra e pense   essa guerra não me pertence    

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o boto

  , no fundo nada há que esconda : em sonho o seu mar me ronda ; meu sonar ainda sonda onde anda a sua onda    

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o origami

  a dor me dobra com afinco cego um vinco que me obra eu trinco quebro abro brinco erro em tudo eu sou o berro agudo de um ornitorrinco mudo              

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a vigilante

  minha vigília é trocada viro noite sem remorso almoço de madrugada   canto danço queimo lenha que mantenha as estrelas despertas (mesmo sem vê-las)   nas horas desertas apanho e espalho poesia   mas é de dia que eu mais trabalho   no turno diurno eu durmo sem descanso   sonhos estranhos bonitos pelos insones aflitos   […]

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o violino

  do que falo a melhor parte é o intervalo   o vazio é uma arte sem bordas   não há som no aço o que vibra é o espaço entre as cordas   ,   se a palavra demora o silêncio é a causa   a música mora na pausa      

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o mandacaru

  cactos têm flor de mil pétalas finas como fitas   e espinhos escuros retos duros e exatos   para espetá-las tão bonitas como furos   o impacto da dor nas retinas dos insetos        

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a poeta

  poeta é quem poetiza.   fazer gênero, não precisa.      

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a lição

  o bem me bela o querer me querela o amar me amarela   a morte me mortadela a metrópole me atropela o porto me portela   o estro me estrela o mar me mela o rei me rela   o ser me sela o teu me tela o eu me ela       […]

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o instantâneo

  , o todo por exemplo do lodo ao lótus contemplo   meu templo é amplo refúgio de samurai relógio de sóis remotos   (e os outros e você vendo mortos na tv)   meu tempo a sós não se vê não sai em fotos      

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o tao

  à tardinha o mar é zen um refresco de groselha um barquinho e mais ninguém   segue em paz meu coração meu caminho é bossa-velha   um violão bem baixinho um chão de areia um banquinho um ancinho um ancião    

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olho dágua

  água me turva a vidraça e já nada vejo   e não me protejo dessa chuva que nunca passa   quando choro não gotejo escorro esguicho   quando amo incho e me esparramo sem socorro   não sou dura na queda qualquer pedra me perfura   o chão me quebra mas de secura é que eu […]

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o manacá

  de uma queda fui ao chão   coração aberto um rombo e essa dor que não estanca e ainda me toma   ;   o mesmo tombo que fere me oferece uma flor roxa   :   um hematoma à flor da pele branca da coxa              

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o tritão

  viria a nado nadando costas vestindo nada   dar com os costados à orla da ilha à enseada   onde eu prostrada em pedras de joelhos   as mãos em concha postas em ostras como pétalas   pesco as escamas seu corpo em postas em chamas   pisco nas pregas das pálpebras   no […]

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o dragão

  uma indiferença tão sincera fere dilacera o coração dessa quimera   uma fera imensa cai ao chão a cada vez que você não me pensa        

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o renitente

  termino e recomeço o penúltimo ensaio da inúmera carta ; assino e endereço ao raio que o parta      

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a maresia

  a baía é um ventre pra um barco que entre onde o vento alisa   o poente é uma brasa que se esfuma na bruma imprecisa   ilha dos amores traga o sol de alhures na salgada brisa   que um doce perfume de flor e estrume molha e fertiliza      

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o poleiro

  na praça crianças escalam os galhos de árvores idosas   lenhosas mansões de copas frondosas troncos centenários   lar de gerações de abelhas canários   e velhas lembranças de outrora pirralhos      

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a roda

  não há via certa toda reta torce o rabo   nada permanece tudo desce e sobe e eu não paro   cá onde me acabo outra orbe me completa   como o par de aros dessa bicicleta      

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uma borboleta para chuang tzu

  vista de perto não estou bem certa se existo   vista desperta não sei ao certo quem sonha   visto uma fronha no meu recheio disperso   um olho risonho me avista do meio do verso      

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o relicário

  faço listas de afazeres deixo pistas enganosas o ensejo de uma prosa maus escritos de meu punho desdizeres desconexos interditos   mais protejo meus rascunhos que meu sexo            

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o plâncton

  nada procuro nágua flutuo ilha   alga que brilha na superfície do escuro fluo   supérflua maravilha flor de flúor              

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a dama

  duas damas na janela uma é enorme outra é meia ostra e metade sereia (ouço a voz dela)   uma é mar outra é areia uma só dorme outra vela uma se inflama outra gela o sangue na veia   pois eu sou essa e aquela a moça bela e a feia as faces […]

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o telhado

  o céu é bonito mas não acaba nas linhas da aba do meu chapéu   o infinito desaba nas telhas sobre as minhas sobrancelhas      

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o náufrago

  mensagem numa garrafa: quem me dera um saca-rolha que liberte a minha folha deste vidro que me abafa   quem me dera a maresia já houvera corroído a carta do mar perdido onde inda exista a poesia   cada vista é uma janela e o filme do mar revela que o sol ilha mais […]

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o santo

  pelos dedos teus deus se fez carícia   e se o amor não existe que seja um delírio triste   o teu medo em riste em plena delícia e martírio      

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